Um pouco de compostura, senhores (4)

Diálogos Essenciais

O post do colunista Helio Gurovitz, no G1, desta quinta-feira, intitulado “A caça às bruxas que sufocou o IPEA” desinforma no título e no texto, preconceituosos, ralos e superficiais.

E o rapaz é humilde: acha que o seu blog é necessário para os leitores entenderem melhor o Brasil e o Mundo. Menos, professor, menos …

O que é escandaloso, na verdade, é o G1, como é rotina em parcela importante da mídia-empresa, mostrar somente uma versão da história, omitindo informações relevantes.

Trabalho no IPEA e tenho, por escrúpulo, evitado tratar neste blog de assuntos relativos à instituição.

Todavia, posso fazer algumas afirmativas sobre este assunto, pois os fatos são amplamente conhecidos.

Diversos técnicos do IPEA participaram da campanha eleitoral. Uns mais ativamente,  outros menos.

Alguns – como é o caso de Mansueto Almeida – atuaram às claras. Mansueto, não só deixou claro que compunha a equipe econômica do candidato Aécio…

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A sua, a minha, a nossa democracia agoniza. Muitos preferem assim.

Quem reembolsará o dinheiro público gasto pelo circo da CPI da Petrobrás?

Os excelentíssimos srs. políticos insistem em convocar para acareação depoentes que eles sabem, de antemão, não irão depor.

Para levar a Brasília depoentes que estão presos no Paraná, há custo de escolta e transporte.

Não importa. O país é rico. A prova disso é que os nobres deputados votaram aumentos para o Judiciário com impacto nas contas públicas superior a 20 bilhões de reais.

Recentemente Duque e Vaccari foram levados a Brasília e a acareação programada foi cancelada. Descobriram, na última hora, que os depoentes exerceriam direito constitucional de permanecerem calados.

Nós, os nobres contribuintes, pagaremos a conta.

Duque e Vaccari estão sendo convocados a Brasília novamente. O juiz Moro reluta em liberá-los. Alega preocupação com os gastos.

Se existe um processo em andamento na Justiça Federal, há muito tempo, prendendo e pressionando suspeitos para forçar delações premiadas, tomando depoimentos, fazendo acareações, sequestrando patrimônios, repatriando dinheiro e condenando acusados, qual a razão da existência de uma CPI?

Será que os Srs. deputados estão enciumados com os holofotes e prêmios recebidos pelo juiz Moro?

Ou estarão receosos?

Ou pretendem instalar a confusão, gritar “fogo!”, para tentarem escapar?

E se Janot resolve tentar puxar para si uma parte dos holofotes do juiz Moro?

Aí, instala-se o salve-se-quem-puder de vez.

Instalada a CPI, começa o show midiático-circense, com deputados e senadores artistas, uns de comédia, outros de ópera-bufa, mas todos investigadores amadores , para ficarmos no terreno dos elogios.

Além do show de frases desconexas, de preconceitos, de desinformação e indigência histórico-cultural, de perguntas sem pé nem cabeça, de exibições de ignorãça e de falta de educação, o que a CPI acrescentaria?

Só custos e descrédito.

Para nós, os cidadãos dignos, os custos. Para os políticos, ainda maior descrédito.

Se o interesse é a manutenção do assunto na mídia, a mídia empresarial ávida por escândalos dará este espaço.

O resultado será a falência da atividade política no Brasil, em prejuízo do bem comum e da democracia. Muitos preferem assim.

Infelizmente.

Erram muito e não se envergonham

Millôr Fernandes dizia que “se uma imagem vale mais do que mil palavras, então diga isto com uma imagem”.

O jornal O Globo publica hoje matéria intitulada “Eike Batista – De bilionário a réu em ações por crimes financeiros”.

A mídia empresarial é assim mesmo. Tem o hábito de adular o grande capital nos momentos de glória – falsa ou real – e jogá-los na lata do lixo quando convém.

Eu sei – aprendi com Millôr – que nem sempre uma imagem vale mais que mil palavras. Mas este vídeo de 9 minutos vale.

O vídeo, com entrevista de Eike, parece publicidade com espaço comprado disfarçada de programa. Fantástico.

Parece.

Não posso afirmar. Não tenho provas.

Vamos admitir que tenha sido uma reportagem honesta, como se espera que sejam todas as matérias veiculadas em todos os meios de comunicação.

Terá sido, então, um grande erro. Um erro grosseiro.

Erraram no passado, erram hoje, erram todos os dias.

Erram em economia e política, que não são assuntos triviais. Mas erram em outros assuntos.  Erram no que vier.

Consideram-se entendidos em tudo. Erram impunemente, doa em quem doer.

Em tempo: não perdi um tostão com o desmoronamento do castelo de areia do Eike Batista. Trabalhei por mais de dez anos na Vale e aprendi a encarar com ceticismo as aventuras do Mr. Gold.

Quem informa deveria ter o mesmo ceticismo cuidadoso.

Será que a imagem em destaque desmente o Millôr? Cartas para a redação.

Assista o vídeo e tire suas próprias conclusões:

http://youtu.be/YcRr-I36E68

Da arte de contar mentiras dizendo apenas a verdade.

Leia com atenção. A tática da mídia-empresa, que defende interesses próprios e tenta passar a ideia de que defende interesses nacionais, é subliminar. A Folha de São Paulo, O Valor Econômico, ainda tentam disfarçar um pouco. O Grupo Globo, que controla a mídia no Rio de Janeiro, nem procura disfarçar. Adota uma linha editorial cínica, para usarmos uma palavra elogiosa.

Oficina de Concertos Gerais e Poesia

Nas manchetes abaixo temos notícias boas e ruins. Mas, diferente do que está escrito, “o mal é bom e o bem cruel”.

empregos

A primeira página da Folha de São Paulo de sábado, 24/01/2015, destaca duas manchetes.

Com destaque maior, a má notícia:

”Geração de empregos em 2014 foi a pior dos anos PT – com demissões da indústria e na construção, mercado de trabalho tem pior ano de geração de emprego desde 2002”.

Com um destaque menor a manchete que traz, pelo menos, uma boa notícia:

”SP tem recorde de roubos e a menor taxa de homicídios – roubos no Estado de SP subiram 21% em relação a 2013, no maior aumento anual já registrado, taxa de assassinatos por 100 mil habitantes cai para 10,06, no melhor resultado desde 2001, quando era 33,3”.

A manipulação da informação não está apenas em que a má notícia sobre a geração…

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A grande alegria, Pablo Neruda

A sombra que indaguei já não me pertence.

Eu tenho a alegria duradoura do mastro,

a herança dos bosques, o vento do caminho

e um dia decidido sob a luz terrestre.

 Não escrevo para que outros livros me

             aprisionem,

nem para encarniçados aprendizes de lírio,

mas para singelos habitantes que pedem

água e lua, elementos da ordem imutável,

escolas, pão e vinho, guitarras e ferramentas.

Escrevo para o povo ainda que ele não possa

ler a minha poesia com seus olhos rurais.

Virá o instante em que uma linha, a aragem

que removeu a minha vida, chegará aos seus

             ouvidos,

e então o labrego levantará os olhos,

o mineiro sorrirá quebrando pedras,

o caldeireiro limpará a fronte,

o pescador verá melhor o brilho

dum peixe que palpitando lhe queimará as mãos,

o mecânico, limpo, recém-lavado, cheio

do aroma do sabão, olhará meus poemas,

e talvez eles dirão: “Foi um camarada”.

 Isso é bastante, essa é a coroa que quero.

 Quero que à saída da fábrica e das minas

esteja a minha poesia aderida à terra,

ao ar, à vitória do homem maltratado.

