Balmaceda de Chile – Pablo Neruda

Diálogos Essenciais

A decisão do presidente José Manuel Balmaceda de cobrar tributos sobre o salitre chileno exportado, controlado por capitais britânicos, desencadeou a guerra civil chilena de 1891, que derrubou Balmaceda.

Os aliados internos dos interesses ingleses se associaram a forças militares para destituir o presidente. Balmaceda suicidou-se em 19 de setembro de 1891.

História tristemente comum em nossa América Latina. Hoje a entrega se faz de forma mais sutil: compra-se eleições, muda-se as leis e entrega-se o pré-sal. Se ficar muito difícil, plantam notícias e crises. Derrubam presidentes com golpes paraguaios.

A seguir, leia o poema do Pablo Neruda e, logo a seguir, um texto da Fundación Balmaceda.

Não se trata de endosso a tudo o que Balmaceda representou. As histórias a respeito desta personagem da história são confusas: não fosse a história oficial a consolidação da versão contada pelos vencedores. Por isso, publicamos a versão da Fundación Balmaceda. A bem…

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Crueldade fiscal, por David Deccache

Todo brasileiro e toda brasileira que quiser discutir a crise no Rio precisa, antes de mais nada, fazer uma lição de casa: ler cuidadosamente este brilhante artigo de David Deccache.

Com conhecimento de dados, pesquisa e opiniões calçadas em sólidas informações, ele desmonta meia dúzia de lorotas difundidas nos últimos dias.
RIO DE JANEIRO: CRISE FISCAL, SURTO DE VIOLÊNCIA OU PROJETO ESTRUTURAL?” (preâmbulo do Maringoni Gilberto)

“A partir de 2015 foi imposto à sociedade brasileira um cruel programa de austeridade fiscal, ou seja, um projeto de geração de desemprego. A austeridade, iniciada ainda no segundo governo Dilma, foi cristalizada e cruelmente aprofundada no governo Temer através da Emenda Constitucional nº 95 – o teto dos gastos, mais conhecido como “a PEC do fim do mundo”. A medida congela os gastos públicos por um período de 20 anos. Para termos uma breve ideia do que isso implicará na prática, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a saúde pode perder até R$ 743 bilhões neste período. Já a Educação pode ter perdas no Orçamento de até R$ 25,5 bilhões por ano, segundo estudo técnico da Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados.

A argumentação do governo federal para a imposição do programa de austeridade fiscal se baseou no diagnóstico de que a dívida pública estava alcançando níveis supostamente insustentáveis, sendo assim, um forte corte nos gastos públicos seria necessário para controlar a evolução da dívida pública em relação ao PIB. Curioso é que em dezembro de 2014, data que pode ser considerada o marco da virada à austeridade, a dívida líquida em relação ao PIB era de 32,59%, já em dezembro de 2017, após três anos de um forte ajuste fiscal (que recaiu, principalmente, sobre as despesas discricionárias) a dívida líquida chegou ao patamar de 52,6% do PIB. Esse dado mostra, claramente, que a imposição do programa de austeridade, apesar da retórica oficial, nada tinha a ver com uma suposta tentativa de controle da dívida pública. Mas se os programas de austeridade fiscal não funcionam como mecanismos de controle da dívida pública, para que servem? Dentre as motivações principais, destaco três:

1) Elevação brutal do desemprego: uma economia capitalista operando com alto nível de emprego de maneira permanente, faz com que a demissão deixe de desempenhar o seu papel enquanto “medida disciplinar”. A manutenção prolongada de baixos índices de desemprego faz com a posição social do patrão seja prejudicada, e a autoconfiança e consciência de classe da classe trabalhadora cresça. As greves por aumentos salariais e melhorias nas condições de trabalho criam tensão política. É verdade que os lucros seriam mais elevados sob um regime de pleno emprego do que são, em média, nos termos do livre mercado, e até mesmo o aumento dos salários decorrente do maior poder de barganha dos trabalhadores é menos propenso a reduzir os lucros do que para aumentar preços, e, portanto, afeta negativamente apenas os interesses rentistas. Mas a “disciplina nas fábricas” e a “estabilidade política” são mais apreciadas do que os lucros pelos líderes empresariais. Seu instinto de classe lhes diz que um pleno emprego duradouro é inaceitável a partir do seu ponto de vista, e que o desemprego é uma parte integrante do sistema capitalista normal” (Kalecki, Aspectos Políticos do Pleno Emprego). Percebam que, nesse ponto, a reforma trabalhista potencializa os efeitos da austeridade e do desemprego em termos de “disciplina” e alteração na correlação de forças capital-trabalho. É um pacote completo.

