Economize Água – dicas simples – Instituto Akatu

  1. EVITE BANHOS LONGOS
    Se metade da população de uma cidade de 100 mil habitantes reduzir o tempo do banho diário de ducha de 15 para 5 minutos, a água economizada ao longo de um ano seria suficiente para abastecer todas as necessidades de água de todos os habitantes dessa cidade por mais de 7 meses e meio. Com isso, não seria necessário o governo investir em mais estações de tratamento de água. Dica Consciente: Reduza o seu tempo de banho e ajude a economizar dinheiro público que seria gasto no tratamento e distribuição de água, e torna possível investir, por exemplo, em educação, tão necessária para a população brasileira.
  2. ESCOVE OS DENTES DE TORNEIRA FECHADA
    Se as 1,5 milhões de pessoas de Recife resolvesse passar a escovar os dentes 3 vezes por dia com a torneira fechada, a água economizada em apenas dois dias seria suficiente para abastecer por 1 dia todas as necessidades de água de quase todos os 397 mil habitantes de Florianópolis. Dica Consciente: Converse com amigos e familiares para sensibilizá-los para essa mudança tão simples nos hábitos de consumo: manter a torneira fechada na hora de escovar os dentes.

  3. APOSENTE A MANGUEIRA NA HORA DE LAVAR A CALÇADA
    Uma máquina de lavar roupas, com capacidade para 5 quilos, usa 135 litros de água por lavagem. Se uma família usar a máquina de lavar duas vezes por semana, gastará 270 litros de água. Parte desse total, ao sair do enxágüe, pode ser usada em outros pontos da casa que não precisam de água totalmente limpa.
    Dica consciente: Ao invés de usar a mangueira, reutilize a água que sai do enxágüe da máquina de lavar para limpar a calçada de sua casa. Se você fizer isso uma vez por semana, economizará mais de 14 mil litros de água por ano, o equivalente a um e meio caminhão pipa cheia de água.

  4. FIQUE ATENTO E CONSERTE VAZAMENTOS

Um buraco de 2 mm em um cano de uma única casa desperdiça 3.200 litros de água por dia. Se 3,5 milhões de domicílios tiverem um vazamento como esse, em 14 horas desperdiçariam água suficiente para encher os 6,5 bilhões de litros da Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro.
Dica Consciente: Se, de repente, a conta da água aumentar consideravelmente sem nenhum motivo aparente, procure um profissional para verificar se há vazamentos em sua casa. Assim, você contribui para haver mais água disponível. É bom para o seu bolso, é bom para o planeta.

Desigualdade no Brasil

Na última sexta-feira, o jornal O Globo publicou entrevista de Mariana Sanches com o economista francês Thomas Piketty, autor do best-seller “O Capital no século XXI”. Destacamos alguns pontos da entrevista:

“Seria um erro o Brasil imaginar que já fez o bastante para diminuir o nível de desigualdade e que pode desacelerar o processo agora. Iniciativas como o Bolsa Família e a política de valorização do mínimo são parte da solução para a desigualdade. O salário mínimo teve um grande impacto na redução da desigualdade nos últimos 15 anos, talvez tenha sido a principal política para aumentar a renda de 50% da população mais pobre, e isso deveria continuar sendo uma política importante. É importante manter os programas sociais, até porque a educação pública no Brasil não é boa o bastante.

É um erro acreditar que para crescer deveríamos ignorar a desigualdade. No caso do Brasil, onde a desigualdade é extremamente alta…. é possível diminuir a desigualdade e aumentar o crescimento econômico ao mesmo tempo… Quando a desigualdade é demais, isso atrapalha o crescimento.

….

No Brasil, a proporção da renda que vai para os 10% mais ricos atinge mais de 50% do total produzido. É o percentual mais alto do mundo. Isso quer dizer que os 50% mais pobres acabam recebendo menos de 15% da renda. Isso limita a possibilidade de a metade de baixo da pirâmide social investir em educação e qualificação.