Quero que um jovem ache na dureza

que construí, com lentidão e com metais,

como uma caixa, abrindo-a, cara a cara, a vida,

minha alegria, nas alturas tempestuosas.

SEMINÁRIO INTERNACIONAL CIDADES REBELDES 2015

SEMINÁRIO INTERNACIONAL CIDADES REBELDES 2015

Em junho de 2015, a Boitempo Editorial e o Sesc reuniram mais de 40 convidados nacionais e internacionais para 4 dias de aulas e debates sobre a questão urbana e o direito à cidade hoje. Dando continuidade aos projetos Revoluções (2011) e Marx: a criação destruidora (2013), o Seminário Internacional Cidades Rebeldes pretende ir além da discussão acadêmica, envolvendo debatedores ligados à vida pública, ao poder institucional, a movimentos sociais e políticos e às artes, que têm em comum um histórico de pensamento em relação às cidades, à questão urbana e ao seu papel nas transformações sociais.

Foram discutidas questões como os efeitos do neoliberalismo nas cidades, as insurgências urbanas na história, a urbanização militarizada, os megaeventos esportivos, desenvolvimento urbano e meio ambiente, a mobilidade e as novas configurações das lutas de classe.

Assista aos vídeos abaixo:

Vídeos.

Precisamos nos encontrar, por Célio Turino

Diálogos Essenciais

Belo texto. Sem dúvida, precisamos nos encontrar. Infelizmente, o texto é utópico. Nada contra a utopia. Mas não dá para nos dispersarmos e partirmos para o “desbunde”. Porque se distrairmos, aí sim, seremos moídos, estraçalhados e comidos. Um pé no sonho e o outro pé no chão, pois os inimigos são ardilosos, matreiros.

Paulo Martins

Publicado originalmente em outraspalavras.net.

Nada justifica seguirmos moídos. Por uma convergência cidadã, com coerência programática e princípios sólidos; horizontalidade, autonomia e protagonismo social

Por Célio Turino | Imagem: Laurie Pace

Vamos nos Encontrar? Brasileiros e brasileiras; de todas as cores e identidades, gêneros e transgêneros. Um encontro do povo: índios, negras, brancos, amarelas, pardos, mamelucas, cafuzos, mestiças; do povo que trabalha, estuda, brinca, produz, sonha, vive e ama. Vamos nos encontrar? E que seja antes que outros se encontrem por nós.

Mais uma vez, nosso país vive um ambiente de insatisfação letárgica. Acordamos em protestos…

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Golpe de Estado: O espírito e a herança de 1964 ainda ameaçam o Brasil

O livro do Palmério Dória e Mylton Severiano, Golpe de Estado, já está em pré-venda. Veja os detalhes abaixo. Tem um link para a leitura do primeiro capítulo.

Sempre defendi a tese de que o vácuo de cultura política e de capacidade de compreender a realidade – o que muitos chamam de analfabetismo político – foi gestado nos anos de censura e ditadura.

Muitos foram cassados, muitos tiveram sua liberdade tolhida e outros tantos foram assassinados. Simplesmente porque não aceitaram viver sob uma ditadura ou porque ousavam pensar um mundo menos desigual.

As universidades foram ocupadas e amordaçadas. Os professores foram perseguidos e expulsos do país.

A catarata política (*) que nos aflige hoje nasceu lá, um pouco antes do golpe de 1964, e evoluiu ao longo anos.

Instalada a doença, sem o necessário tratamento, continuou evoluindo em tempos de democracia, pelo contágio. Ameaça dar em cegueira total. Ou em algo pior.

Por isso, livros como este, que analisam nossa história recente sem miopia, catarata ou antolhos, são fundamentais.

Paulo Martins – dialogosessenciais.com

Golpe de Estado: O espírito e a herança de 1964 ainda ameaçam o Brasil
Autores: 
Palmério Dória e Mylton Severiano
Gênero: Reportagem
Acabamento: Brochura
Formato:  15,6 x 23 cm
Págs: 266
Peso: 367gr
ISBN: 978-85-8130-270-6
Preço: R$29,90
Pré-venda: Amazon | Livraria Cultura  | Livraria Saraiva 

E-book
ISBN: 978-85-8130-271-3
Preço: 
R$ 19,90

Sinopse:
A DITADURA DE 1964 ACABOU? O QUE NOS FICOU DAQUELES ANOS NEGROS? Este livro empolgante, que se lê de um fôlego, nos revela que a ditadura de 1964 estende seus tentáculos aos dias de hoje, quando parte da população, insuflada pela mídia, bate panelas e desfila nas ruas com palavras de ordem bem parecidas, disfarçadas pelo necessário combate à corrupção. A ditadura militar foi instaurada pela elite civil que usou os militares para impor sua vontade, e o preço que pagamos hoje é a educação sucateada, a violência policial crescente e as marchas reacionárias e desnorteadas, que protestam contra a volta de um sistema injusto e excludente. AS MARCAS DE 1964 NO PAÍS DE 51 ANOS DEPOIS. Você vai ler aqui, meio século depois do golpe militar, depoimentos reveladores (e comoventes) de quem viveu aquele tempo e reflete sobre os atos atrozes e sua herança, ainda capaz de dificultar a possibilidade de o Brasil – um dos maiores e mais ricos países do planeta – tornar-se autônomo e desenvolvido. DOIS JORNALISTAS QUE ESTIVERAM LÁ E EM MOMENTOS POSTERIORES DA MAIOR IMPORTÂNCIA…escreveram este relato contundente que, em 32 capítulos, condensa a memória assustadora e vívida de um período cujas sombras continuam a se estender sobre nós.

Leia o primeiro capítulo

(*) Texto sobre catarata publicado originalmente em http://www.minhavida.com.br

O que é Catarata?

A catarata é uma opacidade do cristalino (lente natural do olho). Para pessoas que têm catarata tem a visão nublada, como se olhassem por uma janela embaçada ou enevoada. Essa visão nublada pode tornar mais difíceis tarefas como ler, dirigir um carro ou interpretar a expressão das pessoas.

A maioria das cataratas se desenvolve lentamente e não perturba a sua visão desde o início. Mas com o tempo, a catarata acabará por interferir na visão.

Em um primeiro momento, iluminação mais forte e uso de óculos podem ajudar a lidar com a catarata. Mas se a visão prejudicada interfere com as atividades normais, é necessário fazer a cirurgia de catarata. Felizmente, a cirurgia de catarata costuma ser um procedimento seguro e eficaz.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a catarata é responsável por 51% dos casos de cegueira no mundo, o que representa cerca de 20 milhões de pessoas. Como a expectativa de vida da população mundial está aumentando, o número de pessoas com catarata tende a crescer. A catarata é também uma importante causa de baixa visão em países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Precisamos nos encontrar, por Célio Turino

Considero este texto fundamental. Foi publicado neste blog em 15/07/2015 e está atualíssimo. Vale a pena a leitura.

Paulo Martins

Publicado originalmente em outraspalavras.net.

Nada justifica seguirmos moídos. Por uma convergência cidadã, com coerência programática e princípios sólidos; horizontalidade, autonomia e protagonismo social

Por Célio Turino | Imagem: Laurie Pace

Vamos nos Encontrar? Brasileiros e brasileiras; de todas as cores e identidades, gêneros e transgêneros. Um encontro do povo: índios, negras, brancos, amarelas, pardos, mamelucas, cafuzos, mestiças; do povo que trabalha, estuda, brinca, produz, sonha, vive e ama. Vamos nos encontrar? E que seja antes que outros se encontrem por nós.