2) Privatizações. O intenso programa de cortes de gastos que recai, principalmente, sobre as despesas discricionárias, visa a total desestruturação da capacidade do Estado em financiar o seu funcionamento básico, gerando-se uma insustentabilidade e precarização que permite o avanço dos argumentos em prol de amplos programas de privatizações, onde se abre, no meio de uma enorme “crise”, oportunidades de ganhos extraordinários para o setor privado. Neste aspecto, trata-se de um projeto de mudança estrutural neoliberal do Estado, uma crise auto imposta.

3) Reforma da previdência. Forçar uma ampla reforma da previdência, ou seja, avançar no projeto de destruição do nosso embrionário estado de bem-estar social compactuado, democraticamente, através da Constituição cidadã de 1988. O mecanismo para se alcançar esse objetivo se transmite a partir da retórica de que o Estado só irá recuperar a capacidade de gastos caso seja realizada uma ampla reforma da previdência, ou seja, joga-se com a chantagem de que o duro arrocho fiscal persistirá até que a sociedade aceite a perda de um direito conquistado a duras penas: o direito de se aposentar.

Se as motivações para a imposição do programa de austeridade fiscal, apontadas acima, estão corretas, podemos concluir que o governo Temer alcançou boa parte dos resultados pretendidos. Quanto ao desemprego, o objetivo número um, a meta foi plenamente batida. O número de desempregados mais do que dobrou no curto período de três anos. Em relação aos projetos de privatizações, Temer espera avançar na privatização da Eletrobras, Casa da Moeda e Lotex, além de leilões de aeroportos, ferrovias, rodovias e portos. O Pacote do governo Temer prevê 75 projetos de privatizações para 2018. Por fim, como todos sabem, a pauta da reforma da previdência é uma das grandes prioridades do governo: centenas de milhões de Reais estão sendo gastos com publicidade para convencer a população a apoiar a medida, porém, até agora, há bons indícios que o governo não está obtendo êxito nesse quesito.

O leitor que acompanhou o texto até aqui, muito provavelmente, deve estar se perguntando: e o que isso tudo tem a ver com a crise no Estado do Rio de Janeiro? Explicamos: é impossível uma compreensão minimamente satisfatória acerca da crise no Estado do Rio de Janeiro sem levarmos em conta o projeto de austeridade imposto a todo país pelo Governo Federal, especialmente, pelo ilegítimo Governo Temer.

Em dezembro de 2014, início da virada à austeridade, a taxa de desemprego no Estado do Rio de Janeiro, era de 5,6 % e, com menos de três anos de funcionamento do programa de austeridade fiscal, chegou à uma assustadora taxa de 15,6% de desocupação da população economicamente ativa (junho de 2017). Foi um verdadeiro choque de desemprego, muito semelhante, apesar de mais intenso, ao que ocorreu a nível nacional.

E qual é o impacto social, político e psicológico de um choque de desemprego tão intenso? Uma boa pista para respondermos à questão, está na teoria desenvolvida por Naomi Klein, uma relevante pesquisadora que se debruçou sobre o impacto dos mais diversos tipos de choques, desde guerras até desastres naturais. A doutrina do choque, segundo Klein, é uma filosofia de poder que tem como alicerce a hipótese de que a melhor maneira para o capital impor as ideias radicais do livre-mercado é no período subsequente ao de um grande choque. Essas crises, auto impostas através de choques brutais, desorientam e abrandam sociedades inteiras, a partir disso, abrem-se janelas para que seja introduzida a ‘terapia do choque econômico’, que seria uma espécie de cirurgia social radical. Não se trata de reformas pontuais, mas sim de uma brusca mudança de caráter estrutural.