Os pobres no Brasil estão longe de consumir muito. É difícil fazer os ricos pagarem mais impostos porque eles têm mais influência política. Mas os ricos no Brasil não pagam impostos demais. A chanceler da Alemanha, Angela Markel, que não é uma esquerdista, está muito longe de propor que os alemães paguem apenas 4% de impostos sobre as heranças, como é no Brasil. É uma questão de equilíbrio: o que precisamos é mais transparência sobre quanto os ricos e os pobres ganham, e a evolução de renda e riqueza. Precisamos tornar esse debate mais concreto, com dados, e menos ideológico.”

Morreu Manoel de Barros – 13/nov/2014 – nossa homenagem

Uma didática da invenção
Manoel de Barros

1.
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:

a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.

2.
Desinventar objetos. O pente, por exemplo.
Dar ao pente funções de não pentear. Até que
ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou
uma gravanha.

Usar algumas palavras que ainda não tenham
idioma.

3.
Repetir repetir – até ficar diferente.
Repetir é um dom do estilo.

4.
No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para
dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa.
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras.

5.
Formigas carregadeiras entram em casa de bunda.

6.
As coisas que não têm nome são mais pronunciadas
por crianças.

7.
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz
de fazer nascimentos –
O verbo tem que pegar delírio.

8.
Um girassol se apropriou de Deus: foi em
Van Gogh.

9.
Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz .

Hoje eu desenho o cheiro das árvores.

10.
Não tem altura o silêncio das pedras.

11.
Adoecer de nós a Natureza:
– Botar aflição nas pedras
(Como fez Rodin).

12.
Pegar no espaço contigüidades verbais é o
mesmo que pegar mosca no hospício para dar
banho nelas.
Essa é uma prática sem dor.
É como estar amanhecido a pássaros.

Qualquer defeito vegetal de um pássaro pode
modificar os seus gorjeios.

13.
As coisas não querem mais ser vistas por
pessoas razoáveis:
Elas desejam ser olhadas de azul –
Que nem uma criança que você olha de ave.

14.
Poesia é voar fora da asa.

15.
Aos blocos semânticos dar equilíbrio. Onde o
abstrato entre, amarre com arame. Ao lado de
um primal deixe um termo erudito. Aplique na
aridez intumescências. Encoste um cago ao
sublime. E no solene um pênis sujo.

16.
Entra um chamejamento de luxúria em mim:
Ela há de se deitar sobre meu corpo em toda
a espessura de sua boca!
Agora estou varado de entremências.
(Sou pervertido pelas castidades? Santificado
pelas imundícias?)

Há certas frases que se iluminam pelo opaco.

17.
Em casa de caramujo até o sol encarde.

18.
As coisas da terra lhe davam gala.
Se batesse um azul no horizonte seu olho
entoasse.
Todos lhe ensinavam para inútil
Aves faziam bosta nos seus cabelos.

19.
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma
volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama
enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

20.
Lembro um menino repetindo as tardes naquele
quintal.

21.
Ocupo muito de mim com o meu desconhecer.
Sou um sujeito letrado em dicionários.
Não tenho que 100 palavras.
Pelo menos uma vez por dia me vou no Morais
ou no Viterbo –
A fim de consertar a minha ignorãça,
mas só acrescenta.
Despesas para minha erudição tiro nos almanaques:
– Ser ou não ser, eis a questão.
Ou na porta dos cemitérios:
– Lembra que és pó e que ao pó tu voltarás.
Ou no verso das folhinhas:
– Conhece-te a ti mesmo.
Ou na boca do povinho:
– Coisa que não acaba no mundo é gente besta
e pau seco.
Etc.
Etc.
Etc.

Maior que o infinito é a encomenda.

Fonte: Moriconi, I. 2001. Os cem melhores poemas brasileiros do século. RJ, Objetiva. Poema originalmente publicado em 1993.