Mais uma vez, nosso país vive um ambiente de insatisfação letárgica. Acordamos em protestos e logo retornamos ao sono profundo, em um claro sinal de letargia econômica, social, ética, política e cultural. Nós nos colocamos e deixamos que nos colocassem neste estado de prolongada inconsciência. Agora precisamos sair dele. Precisamos reagir! E temos meios para isso, temos força, inteligência, inventividade e coragem. Nada justifica seguirmos sendo moídos, estraçalhados e comidos. Por isso precisamos encontrar um rumo, um futuro.

Precisamos nos encontrar! Mas jamais encontraremos um rumo se permitirmos que os mesmos de sempre continuem nos apontando o caminho. Esses já mostraram do que são capazes (ou incapazes). Não cabe segui-los novamente, nem os atuais, que estão nos governos, nem aqueles que estiveram nos governos passados. Afinal, apenas se revezaram em servir ao deus dinheiro, ao deus mercado, ao deus poder. E entregando o povo em sacrifício.

Podemos nos encontrar? E por nossos próprios meios, por nossa própria análise, com nossa própria força. Só assim encontraremos um novo caminho. Com a nossa gente, com a nossa cara, brasileira, solar, misturada, compartida, solidária, justa e democrática. Um encontro da alegria!

Em tempos de letargia e prolongada inconsciência, prosperam os aproveitadores e oportunistas. Dos partidos políticos que se apresentam como força dominante, nenhum nos serve. Os tucanos só falam em privatizações e cortes de gastos sociais, louvando o Mercado a todo tempo. O PT, que prometia outro caminho, acabou se rendendo ao Mercado e confundiu inclusão social com acesso a bens individuais de consumo e apenas isso. Quanto aos demais “Partidos Cupim”, o que dizer, afora que a sua razão de ser é seguir cupinzando o Estado e o Povo? Não nos servem, jamais nos serviram, apenas se servem. São incompetentes e corruptos, preocupados apenas com suas ganâncias. É isso que os une, por isso não devemos nos unir a eles.
Precisamos nos encontrar! Quem? Os que não se rendem, os que não se vendem, os que respeitam ao próximo, os que respeitam o planeta, os animais, os vegetais, a água, o ar, o solo. O Brasil precisa deste encontro. Encontro dos “de baixo”, dos que sofrem, dos desvalidos, dos que tem coragem, dos lúcidos e honestos. E somos muitos e muitas. Somos a maioria. Precisamos nos encontrar e abrir nosso próprio caminho. O quanto antes, não há mais tempo a perder. Devemos nos encontrar!

O Brasil pode ser bom e justo para todos. E para já! Este tem que ser o objetivo de nosso encontro, nada menos que isto.

Devemos nos encontrar! Os movimentos sociais, ao menos aqueles que nunca abandonaram a sua gente; os movimentos por moradia, os Sem-Terra, os trabalhadores das cidades e do campo, as mães da periferia, os jovens da periferia, a juventude rebelde, os intelectuais e artistas que dedicam seus estudos e suas artes à emancipação humana, os índios, os quilombolas, os sem trabalho, os que “se viram”, os empreendedores honestos e as empresas com boas práticas, os trabalhadores, os que estão perdendo emprego, os que já perderam emprego, os aposentados e todos aqueles que buscam o ganho justo, sem exploração, isso porque justiça só há quando há para todos. Também os Partidos Políticos que não se rendem e personalidades imprescindíveis, dessas que lutam por toda a vida, sempre ao lado do povo, como Luiza Erundina, para permanecer em um exemplo icônico. Partidos e coletivos políticos com caráter democrático, progressista, popular, de esquerda, e que não compactuam nem com o campo governista, nem com a oposição conservadora; mas há que estarmos abertos também a políticos, agentes públicos, militantes e ativistas que, mesmo estando em partidos que um dia já estiveram com o povo e que depois se perderam no exercício do poder. Se comprometidos e sinceros, há que estar juntos, pois o momento é de firmeza sem sectarismo e todos que não compactuam com o pântano político em que colocaram o Brasil, também serão bem vindos.

Queremos um novo caminho e que neste caminho o povo esteja em primeiro lugar. São tantos movimentos, tanta gente a caminhar, não nos cabe seguir andando cada qual em seu lugar. Há que juntar e unir. Unamo-nos! Por um Brasil melhor, sem preconceitos, em que todos possam viver em paz e da forma que melhor lhes convir, com boa moradia, bom transporte, boas escolas, ares e águas limpas, terra, pão, trabalho, arte e liberdade. Precisamos nos unir! Coletivos LGBT, ativistas ambientais, midialivristas, educadores sociais, feministas, ativistas pelos direitos humanos e também dos animais; o OcupeEstelita, o Parque Augusta e tantas ocupações artísticas e generosas que se espalham pelo Brasil, as comunidades de base, as igrejas progressistas, os Pontos de Cultura, a educação popular e a economia solidária. Precisamos nos encontrar, temos que nos conhecer muito mais e mais ainda a dizer e ainda mais por fazer.

Um encontro simples e sincero, de troca de experiências e busca de convergência. Uma convergência cidadã, ao mesmo tempo ampla e firme, com coerência programática e princípios sólidos, feita de baixo para cima, de dentro para fora, com horizontalidade, autonomia e protagonismo social. Uma Convergência pelo Brasil, pela justiça, pela democracia, pela igualdade, pela liberdade e pelo futuro!

Antes que seja tarde, vamos marcar este encontro? Tem que ser para já!

Impeachment do Papa Francisco, por Gregório Duvivier

É notória a fixação patológica do Aécio Neves pelo cargo de presidente. Insiste em provocar o impedimento da Presidente Dilma e assumir seu lugar.

Trata-se de assunto sério e grave. Tal ofensa aos princípios democráticos básicos deveria ser tratada com profunda preocupação pela sociedade.

Alguns golpistas são merecedores de tratamento em hospital psiquiátrico: vêm fantasmas onde não tem e fantasiam uma realidade que não existe. Já vi nas redes sociais o “tarja-preta” principal desse processo de impedimento vestido em uniforme completo de Napoleão. A fantasia lhe caiu bem.

A forma irônica e debochada do Gregório Duvivier abordar o assunto talvez seja a melhor. Ninguém aguenta mais a ladainha diária dos operadores do golpe.

Querem transformar o Brasil em república bananeira e copiar o modelo golpista utilizado no Paraguai. Nossa democracia está, ainda, em processo de construção. Ela é nova e acabou de brotar.

Começaram a questionar o resultado das eleições no momento em que, perplexos, perceberam que haviam sido derrotados por 54 milhões de votos. Protocolaram uma ridícula recontagem de votos.

Tentaram impedir a diplomação da candidata vitoriosa e a sua posse.

Tentaram envolvê-la nas apurações da Polícia Federal.

Encomendaram pareceres de advogados amigos.

Acionam, diariamente, seus apoiadores nas emissoras de TV, nas estações de rádios e nos jornais.

Têm um exército de desmiolados que lhes apoia e alimentam o discurso do ódio e do golpe nas redes sociais.

Entraram com pedido de impedimento no Congresso e no TSE.

Boicotam o povo brasileiro e o Governo Federal nas votações na Câmara.

Paralisam o país com boatos e notícias catastróficas.

Criam situação de instabilidade política, que gerará a tão sonhada  instabilidade econômica. Para eles, quanto pior, melhor.

Não se importam se muitos chefes de família perderão seus empregos e seus dependentes sofrerão as consequências. Querem a presidência para já.

Outros, mais maquiavélicos, querem somente afundar o país e inviabilizar eventual vitória do ex-presidente Lula em 2018. Topam esperar um pouco, para completarem o processo de destruição dos adversários.

Clique no link abaixo e assista a fina ironia do Duvivier.