A crise do Estado do Rio de Janeiro é um sintomático caso de “doutrina do choque”. Tudo começou com um grande choque de desemprego, que explode no Estado a partir de 2015 a reboque do projeto de austeridade do Governo Federal. A explosão do desemprego, no Rio de Janeiro, foi ainda mais intensa do que a ocorrida no restante do país por peculiaridades da economia fluminense.
Por um lado, a crise tem forte relação com a brusca queda no preço do petróleo, já que a economia fluminense possui grande dependência dos recursos da exploração dessa commodity. Se em junho de 2014 o barril de petróleo era vendido por US$ 115 dólares, pouco tempo depois, no fim de 2015, era negociado por apenas US$ 37 dólares. Isso fez a arrecadação tombar junto com os preços das commodities que entram em trajetória de queda a partir de meados de 2014.
Ainda do lado da arrecadação, as grandes isenções fiscais sem contrapartidas, concedidas pelos últimos governos do PMDB, deterioram ainda mais as contas públicas do Estado. Por outro lado, a operação lava jato gerou forte instabilidade nas indústrias extrativa, naval e na construção civil. Essas peculiaridades reforçaram e intensificaram o choque imposto pelo Governo Federal no Estado do Rio de Janeiro. Os cariocas foram duplamente penalizados. O choque foi intensificado. A população, como o previsto por Klein, reagiu à situação de forma apática. Desorientada.

Acontece que o Governo Temer, forte seguidor da doutrina do choque, tinha mais uma carta na manga, mais um choque preparado para ser posto em prática. Temer e seus aliados do PMDB carioca, aproveitaram-se da apatia e desorientação social gerada pela explosão de desemprego e, em complô com a grande mídia, construíram a narrativa de que houve um surto de violência nos últimos meses no Rio, especialmente durante o carnaval. Surto esse desmentido, de maneira enfática, pelos dados oficiais: a presidente do Instituto de Segurança do Rio (ISP), Joana Monteiro, afirmou que os dados de segurança do Rio de Janeiro divulgados pelo órgão mostram que não houve uma onda de violência atípica neste carnaval. Além disso, dezembro de 2017, ainda segundo dados do ISP, mostrou evolução positiva com relação ao mesmo mês de 2016 em um amplo conjunto de variáveis relacionadas à segurança pública:

(i) A letalidade violenta teve queda de 10,9% em dezembro de 2017 com relação ao mesmo mês de 2016;

(ii) Homicídio doloso – redução de 5,2% em relação a dezembro de 2016

(iii) Homicídio decorrente de oposição à intervenção policial – Redução de 23,1% em relação a dezembro de 2016

(iv) Roubo de carga – Redução de 13,2% em relação a dezembro de 2016

(v) Roubo a estabelecimento comercial – Redução de 9,2% em relação a dezembro de 2016

Percebe-se, claramente, que apesar do Estado do Rio de Janeiro possuir graves e conhecidos problemas na área da segurança pública, não houve, nos últimos meses, uma evolução negativa nos dados de violência urbana, como alegado pelo Governo Federal. O que houve, de fato, foi uma espécie de complô entre o Governo Temer e a grande mídia para vender a sensação de um surto de criminalidade. O conjunto da sociedade, já extremamente apático, atordoado e desorientado pelo surto de desemprego, comprou barato o diagnóstico fabricado pela grande mídia e governo. Aceito o diagnóstico do surto, o governo vendeu a falsa solução em forma de choque: a intervenção federal/militar. Um duplo choque.

Dado o duplo choque – desemprego e intervenção federal – resta explicarmos o porquê dessa imposição. O choque de desemprego, como já visto, tem como objetivo principal a alteração da correlação de forças capital-trabalho, ou seja, reduz o poder de barganha dos trabalhadores derrubando o custo do trabalho – principalmente salários. Já a intervenção federal, um caso mais específico de choque, deve ser entendida de acordo a partir de uma visão conjuntural mais específica. Como dito anteriormente, um dos projetos de reforma estrutural neoliberal do governo Temer era a reforma da previdência. Reforma que, para desgosto do mercado, naufragou. Um governo com baixíssima popularidade e que teve uma de suas principais bandeiras – a destruição da previdência – queimada, precisava, desesperadamente de uma carta na manga. Essa carta foi a intervenção federal.