Paulo Martins

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Mf0iULpV8xw

Em tempo: se o Papa Francisco cair, o Aécio assume?

As vozes do ódio não podem tudo

“As vozes do ódio não podem achar que podem tudo. Porque, se eles podem tudo, o resto não pode nada” – Altamiro Borges.

Pincei esta frase do post de Altamiro Borges sobre as ofensas de Lobão (o músico) à presidente Dilma. O texto de Miro, embora curto, aborda com felicidade as fronteiras entre a liberdade de expressão e o direito à honra. Ofensas sem provas e condenação sem que o ofendido tenha direito ao devido processo legal não podem ser aceitas em uma sociedade que se pretenda civilizada.

Não sei o que levou Xurupito (Lobão) a se transformar neste ser humano ‘exemplar”. Minha impressão é a de que ele nunca se recuperou dos traumas de infância. Em suas próprias palavras, ele vive tentando tornar-se algo diferente do que seria o seu destino. Leia um trecho do seu livro de memórias: “Pela lógica dos fatos, eu deveria ter me tornado um bundão. Contrariando as expectativas, consegui atenuar e, até mesmo, reverter essa lamentável característica. Até hoje fico me perguntando como consegui essa façanha, pois, analisando bem os fatos, minha sina de idiota era tida e havida como algo certo e garantido”.

Passados os anos de resistência do Xurupito parece que, enfim, a sina foi mais forte.

O que vale no texto do Miro não é bem a crítica ao Xurupito, um personagem menor, e sim o aviso sobre os danos causados pelas manifestações de intolerância, ódio e preconceitos. Acho que não deveríamos gastar um segundo com o Xurupito, mas não dá para ficar calado ante as manifestações de ódio que se espalham.

O texto completo do post do Miro pode ser acessado pelo título  “Dilma deve reagir aos crimes de Lobão” e o endereço do blog é http://altamiroborges.blogspot.com.br.

Horóscopo para os que estão vivos – Gêmeos – Thiago de Mello

Fica ao menos uma vez por trimestre

em tua casa, só com ela

e com tua gente,

por muito que Mercúrio

te convide ao movimento.

Te fará muito bem ficar olhando

o abrir-se silencioso de uma rosa,

ou a brincadeira dos pombos

no meio da praça pública.

 

Aproveita mais de um entardecer

para olhar – se possível bem de perto –

o semblante castigado

dos que voltam, depois de haver vendido

sua força de trabalho:

no fundo dos olhos deles

arde, feroz, a esperança.

 

Que não te preocupe tanto

tua insegurança: este ano a dominarás

para sempre,

graças à opção a que a vida te obrigará.

E descobrirás nos desvãos do teu peito

poderosos mananciais, enquanto janelas se abrirão

diante dos teus olhos nos muros mais espessos.

Mercúrio protegerá os amores

iniciados em Junho ou Setembro.

Mas a culpa será tua

se o teu amor acaba.

A mulher nascida em Gêmeos

deve, mas do que nunca,

fazer valer a sua proclamada independência,

entregando-se luminosa e serena,

ao seu escolhido homem.

Mas convém evitar as cores esdrúxulas

durante os primeiros decanatos.

E tu, que no fundo queres agarrar a estrela,

não te inventes mais atalhos, já chega.

Continua em teu caminho

e atravessarás o arco-íris.”

 “Horóscopo para os que estão Vivos”, Thiago de Mello

Esta economia mata, discurso do Papa Francisco

Publicado originalmente no site:

cptnacional.org.br

12/07/2015

Confira o discurso na íntegra que Papa Francisco fez durante Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia.

Foto: (Fonte: IHU)

“A justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É um dever moral. Para os cristãos, o encargo é ainda mais forte: é um mandamento. Trata-se de devolver aos pobres e às pessoas o que lhes pertence. O destino universal dos bens não é um adorno retórico da doutrina social da Igreja. É uma realidade anterior à propriedade privada. A propriedade, sobretudo quando afeta os recursos naturais, deve estar sempre em função das necessidades das pessoas. E estas necessidades não se limitam ao consumo. Não basta deixar cair algumas gotas, quando os pobres agitam este copo que, por si só, nunca derrama. Os planos de assistência que acodem a certas emergências deveriam ser pensados apenas como respostas transitórias. Nunca poderão substituir a verdadeira inclusão: a inclusão que dá o trabalho digno, livre, criativo, participativo e solidário”, afirmou o Papa Francisco, num discurso considerado por lideranças dos movimentos populares como ‘irretocável”, proferido no Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Santa Cruz de la Sierra, no dia 09-07-2015.

Segundo o Papa, “os movimentos populares têm um papel essencial, não apenas exigindo e reclamando, mas fundamentalmente criando. Vós sois poetas sociais: criadores de trabalho, construtores de casas, produtores de alimentos, sobretudo para os descartados pelo mercado global.

http://youtu.be/ava3Zmf1H6A

Eis o discurso na íntegra.

Boa tarde a todos!

Há alguns meses, reunimo-nos em Roma e não esqueço aquele nosso primeiro encontro. Durante este tempo, trouxe-vos no meu coração e nas minhas orações. Alegra-me vê-vos de novo aqui, debatendo os melhores caminhos para superar as graves situações de injustiça que padecem os excluídos em todo o mundo. Obrigado Senhor Presidente Evo Morales, por sustentar tão decididamente este Encontro.

Então, em Roma, senti algo muito belo: fraternidade, paixão, entrega, sede de justiça. Hoje, em Santa Cruz de la Sierra, volto a sentir o mesmo. Obrigado! Soube também, pelo Pontifício Conselho «Justiça e Paz» presidido pelo Cardeal Turkson, que são muitos na Igreja aqueles que se sentem mais próximos dos movimentos populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com as portas abertas a todos vós, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada diocese, em cada comissão «Justiça e Paz», uma colaboração real, permanente e comprometida com os movimentos populares. Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais a aprofundar este encontro.

Deus permitiu que nos voltássemos a ver hoje. A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor do seu povo e também eu quero voltar a unir a minha voz à vossa: terra, teto e trabalho para todos os nossos irmãos e irmãs. Disse-o e repito: são direitos sagrados. Vale a pena, vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina e em toda a terra.

  1. Comecemos por reconhecer que precisamos duma mudança. Quero esclarecer, para que não haja mal-entendidos, que falo dos problemas comuns de todos os latino-americanos e, em geral, de toda a humanidade. Problemas, que têm uma matriz global e que actualmente nenhum Estado pode resolver por si mesmo. Feito este esclarecimento, proponho que nos coloquemos estas perguntas:
  • Reconhecemos nós que as coisas não andam bem num mundo onde há tantos camponeses sem terra, tantas famílias sem tecto, tantos trabalhadores sem direitos, tantas pessoas feridas na sua dignidade?
  • Reconhecemos nós que as coisas não andam bem, quando explodem tantas guerras sem sentido e a violência fratricida se apodera até dos nossos bairros? Reconhecemos nós que as coisas não andam bem, quando o solo, a água, o ar e todos os seres da criação estão sob ameaça constante?

Então digamo-lo sem medo: Precisamos e queremos uma mudança.

Nas vossas cartas e nos nossos encontros, relataram-me as múltiplas exclusões e injustiças que sofrem em cada actividade laboral, em cada bairro, em cada território. São tantas e tão variadas como muitas e diferentes são as formas próprias de as enfrentar. Mas há um elo invisível que une cada uma destas exclusões: conseguimos nós reconhecê-lo? É que não se trata de questões isoladas.

Pergunto-me se somos capazes de reconhecer que estas realidades destrutivas correspondem a um sistema que se tornou global. Reconhecemos nós que este sistema impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza?

Se é assim – insisto – digamo-lo sem medo: Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos…. E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco.

Queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros, no vilarejo, na nossa realidade mais próxima; mas uma mudança que toque também o mundo inteiro, porque hoje a interdependência global requer respostas globais para os problemas locais. A globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença.

Hoje quero refletir convosco sobre a mudança que queremos e precisamos. Como sabem, recentemente escrevi sobre os problemas da mudança climática. Mas, desta vez, quero falar duma mudança noutro sentido. Uma mudança positiva, uma mudança que nos faça bem, uma mudança – poderíamos dizer – redentora. Porque é dela que precisamos. Sei que buscais uma mudança e não apenas vós: nos diferentes encontros, nas várias viagens, verifiquei que há uma expectativa, uma busca forte, um anseio de mudança em todos os povos do mundo. Mesmo dentro da minoria cada vez mais reduzida que pensa sair beneficiada deste sistema, reina a insatisfação e sobretudo a tristeza. Muitos esperam uma mudança que os liberte desta tristeza individualista que escraviza.

O tempo, irmãos e irmãs, o tempo parece exaurir-se; já não nos contentamos com lutar entre nós, mas chegamos até a assanhar-nos contra a nossa casa. Hoje, a comunidade científica aceita aquilo que os pobres já há muito denunciam: estão a produzir-se danos talvez irreversíveis no ecossistema.

Está-se a castigar a terra, os povos e as pessoas de forma quase selvagem. E por trás de tanto sofrimento, tanta morte e destruição, sente-se o cheiro daquilo que Basílio de Cesareia chamava «o esterco do diabo»: reina a ambição desenfreada de dinheiro. O serviço ao bem comum fica em segundo plano. Quando o capital se torna um ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez do dinheiro domina todo o sistema socioecónomico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, faz lutar povo contra povo e até, como vemos, põe em risco esta nossa casa comum.

Não quero alongar-me na descrição dos efeitos malignos desta ditadura subtil: vós conhecei-los! Mas também não basta assinalar as causas estruturais do drama social e ambiental contemporâneo. Sofremos de um certo excesso de diagnóstico, que às vezes nos leva a um pessimismo charlatão ou a rejubilar com o negativo. Ao ver a crónica negra de cada dia, pensamos que não haja nada que se possa fazer para além de cuidar de nós mesmos e do pequeno círculo da família e dos amigos.

Que posso fazer eu, recolhedor de papelão, catador de lixo, limpador, reciclador, frente a tantos problemas, se mal ganho para comer? Que posso fazer eu, artesão, vendedor ambulante, carregador, trabalhador irregular, se não tenho sequer direitos laborais? Que posso fazer eu, camponesa, indígena, pescador que dificilmente consigo resistir à propagação das grandes corporações? Que posso fazer eu, a partir da minha comunidade, do meu barraco, da minha povoação, da minha favela, quando sou diariamente discriminado e marginalizado? Que pode fazer aquele estudante, aquele jovem, aquele militante, aquele missionário que atravessa as favelas e os paradeiros com o coração cheio de sonhos, mas quase sem nenhuma solução para os meus problemas? Muito! Podem fazer muito.

Vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito.Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos “3 T” (trabalho, teto, terra), e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem!

  1. Vós sois semeadores de mudança. Aqui, na Bolívia, ouvi uma frase de que gosto muito: «processo de mudança». A mudança concebida, não como algo que um dia chegará porque se impôs esta ou aquela opção política ou porque se estabeleceu esta ou aquela estrutura social.

Sabemos, amargamente, que uma mudança de estruturas, que não seja acompanhada por uma conversão sincera das atitudes e do coração, acaba a longo ou curto prazo por burocratizar-se, corromper-se e sucumbir. Por isso gosto tanto da imagem do processo, onde a paixão por semear, por regar serenamente o que outros verão florescer, substitui a ansiedade de ocupar todos os espaços de poder disponíveis e de ver resultados imediatos. Cada um de nós é apenas uma parte de um todo complexo e diversificado interagindo no tempo: povos que lutam por uma afirmação, por um destino, por viver com dignidade, por «viver bem».

Vós, a partir dos movimentos populares, assumis as tarefas comuns motivados pelo amor fraterno, que se rebela contra a injustiça social. Quando olhamos o rosto dos que sofrem, o rosto do camponês ameaçado, do trabalhador excluído, do indígena oprimido, da família sem tecto, do imigrante perseguido, do jovem desempregado, da criança explorada, da mãe que perdeu o seu filho num tiroteio porque o bairro foi tomado pelo narcotráfico, do pai que perdeu a sua filha porque foi sujeita à escravidão; quando recordamos estes «rostos e nomes» estremecem-nos as entranhas diante de tanto sofrimento e comovemo-nos….Porque «vimos e ouvimos», não a fria estatística, mas as feridas da humanidade dolorida, as nossas feridas, a nossa carne. Isto é muito diferente da teorização abstrata ou da indignação elegante. Isto comove-nos, move-nos e procuramos o outro para nos movermos juntos. Esta emoção feita acção comunitária é incompreensível apenas com a razão: tem um plus de sentido que só os povos entendem e que confere a sua mística particular aos verdadeiros movimentos populares.

Vós viveis, cada dia, imersos na crueza da tormenta humana. Falastes-me das vossas causas, partilhastes comigo as vossas lutas. E agradeço-vos. Queridos irmãos, muitas vezes trabalhais no insignificante, no que aparece ao vosso alcance, na realidade injusta que vos foi imposta e a que não vos resignais opondo uma resistência ativa ao sistema idólatra que exclui, degrada e mata.

Vi-vos trabalhar incansavelmente pela terra e a agricultura camponesa, pelos vossos territórios e comunidades, pela dignificação da economia popular, pela integração urbana das vossas favelas e agrupamentos, pela auto-construção de moradias e o desenvolvimento das infra-estruturas do bairro e em muitas actividades comunitárias que tendem à reafirmação de algo tão elementar e inegavelmente necessário como o direito aos “3 T”: terra, teto e trabalho.

Este apego ao bairro, à terra, ao território, à profissão, à corporação, este reconhecer-se no rosto do outro, esta proximidade no dia-a-dia, com as suas misérias e os seus heroísmos quotidianos, é o que permite realizar o mandamento do amor, não a partir de ideias ou conceitos, mas a partir do genuíno encontro entre pessoas, porque não se amam os conceitos nem as ideias; amam-se as pessoas. A entrega, a verdadeira entrega nasce do amor pelos homens e mulheres, crianças e idosos, vilarejos e comunidades… Rostos e nomes que enchem o coração. A partir destas sementes de esperança semeadas pacientemente nas periferias esquecidas do planeta, destes rebentos de ternura que lutam por subsistir na escuridão da exclusão, crescerão grandes árvores, surgirão bosques densos de esperança para oxigenar este mundo.

Vejo, com alegria, que trabalhais no que aparece ao vosso alcance, cuidando dos rebentos; mas, ao mesmo tempo, com uma perspectiva mais ampla, protegendo o arvoredo. Trabalhais numa perspectiva que não só aborda a realidade sectorial que cada um de vós representa e na qual felizmente está enraizada, mas procurais também resolver, na sua raiz, os problemas gerais de pobreza, desigualdade e exclusão.

Felicito-vos por isso. É imprescindível que, a par da reivindicação dos seus legítimos direitos, os povos e as suas organizações sociais construam uma alternativa humana à globalização exclusiva. Vós sois semeadores de mudança. Que Deus vos dê coragem, alegria, perseverança e paixão para continuar a semear. Podeis ter a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, vamos ver os frutos.