A intervenção ofuscou a derrota do governo na reforma da previdência e criou uma espécie de alienação coletiva em relação à grave crise econômica (desemprego, precarização do trabalho e reduções salariais) em curso. Cria-se um falso diagnóstico, vende-se uma falsa solução, ofusca-se os reais problemas e aprofunda-se o processo de alienação coletiva de uma sociedade chocada com o desemprego e com o suposto surto de violência. A intervenção é um bode na sala. Uma população distraída e atordoada não será capaz de resistir aos amplos projetos de desmonte do Estado que entrarão em curso nas próximas semanas, principalmente, as privatizações.

Trata-se de um projeto. O máximo de repressão. O mínimo de Estado.”

Compartilhado por João. Lopes.

Pedido para evitar Comissão da Verdade é descabido, por Kennedy Alencar

21-02-2018, 8h47
Villas Bôas mostra despreparo para ação no Rio
Pedido para evitar Comissão da Verdade é descabido

KENNEDY ALENCAR
LONDRES

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, fez um pedido descabido numa democracia. Ele disse que seria preciso uma “garantia para agir sem o risco de surgir uma nova comissão da verdade”.

Se a intervenção não desrespeitar a lei, não desrespeitar os direitos e garantias individuais, não há razão para preocupação. É quase um pedido para agir à margem da lei.

É surpreendente essa frase, porque o general Villas Bôas é um dos quadros mais progressistas e legalistas das Forças Armadas. Provavelmente, é um dos mais preparados militares do país.

Surpreende que ele dê eco a essa visão retrógrada de boa parte da cúpula militar em relação à Comissão da Verdade. Essa comissão deveria ter sido vista pelos militares como uma oportunidade para reconciliação com erros do passado, uma reconciliação com a sociedade civil que sofreu com a clava que perseguiu, torturou e matou em 1964.

Esse pedido do general Villas Bôas mostra uma incompreensão da democracia que suscita uma indagação a respeito do preparo para essa missão de intervenção no Rio. É uma afirmação que sinaliza despreparo para a tarefa.

Vontades particulares x Vontade geral, por Eduardo Migowski

Por Eduardo Migowski

“Quer saber pq imposto não é roubo? Liga a televisão agora.

Nesse momento estou em casa. Não consegui me deslocar para o trabalho em função da situação do Rio de Janeiro. Minha televisão está ligada e a todo o momento aparecem blindados, helicópteros e homens armados. A televisão informa que está acontecendo um cerco à favela da Rocinha, maior do Brasil. É provável que aconteça um banho de sangue nas próximas horas.

Boa parte da população aplaude e pede intervenção militar. Como chegamos a essa situação limite? Claro que o problema é complexo e existem centenas de explicações igualmente válidas. Mas eu queria pensar um pouco sobre a natureza dos regimes democráticos.

No longínquo século XVIII, os filósofos iluministas definiam a democracia como o sistema de governo em que o cidadão é ao mesmo tempo súdito e soberano. Ele é soberano porque, ao ser ouvido, participa dos destinos coletivos. Ele é parte naquilo que Rousseau chamou de Vontade geral. Vontade geral não deve ser entendida como a soma das vontades particulares, pois ela deve necessariamente guiar-se pelo interesse comum. É dessa intrincada equação entre a soma das vontades particulares e o interesse comum que nasce a Vontade geral.

Portanto, ao contrário do que pensam os liberais, na política a soma das partes não forma o todo. A soma das vontades individuais é apenas a expressão de interesses conflitantes, um jogo de forças. No fim, prevalece quem tem mais poder. É pura e simples dominação. Foucault, invertendo a famosa frase de Clausewitz, disse que a política é a guerra por outros meios. Eu diria não exatamente a política, mas a democracia que é a guerra por outros meios. Pois, como lembrou Marilena Chauí, o sistema democrático é o único que aceita os conflitos como legítimos e, desse modo, os mantém dentro dos limites institucionais.
Porém, é preciso estar atento. A Vontade geral choca-se, a todo o momento, com as vontades particulares e corre-se o risco que os interesses acabem por prevalecer.