Peço aos dirigentes: sede criativos e nunca percais o apego às coisas próximas, porque o pai da mentira sabe usurpar palavras nobres, promover modas intelectuais e adoptar posições ideológicas, mas se construirdes sobre bases sólidas, sobre as necessidades reais e a experiência viva dos vossos irmãos, dos camponeses e indígenas, dos trabalhadores excluídos e famílias marginalizadas, de certeza não vos equivocareis.

A Igreja não pode nem deve ser alheia a este processo no anúncio do Evangelho. Muitos sacerdotes e agentes pastorais realizam uma tarefa imensa acompanhando e promovendo os excluídos em todo o mundo, ao lado de cooperativas, dando impulso a empreendimentos, construindo casas, trabalhando abnegadamente nas áreas da saúde, desporto e educação. Estou convencido de que a cooperação amistosa com os movimentos populares pode robustecer estes esforços e fortalecer os processos de mudança.

No coração, tenhamos sempre a Virgem Maria, uma jovem humilde duma pequena aldeia perdida na periferia dum grande império, uma mãe sem tecto que soube transformar um curral de animais na casa de Jesus com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Maria é sinal de esperança para os povos que sofrem dores de parto até que brote a justiça. Rezo à Virgem do Carmo, padroeira da Bolívia, para fazer com que este nosso Encontro seja fermento de mudança.

  1. Por último, gostaria que refletíssemos, juntos, sobre algumas tarefas importantes neste momento histórico, pois queremos uma mudança positiva em benefício de todos os nossos irmãos e irmãs. Disto estamos certos! Queremos uma mudança que se enriqueça com o trabalho conjunto de governos, movimentos populares e outras forças sociais. Sabemos isto também! Mas não é tão fácil definir o conteúdo da mudança, ou seja, o programa social que reflicta este projeto de fraternidade e justiça que esperamos. Neste sentido, não esperem uma receita deste Papa. Nem o Papa nem a Igreja têm o monopólio da interpretação da realidade social e da proposta de soluções para os problemas contemporâneos. Atrever-me-ia a dizer que não existe uma receita. A história é construída pelas gerações que se vão sucedendo no horizonte de povos que avançam individuando o próprio caminho e respeitando os valores que Deus colocou no coração.

Gostaria, no entanto, de vos propor três grandes tarefas que requerem a decisiva contribuição do conjunto dos movimentos populares:

3.1 A primeira tarefa é pôr a economia ao serviço dos povos.

Os seres humanos e a natureza não devem estar ao serviço do dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra.

A economia não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas a condigna administração da casa comum. Isto implica cuidar zelosamente da casa e distribuir adequadamente os bens entre todos. A sua finalidade não é unicamente garantir o alimento ou um «decoroso sustento». Não é sequer, embora fosse já um grande passo, garantir o acesso aos “3 T”pelos quais combateis. Uma economia verdadeiramente comunitária – poder-se-ia dizer, uma economia de inspiração cristã – deve garantir aos povos dignidade, «prosperidade e civilização em seus múltiplos aspectos».(1)

Isto envolve os “3 T” mas também acesso à educação, à saúde, à inovação, às manifestações artísticas e culturais, à comunicação, ao desporto e à recreação. Uma economia justa deve criar as condições para que cada pessoa possa gozar duma infância sem privações, desenvolver os seus talentos durante a juventude, trabalhar com plenos direitos durante os anos de actividade e ter acesso a uma digna aposentação na velhice. É uma economia onde o ser humano, em harmonia com a natureza, estrutura todo o sistema de produção e distribuição de tal modo que as capacidades e necessidades de cada um encontrem um apoio adequado no ser social. Vós – e outros povos também – resumis este anseio duma maneira simples e bela: «viver bem».

Esta economia é não apenas desejável e necessária, mas também possível. Não é uma utopia, nem uma fantasia. É uma perspectiva extremamente realista. Podemos consegui-la. Os recursos disponíveis no mundo, fruto do trabalho intergeneracional dos povos e dos dons da criação, são mais que suficientes para o desenvolvimento integral de «todos os homens e do homem todo». (2)

Mas o problema é outro. Existe um sistema com outros objetivos. Um sistema que, apesar de acelerar irresponsavelmente os ritmos da produção, apesar de implementar métodos na indústria e na agricultura que sacrificam a Mãe Terra na ara da «produtividade», continua a negar a milhares de milhões de irmãos os mais elementares direitos econômicos, sociais e culturais. Este sistema atenta contra o projecto de Jesus.

A justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É um dever moral. Para os cristãos, o encargo é ainda mais forte: é um mandamento.Trata-se de devolver aos pobres e às pessoas o que lhes pertence. O destino universal dos bens não é um adorno retórico da doutrina social da Igreja. É uma realidade anterior à propriedade privada. A propriedade, sobretudo quando afecta os recursos naturais, deve estar sempre em função das necessidades das pessoas. E estas necessidades não se limitam ao consumo. Não basta deixar cair algumas gotas, quando os pobres agitam este copo que, por si só, nunca derrama. Os planos de assistência que acodem a certas emergências deveriam ser pensados apenas como respostas transitórias. Nunca poderão substituir a verdadeira inclusão: a inclusão que dá o trabalho digno, livre, criativo, participativo e solidário.

Neste caminho, os movimentos populares têm um papel essencial, não apenas exigindo e reclamando, mas fundamentalmente criando. Vós sois poetas sociais: criadores de trabalho, construtores de casas, produtores de alimentos, sobretudo para os descartados pelo mercado global.

Conheci de perto várias experiências, onde os trabalhadores, unidos em cooperativas e outras formas de organização comunitária, conseguiram criar trabalho onde só havia sobras da economia idólatra. As empresas recuperadas, as feiras francas e as cooperativas de catadores de papelão são exemplos desta economia popular que surge da exclusão e que pouco a pouco, com esforço e paciência, adopta formas solidárias que a dignificam. Quão diferente é isto do fato de os descartados pelo mercado formal serem explorados como escravos!

Os governos que assumem como própria a tarefa de colocar a economia ao serviço das pessoas devem promover o fortalecimento, melhoria, coordenação e expansão destas formas de economia popular e produção comunitária. Isto implica melhorar os processos de trabalho, prover de adequadas infra-estruturas e garantir plenos direitos aos trabalhadores deste setor alternativo.

Quando Estado e organizações sociais assumem, juntos, a missão dos “3 T”, ativam-se os princípios de solidariedade e subsidiariedade que permitem construir o bem comum numa democracia plena e participativa.

3.2 A segunda tarefa é unir os nossos povos no caminho da paz e da justiça.

Os povos do mundo querem ser artífices do seu próprio destino. Querem caminhar em paz para a justiça. Não querem tutelas nem interferências, onde o mais forte subordina o mais fraco. Querem que a sua cultura, o seu idioma, os seus processos sociais e tradições religiosas sejam respeitados. Nenhum poder efectivamente constituído tem direito de privar os países pobres do pleno exercício da sua soberania e, quando o fazem, vemos novas formas de colonialismo que afectam seriamente as possibilidades de paz e justiça, porque «a paz funda-se não só no respeito pelos direitos do homem, mas também no respeito pelo direito dos povos, sobretudo o direito à independência». (3)

Os povos da América Latina alcançaram, com um parto doloroso, a sua independência política e, desde então, viveram já quase dois séculos duma história dramática e cheia de contradições procurando conquistar uma independência plena.

Nos últimos anos, depois de tantos mal-entendidos, muitos países latino-americanos viram crescer a fraternidade entre os seus povos. Os governos da região juntaram seus esforços para fazer respeitar a sua soberania, a de cada país e a da região como um todo que, de forma muito bela como faziam os nossos antepassados, chamam a «Pátria Grande». Peço-vos, irmãos e irmãs dos movimentos populares, que cuidem e façam crescer esta unidade. É necessário manter a unidade contra toda a tentativa de divisão, para que a região cresça em paz e justiça.