Em 2011, o mesmo traficante que agora leva o terror à favela da Rocinha, Nem, disse as seguintes palavras numa entrevista: “UPP não adianta se for só ocupação policial. Tem de botar ginásios de esporte, escolas, dar oportunidade. Como pode Cuba ter mais medalhas que a gente em Olimpíada? Se um filho de pobre fizesse prova do Enem com a mesma chance de um filho de rico, ele não ia para o tráfico. Ia para a faculdade”. Se um pobre fizesse vestibular com condições iguais a um rico, ele não iria para o tráfico e eu não estaria em casa, sem poder sair, nesse momento. A educação pública de qualidade para todos, portanto, pode ser entendida como a emanação da Vontade geral. Ela assegura o bem e a tranquilidade comum.

A ideia da UPP, porém, era transformar o os moradores das comunidades carente em súditos, sem lhes dar a soberania. Era levar ordem, sem democracia. Era acabar com os conflitos pela força. Por isso estava fadado ao fracasso. Como numa panela de pressão, no primeiro furo, explodiria.

Nessa mesma entrevista, o traficante fez outra afirmação desconcertante: “Meu ídolo é o Lula. Adoro o Lula. Ele foi quem combateu o crime com mais sucesso. Por causa do PAC da Rocinha. Cinquenta dos meus homens saíram do tráfico para trabalhar nas obras. Sabe quantos voltaram para o crime? Nenhum. Porque viram que tinham trabalho e futuro na construção civil.” Independente da avaliação que cada um de nós tenha do ex-presidente, há nessa frase algumas revelações importantes. Nem, o traficante, disse que o PAC tirou de modo definitivo 50 homens do crime. O investimento público em infraestrutura é outro exemplo prático da Vontade geral. Um programa de obras públicas, agindo numa comunidade carente, gerando empregos e ajudando na construção da paz. Emprego, renda, paz, crescimento econômico.

Essa é exatamente a lógica dos impostos. Meu interesse particular diz que é melhor eu gastar meu dinheiro comigo, com prazeres momentâneos e individuais. Mas, como nos ensinou Rousseau, a soma das partes não forma o todo. E o indivíduo, como parte desse todo, é afetado por essa dinâmica corrosiva dos conflitos egoístas. Os impostos, ao serem aplicados em programas como o PAC, ou em educação, serviriam à Vontade geral. Ele são elemento básico de uma democracia.
Claro que essa separação não é tão nítida e muitas vezes o dinheiro público é vertido para outros fins. Mas o golpe que sofremos foi arquitetado por pequenos grupos que, em nome de uma moralidade difusa, colocaram o poder a serviço de poucos.

O que os incomodava era a frágil democracia que havíamos construído nas ultimas décadas. Com o golpe votou-se uma PEC que limita os gastos primários. Programas como o PAC agora são inviáveis. A política cortou os poucos laços que mantinha com a soberania popular. Nosso presidente, o mais impopular da história, aceita qualquer demanda, qualquer pressão para se manter no cargo. Nossa democracia agoniza num jogo de forças entre vontades particulares, enquanto nosso Estado se desintegra sem direção.

Se a democracia é a guerra por outros meios, sem democracia, a guerra emerge pelos meios tradicionais.”

Compartilhado por João Lopes

Procura da Poesia, Carlos Drummond de Andrade

Da linha de tempo de Sérgio Mitre.

Li pouco, muito pouco, Carlos Drummond de Andrade. Lamentavelmente.

Por isso me surpreendo a cada nova poesia sua que encontro. Aparece um Drummond que eu não suspeitava existir. Drummond, como Fernando Pessoa, parece ser muitos.

Paulo Martins

Procura da Poesia
Carlos Drummond de Andrade

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Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
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Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
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Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
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O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
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Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
.
Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
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Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
.
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

Paraíso do Tuiuti: vídeo do desfile – completo

Compositores: Claudio Russo, Moacyr Luz, Dona Zezé, Jurandir e Aníbal

Intérpretes: Nino do Milênio, Celsinho Mody e Grazzi Brasil

IRMÃO DE OLHO CLARO OU DA GUINÉ
QUAL SERÁ O VALOR? POBRE ARTIGO DE MERCADO
SENHOR EU NÃO TENHO A SUA FÉ, E NEM TENHO A SUA COR
TENHO SANGUE AVERMELHADO
O MESMO QUE ESCORRE DA FERIDA
MOSTRA QUE A VIDA SE LAMENTA POR NÓS DOIS
MAS FALTA EM SEU PEITO UM CORAÇÃO
AO ME DAR ESCRAVIDÃO E UM PRATO DE FEIJÃO COM ARROZ

EU FUI MANDINGA, CAMBINDA, HAUSSÁ
FUI UM REI EGBÁ PRESO NA CORRENTE
SOFRI NOS BRAÇOS DE UM CAPATAZ
MORRI NOS CANAVIAIS ONDE SE PLANTA GENTE

Ê CALUNGA! Ê Ê CALUNGA!
PRETO VELHO ME CONTOU, PRETO VELHO ME CONTOU
ONDE MORA A SENHORA LIBERDADE
NÃO TEM FERRO, NEM FEITOR

AMPARO DO ROSÁRIO AO NEGRO BENEDITO
UM GRITO FEITO PELE DO TAMBOR
DEU NO NOTICIÁRIO, COM LÁGRIMAS ESCRITO
UM RITO, UMA LUTA, UM HOMEM DE COR

E ASSIM, QUANDO A LEI FOI ASSINADA
UMA LUA ATORDOADA ASSISTIU FOGOS NO CÉU
ÁUREA FEITO O OURO DA BANDEIRA
FUI REZAR NA CACHOEIRA CONTRA BONDADE CRUEL

MEU DEUS! MEU DEUS!
SE EU CHORAR NÃO LEVE A MAL
PELA LUZ DO CANDEEIRO
LIBERTE O CATIVEIRO SOCIAL

NÃO SOU ESCRAVO DE NENHUM SENHOR
MEU PARAÍSO É MEU BASTIÃO
MEU TUIUTI O QUILOMBO DA FAVELA
É SENTINELA DA LIBERTAÇÃO

Amazon registra a patente de uma pulseira ultrasônica para localizar funcionário

Amazon patenta una “pulsera ultrasónica” que localiza al trabajador
El sistema permite hacer un seguimiento del proceso y tiempo utilizado por el empleado en los almacenes

JOSÉ MENDIOLA ZURIARRAIN

El País

6 FEB 2018 – 07:37 BRST

Foto: El centro logístico que Amazon tiene en Castellbisbal (Barcelona).

La tienda online más grande del planeta sigue buscando sin descanso la manera de lograr una optimización de sus recursos. El proceso de costes del gigante comienza cuando un cliente hace clic en “Comprar” y arranca toda la maquinaria que concluye con el mensajero tocando el timbre de la puerta. ¿Cómo reducir al máximo los costes sin perder un ápice de eficacia y manteniendo los precios de venta competitivos? El factor humano juega un papel clave y, en este sentido, el coloso de Jeff Bezos ha patentado un sistema basado en sensores y unas pulseras que permiten localizar a sus empleados en todos los procesos del almacén.

La idea se ha conocido gracias al registro de dos patentes mediante las cuales, los almacenes de la compañía se llenarían de sensores que controlarían la ubicación de los productos, al tiempo que leerían las pulseras de los trabajadores de la compañía. La idea básica de esta patente consiste en reducir al máximo los errores y el tiempo perdido cuando el empleado del almacén se dispone a recoger un producto de la estantería. Estas pulseras contarían con un sistema de alertas hápticas mediante las cuales vibrarían con más o menos intensidad si la mano se acerca o aleja del producto a recoger, facilitando de esta manera el proceso al trabajador.

La parte más delicada de esta nueva patente es la que se refiere a la privacidad de los trabajadores

El detalle de la patente contempla que Amazon sabría en todo momento qué empleado en concreto está gestionando los productos, pero es fácil deducir que toda esta información permitiría también analizar rentabilidades, tiempos muertos y eficacia de los empleados. Sin embargo, el gigante no detalla en su patente cómo explotará toda la información registrada y se centra únicamente en la optimización de aquellos “procesos que requieren tiempo”, como la localización de productos.