Apesar destes avanços, ainda subsistem fatores que atentam contra este desenvolvimento humano equitativo e coarctam a soberania dos países da «Pátria Grande» e doutras latitudes do Planeta. O novo colonialismo assume variadas fisionomias. Às vezes, é opoder anônimo do ídolo dinheiro: corporações, credores, alguns tratados denominados «de livre comércio» e a imposição de medidas de «austeridade» que sempre apertam o cinto dos trabalhadores e dos pobres.

Os bispos latino-americanos denunciam-no muito claramente, no documento de Aparecida, quando afirmam que «as instituições financeiras e as empresas transnacionais se fortalecem ao ponto de subordinar as economias locais, sobretudo debilitando os Estados, que aparecem cada vez mais impotentes para levar adiante projetos de desenvolvimento a serviço de suas populações». (4)

Noutras ocasiões, sob o nobre disfarce da luta contra a corrupção, o narcotráfico ou o terrorismo – graves males dos nossos tempos que requerem uma acção internacional coordenada – vemos que se impõem aos Estados medidas que pouco têm a ver com a resolução de tais problemáticas e muitas vezes tornam as coisas piores.

Da mesma forma, a concentração monopolista dos meios de comunicação social que pretende impor padrões alienantes de consumo e certa uniformidade cultural é outra das formas que adopta o novo colonialismo. É o colonialismo ideológico. Como dizem os bispos da África, muitas vezes pretende-se converter os países pobres em «peças de um mecanismo, partes de uma engrenagem gigante».5

Temos de reconhecer que nenhum dos graves problemas da humanidade pode ser resolvido sem a interacção dos Estados e dos povos a nível internacional. Qualquer acto de envergadura realizado numa parte do Planeta repercute-se no todo em termos econômicos, ecológicos, sociais e culturais.

Até o crime e a violência se globalizaram. Por isso, nenhum governo pode actuar à margem duma responsabilidade comum. Se queremos realmente uma mudança positiva, temos de assumir humildemente a nossa interdependência. Mas interacção não é sinónimo de imposição, não é subordinação de uns em função dos interesses dos outros. ]

O colonialismo, novo e velho, que reduz os países pobres a meros fornecedores de matérias-primas e mão de obra barata, gera violência, miséria, emigrações forçadas e todos os males que vêm juntos… precisamente porque, ao pôr a periferia em função do centro, nega-lhes o direito a um desenvolvimento integral. Isto é desigualdade, e a desigualdade gera violência que nenhum recurso policial, militar ou dos serviços secretos será capaz de deter.

Digamos NÃO às velhas e novas formas de colonialismo. Digamos SIM ao encontro entre povos e culturas. Bem-aventurados os que trabalham pela paz.

Aqui quero deter-me num tema importante. É que alguém poderá, com direito, dizer: «Quando o Papa fala de colonialismo, esquece-se de certas acções da Igreja». Com pesar, vo-lo digo: Cometeram-se muitos e graves pecados contra os povos nativos da América, em nome de Deus. Reconheceram-no os meus antecessores, afirmou-o o CELAM e quero reafirmá-lo eu também. Como São João Paulo II, peço que a Igreja «se ajoelhe diante de Deus e implore o perdão para os pecados passados e presentes dos seus filhos». (6) E eu quero dizer-vos, quero ser muito claro, como foi São João Paulo II: Peço humildemente perdão, não só para as ofensas da própria Igreja, mas também para os crimes contra os povos nativos durante a chamada conquista da América.

Peço-vos também a todos, crentes e não crentes, que se recordem de tantos bispos, sacerdotes e leigos que pregaram e pregam a boa nova de Jesus com coragem e mansidão, respeito e em paz; que, na sua passagem por esta vida, deixaram impressionantes obras de promoção humana e de amor, pondo-se muitas vezes ao lado dos povos indígenas ou acompanhando os próprios movimentos populares mesmo até ao martírio. A Igreja, os seus filhos e filhas, fazem parte da identidade dos povos na América Latina. Identidade que alguns poderes, tanto aqui como noutros países, se empenham por apagar, talvez porque a nossa fé é revolucionária, porque a nossa fé desafia a tirania do ídolo dinheiro.

Hoje vemos, com horror, como no Médio Oriente e noutros lugares do mundo se persegue, tortura, assassina a muitos irmãos nossos pela sua fé em Jesus. Isto também devemos denunciá-lo: dentro desta terceira guerra mundial em parcelas que vivemos, há uma espécie de genocídio em curso que deve cessar.

Aos irmãos e irmãs do movimento indígena latino-americano, deixem-me expressar a minha mais profunda estima e felicitá-los por procurarem a conjugação dos seus povos e culturas segundo uma forma de convivência, a que eu chamo poliédrica, onde as partes conservam a sua identidade construindo, juntas, uma pluralidade que não atenta contra a unidade, mas fortalece-a. A sua procura desta interculturalidade que conjuga a reafirmação dos direitos dos povos nativos com o respeito à integridade territorial dos Estados enriquece-nos e fortalece-nos a todos.

3.3 A terceira tarefa, e talvez a mais importante que devemos assumir hoje, é defender a Mãe Terra.

A casa comum de todos nós está a ser saqueada, devastada, vexada impunemente. A covardia em defendê-la é um pecado grave. Vemos, com crescente decepção, sucederem-se uma após outra cimeiras internacionais sem qualquer resultado importante. Existe um claro, definitivo e inadiável imperativo ético de actuar que não está a ser cumprido. Não se pode permitir que certos interesses – que são globais, mas não universais – se imponham, submetendo Estados e organismos internacionais, e continuem a destruir a criação. Os povos e os seus movimentos são chamados a clamar, mobilizar-se, exigir – pacífica mas tenazmente – a adopção urgente de medidas apropriadas. Peço-vos, em nome de Deus, que defendais a Mãe Terra. Sobre este assunto, expressei-me devidamente na carta encíclica Laudato si’.

  1. Para concluir, quero dizer-lhes novamente: O futuro da humanidade não está unicamente nas mãos dos grandes dirigentes, das grandes potências e das elites. Está fundamentalmente nas mãos dos povos; na sua capacidade de se organizarem e também nas suas mãos que regem, com humildade e convicção, este processo de mudança.

Estou convosco. Digamos juntos do fundo do coração: nenhuma família sem teto, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhum povo sem soberania, nenhuma pessoa sem dignidade, nenhuma criança sem infância, nenhum jovem sem possibilidades, nenhum idoso sem uma veneranda velhice. Continuai com a vossa luta e, por favor, cuidai bem da Mãe Terra.

Rezo por vós, rezo convosco e quero pedir a nosso Pai Deus que vos acompanhe e abençoe, que vos cumule do seu amor e defenda no caminho concedendo-vos, em abundância, aquela força que nos mantém de pé: esta força é a esperança, a esperança que não decepciona. Obrigado! E peço-vos, por favor, que rezeis por mim.


1 JOÃO XXIII, Carta enc. Mater et Magistra (15 de Maio de 1961), 3: AAS 53 (1961), 402.
2 PAULO VI, Carta enc. Popolorum progressio, 14.
3 PONTIFÍCIO CONSELHO «JUSTIÇA E PAZ», Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 157.
4 V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE (2007), Documento de Aparecida, 66.
5 JOÃO PAULO II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Africa (14 de Setembro de 1995), 52: AAS 88 (1996), 32-33. Cf. IDEM, Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de 1987), 22: AAS 80 (1988), 539.
6 JOÃO PAULO II, Bula Incarnationis mysterium, 11.