La parte más delicada de esta nueva patente es la que se refiere a la privacidad de los trabajadores y, en este sentido, un exempleado de la compañía que trabajó durante años en uno de sus almacenes reconoce en el New York Times haberse sentido cosificado “como un robot” y sostiene que un día cayó desmayado por agotamiento: “No hay tiempo ni de ir a mear”, explica. Este trabajador detalla que si no se cumplen los objetivos “te despiden”, y su periplo en la compañía terminó años más tarde cuando decidió dejarla por cuestiones de salud al sentirse “quemado”.

La patente pretende, según la información aportada, la optimización de aquellos “procesos que requieren tiempo”, como la localización de productos

Con todo, son muchas las ocasiones en las que los grandes del sector de la tecnología registran patentes que finalmente no terminan en una aplicación real de las mismas. Esta patente, no obstante, vuelve a poner sobre la mesa el creciente protagonismo de los wearables y su inevitable conflicto con la privacidad de sus portadores. Este aspecto puede llegar incluso a afectar a la seguridad nacional, como hemos conocido esta semana al desvelar varias pulseras de actividad la ubicación de bases secretas y los movimientos de tropas del ejército estadounidense. Algunas empresas están comenzando a encontrar en estas pulseras de actividad un posible ahorro de costes entre sus empleados al vincular la actividad física con las bajas laborales.

CARTA ABERTA À DEPUTADA CRISTIANE BRASIL, por Rodrigo Trindade

“CARTA ABERTA À DEPUTADA CRISTIANE BRASIL
(Sobre o seu vídeo)

Por Rodrigo Trindade
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À Sua Excelência
Sra. Cristiane Brasil
Deputada Federal
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Faz pouco, assisti vídeo em que Vossa Excelência, em ambiente bastante descontraído, buscou responder aos fundamentos manejados por juiz federal e pela ministra do Supremo Tribunal Federal para suspender sua posse no cargo de Ministra de Estado do Trabalho.
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Sou juiz do trabalho há mais de quinze anos e leciono Direito do Trabalho por quase igual tempo. O tema de seu vídeo diz respeito à magistratura e ao mundo do trabalho e, por isso, me afeta, no mínimo, duplamente. É sobre eles que, respeitosamente, gostaria de lhe oferecer algumas ponderações.
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Soube que Vossa Excelência é filiada ao Partido Trabalhista Brasileiro. Percebo que é a mesma sigla do então presidente da república que, na primeira metade do século XX, estabeleceu a maior parte da estrutura normativa do Direito do Trabalho e integrou as então juntas de conciliação e julgamento à estrutura do Poder Judiciário. Vossa Excelência é jovem – pelo menos assim vejo nas redes sociais –, mas deve saber que seu partido teve especial importância nesses assuntos. O PTB possui histórico de reconhecimento do valor social do trabalho, bem como da imprescindibilidade da Justiça do Trabalho e do Direito do Trabalho legislado em nosso país. Não consegui ver a mesma preocupação em sua fala.
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Na gravação, Vossa Excelência afirma que “todos pedem qualquer coisa na Justiça do Trabalho”. A postulação em juízo é uma das mais importantes garantias da civilização, assegura direitos fundamentais, restringe o abuso do poder econômico e, essencialmente, serve para que, em conflitos concretos, espalhados por todos os setores de nossa comunidade, a lei comum vença sobre a força de músculos ou de cédulas de dinheiro. A Justiça do Trabalho tem papel importante, porque é a justiça dos pobres, o ramo do Judiciário que atende ao recado do “vai procurar os seus direitos”. E as pessoas vão. Ali, com juízes e juízas trabalhistas, é que buscam a recomposição de prejuízos que alegam ter sofrido. Aparente diminuição que Vossa Excelência faz sobre as ações de trabalhadores na Justiça do Trabalho parece divorciada dos valores históricos de seu partido.
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Entristece-me que a afirmação de Vossa Excelência pareceu generalizante e tendente a diminuir a garantia constitucional de acesso ao Judiciário. Atrai à instituição carga severa e injustificada de preconceito e deslegitimação. Termina fatalmente, ainda, por contribuir com síndrome de ineficácia das decisões e fortalecer a perigosa cultura de descumprimento da legislação e prejuízo à maioria dos esforçados e honestos empresários de nosso país.
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Preciso esclarecer que não são pedidas exatamente “coisas abstratas”, como Vossa Excelência referiu. Primeiro, porque em nenhum ramo do Judiciário são admitidos pedidos “abstratos”. Conforme dados do Conselho Nacional de Justiça, na Justiça do Trabalho, a maior parte das pretensões dizem respeito ao calote de parcelas rescisórias e depósitos do Fundo de Garantia. Ou seja, são verbas básicas, bem conhecidas por quem deveria ter pago e assim são postuladas. Também há muitos pedidos de reconhecimento de vínculo de emprego e indenizações por jornadas extenuantes. Direcionam-se a tomadores de trabalho que preferem a fraude, a exploração e a fuga dos tipos legais; mas só há condenação se assim for reconhecido em processo judicial.
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As decisões judiciais que impedem a posse de Vossa Excelência como Ministra de Estado do Trabalho basearam-se, essencialmente, na incompatibilidade entre o cargo pretendido e o fato de ter sofrido condenações trabalhistas de dois ex-funcionários. Acredito que as ações judiciais que Vossa Excelência respondeu tiveram origem em demandas de pessoas concretas, com pedidos concretos, receberam condenações igualmente concretas e haverão de ser concretamente cumpridas.
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Vossa Excelência declarou que não deve nada e que, em breve, irá provar. Não duvido de sua sinceridade, mas gostaria que pudéssemos manter o estado de direito e espero que sua demonstração de inocência siga o devido processo legal e seja apresentada em Juízo, nos processos em que foi condenada.
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De tudo que vi e ouvi em seu vídeo, intrigou-me especialmente a dúvida que Vossa Excelência externou com a frase “o que passa na cabeça das pessoas que entram contra a gente essas ações trabalhistas?” Permita-me uma comparação. Vossa Excelência recorreu da decisão de primeiro grau do juiz federal que suspendeu sua nomeação e imagino, que o tenha feito buscando a reconstituição concreta de seu sincero sentimento do justo. Nessa escala quase metafísica, não é muito diferente do que passa na cabeça dos que buscam outro juiz, o do trabalho, em suas ações. Acredite, querelantes e querelados na Justiça do Trabalho também buscam a realização da justiça.
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Mas há certa diferença entre as necessidades que estimulam os dois tipos de processo. Penso que Vossa Excelência tenha por finalidade em seu recurso exercer honroso cargo para o qual acredita estar muito bem preparada e ali desenvolver diversos dos projetos que imagino possua para a pasta.
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Nesses anos de exercício da magistratura trabalhista, com milhares de processos conhecidos, creio que possa responder que os “clientes” da Justiça do Trabalho têm necessidades mais graves. Salário e verbas rescisórias são essenciais para a sobrevivência de quem vive do trabalho e quando se está desempregado – a imensa maioria dos reclamantes – a urgência é bem maior. É por isso que a Justiça do Trabalho se esforça para continuar sendo o ramo mais célere do Judiciário, embora ainda haja muito o que melhorar.
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Também há muitos que vêm aos fóruns trabalhistas para recomposição de danos oriundos de acidentes e adoecimentos no serviço. Somos um dos países que mais produzem acidentados no trabalho e mesmo nesse tipo de processo, são comuns manobras para deixar de pagar indenizações a adoecidos, mutilados e incapacitados. Então, para esses deve passar uma angústia tremenda na cabeça, especialmente se há família para sustentar. Não faltam viúvas e órfãos buscando indenizações por morte e nas cabeças desses, as agonias são bem mais graves.
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Peço que Vossa Excelência reflita sobre tudo isso e que consiga reconhecer que a melhoria de qualidade de vida dos trabalhadores – um dos mais importantes desafios do Ministério do Trabalho – passam também pelo reconhecimento e fortalecimento das estruturas de recomposição dos conflitos.
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Cordiais saudações,
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Rodrigo Trindade de Souza”