Um pouco de compostura, senhores (4)

O post do colunista Helio Gurovitz, no G1, desta quinta-feira, intitulado “A caça às bruxas que sufocou o IPEA” desinforma no título e no texto, preconceituosos, ralos e superficiais.

E o rapaz é humilde: acha que o seu blog é necessário para os leitores entenderem melhor o Brasil e o Mundo. Menos, professor, menos …

O que é escandaloso, na verdade, é o G1, como é rotina em parcela importante da mídia-empresa, mostrar somente uma versão da história, omitindo informações relevantes.

Trabalho no IPEA e tenho, por escrúpulo, evitado tratar neste blog de assuntos relativos à instituição.

Todavia, posso fazer algumas afirmativas sobre este assunto, pois os fatos são amplamente conhecidos.

Diversos técnicos do IPEA participaram da campanha eleitoral. Uns mais ativamente,  outros menos.

Alguns – como é o caso de Mansueto Almeida – atuaram às claras. Mansueto, não só deixou claro que compunha a equipe econômica do candidato Aécio, como licenciou-se do IPEA no período eleitoral. Pelo menos esta foi a informação divulgada à época. Outros agiram em diversas instâncias sem a recomendável neutralidade ou transparência.

Sou testemunha de que o cuidado em relação ao que devia ser publicado e divulgado foi recomendado pela alta administração em reunião aberta, no auditório do IPEA/Brasília com transmissão em videoconferência para o IPEA/Rio, no dia 27/05/2014, na posse do novo presidente do IPEA, Sergei Soares.

Pareceu-me recomendação óbvia. Como um instituto de pesquisa com  credibilidade conquistada em 50 anos de existência, o IPEA não poderia participar do processo eleitoral, de um lado ou de outro. A Casa estava razoavelmente pacificada após um período de turbulência iniciado em 2011 e não queria voltar a ser o centro das atenções negativas, especialmente em plena campanha eleitoral. Esta foi a minha leitura na ocasião. Achei bem razoável e prudente.

Na minha opinião, o acirramento da disputa política na eleição presidencial de 2014 e a manipulação midiática tão descarada à época da eleição,  deram magnitude exagerada ao assunto.

O ator principal do folhetim omitiu-se e, em vez de jogar água na fervura, abandonou a panela ao fogo.

Agora, em pleno terceiro turno, o assunto volta requentado.

Na ocasião da polêmica, pouco antes da eleição, o IPEA emitiu uma nota explicando o ocorrido.  O descuidado blogueiro do G1, ou desconhece os fatos e, portanto, deveria ter a prudência de não meter a  colher de pau no angu de caroço que não conhece, ou os escamoteou.

Nos tempos que vivemos, de valores democráticos e éticos jogados na lata do lixo e de jornalismo ralo e seletivo, eu não me assustaria se a omissão tiver sido proposital.

Este é o novo normal no jornalismo nacional.

Como pedir compostura a estes senhores da nossa mídia ? Eles podem responder que já a praticam, na acepção do item 3, abaixo.

Obs: escrevo em meu nome, como cidadão atento, em caráter particular. Não tenho procuração de ninguém para emitir esta ou aquela opinião, mas não posso deixar passar preconceitos e intrigas como se fossem informação relevante “para entender melhor o Brasil e o mundo”.

Paulo Martins

Compostura. (do lat. compostura). S.f.

  1. Composição
  2. Concerto, arranjo
  3. Falsificação, imitação
  4. Seriedade ou correção de maneiras; comedimento, circunspeção, modéstia

em Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa

Não vai haver golpe, por Paulo Nogueira

por Paulo Nogueira, do site Diário do Centro do Mundo

Cansei.

Cansei do clima de derrota, de desolação, de paranoia que se alastrou pelos círculos progressistas nas redes sociais.

É como se o golpe fosse uma coisa inevitável.

Não poderia haver coisa mais errada.

Não vai haver golpe. Repito. NÃO vai haver golpe. Lamento as maiúsculas, mas são necessárias neste caso.

2015 não é 1954 e não é 1964.

As circunstâncias são diferentes, completamente diversas – exceto pela vontade da direita de subverter o resultado das urnas e a democracia.

Alguns pontos:
– Não vivemos numa Guerra Fria. Os Estados Unidos, consequentemente, não têm marines prontos para despachar para o Brasil para defender os golpistas de direita;

– Não existe, no Brasil, um exército mobilizado para colocar os tanques nas ruas. Foi tão funesta a experiência dos militares no poder – 21 anos de poder e uma desastrosa obra em todos os campos, da política à economia, para não falar da questão social – que não existe a mais remota chance de uma segunda aventura dos generais por séculos.

– Nem Jango e nem Getúlio tiveram a internet como contrapartida para o massacre da mídia.

– Mesmo com o desgaste dos anos e de alianças bisonhas, o PT tem uma base social que ninguém pode subestimar. O Brasil entraria numa convulsão, e a direita sabe disso. Toda a raiva acumulada pela campanha de ódio da direita se traduziria em ódio na mesma medida da esquerda, e o país poderia virtualmente entrar numa guerra civil.

Por tudo isso, e por outras coisas que tornariam este artigo interminável, não vai haver golpe.

O que a direita quer, com sua gritaria histérica e alucinada, com suas ameaças tonitruantes e vazias, é manter os progressistas acoelhados, imobilizados até 2018.

E está conseguindo.

Espinha ereta: é isto que está faltando para os progressistas.

Coragem.

E discernimento.

Nestes dias, amigos no Facebook compartilharam, amedrontados, uma nota do Painel da Folha em que estava, segundo eles, o “roteiro do golpe”.

O Painel é feito pela mulher de um assessor de Aécio, e ex-editor da Veja.

Levar a sério?

Faz meses, anos, que a Veja afirma que o governo petista vai cair. Foi assim com Lula, é assim com Dilma.

É a vontade da Veja, porque um presidente amigo prolongaria com dinheiro público a vida da Abril, agonizante.

Só que entre a vontade da Veja e a realidade vai uma distância enorme.

Mas os progressistas parecem desconsiderar, e entram em pânico.

O medo imobiliza, e este é o principal problema para os progressistas.

Você sente desânimo para dar a melhor resposta para a gritaria conservadora: sair às ruas.

É nas ruas que a batalha vai ser ganha ou perdida. E não estou falando em golpe, mas em 2018.

Termino com Montaigne.

Num de seus melhores ensaios, ele afirmou: “Meu maior medo é ter medo.”

Os progressistas estão com medo – e a hora é para adultos, não para meninos assustados.

O NEOLIBERALISMO JÁ MORREU! FALTA, APENAS, ENTERRÁ-LO!

Sustentabilidade e Democracia

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Foto: Comemoração grega em relação à vitória do “não” no plebiscito do domingo.

Autor: Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado, mestre em ciências sociais.

A vitória arrasadora do “não” no plebiscito grego demonstrou que nenhum povo aguenta mais o receituário neoliberal, baseado no arrocho fiscal, no controle fundamentalista do gasto público e nas privatizações.

A Grécia foi o laboratório mais acabado de um modelo econômico e político que jogou a humanidade numa crise iniciada em 2008 e que parece não ter fim, e vem levando os indicadores de trabalho e renda, em todo o planeta, a resultados subterrâneos.

Tanto o “Berço da Cultura Ocidental”, como a Espanha, espremidas pela política fiscal imposta pelo Banco Central Europeu, comandando pelos interesses das poderosas economias Alemã e Francesa, e pelo Fundo Monetário Internacional – FMI, conviviam com taxas de desemprego absurdas, na casa dos 30% da população economicamente ativa, e…

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