O que seria um fascista-comunista?

O Brasil pirou na batatinha. Essa era uma gíria antiga, do tempo do saudoso Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto. Stanislaw publicou, entre 1966 e 1968, três livros com o título de FEBEAPÁ – Festival de Besteira que Assola o País, uma coletânea de crônicas baseadas em fatos, nas quais debochava das besteiras praticadas pelas autoridades civis e militares da ditadura. Era tanto material que foi possível publicar três livros em um período de dois anos. Não pode publicar mais, pois faleceu em 1968. Se fosse vivo hoje, poderia publicar uma enciclopédia por trimestre.

Hoje assisti a um vídeo onde manifestantantes bolsonaristas de São Paulo queimavam suas máscaras e gritavam slogans raivosos. Não satisfeitos, tiravam selfies, fotos e gravavam vídeos.

Um prato feito.

Enquanto jogavam suas máscaras no fogo, gritavam slogans contra a vacina, contra as máscaras e contra João Dória (que eles elegeram como prefeito e governador).
Chamavam as máscaras de focinheiras, talvez por experiência. Gritavam fora fascistas, fora fascista-comunista, fora comunistas e abaixo a focinheira.
Fascistas chamando os outros de fascistas eu nunca tinha visto. Xingar uma pessoa de fascista-comunista, também não. O que seria um fascista-comunista? Deve ser um tipo de fascista de esquerda, diferente deles que são fascistas-raíz, de extrema direita, uma espécie de fascista-fascista ou nazi-fascista, sei lá. Li, no Facebook, um bolsonarista chamar empresários da mídia de negócios de comunistas e de extremistas de esquerda. Ora, chamar empresários da imprensa que vivem do lucro, da sonegação de tributos e da exploração da mão de obra de comunistas ou de extremistas de esquerda é tão engraçado quanto aquele bando de malucos reunidos para queimar máscaras e chamar seus inimigos de fascistas-comunistas.
Stanislaw Ponte Petra revira-se no túmulo, às gargalhadas.

Idoso da Havan e o lixão ideológico

Leio, em rede social de um partido alinhado com as causas sociais e direitos humanos, críticas políticas ao dono da loja de departamentos Havan, apelidado Véio da Havan.

Robôs e seguidores de Bolsonaro ampliaram sua atuação nas redes sociais e adotaram a estratégia de invadir páginas e sites progressistas e espalhar fake news ou postar comentários absurdos, disfarçados de preocupação com a democracia ou com a liberdade de culto ou de expressão. Nada mais falso.

Este é o caso de um comentário que, a pretexto de defender o Véio da Havan das justas críticas políticas, compara este senhor a Marielle, alegando que ele está sendo vítima do que ele chama de ódio do bem. Ele dá a entender que esse tal ódio do bem é tão pernicioso quanto o ódio do mal, que eles praticam.

Ora, tornou-se normal no Brasil inverter os termos da equação para confundir a sociedade e obter dividendos políticos. O que era consenso, fruto da luta do ser humano pela sobrevivência em uma sociedade de competição e exclusão, o que foi convencionado como civilizatoriamente correto para evitarmos que os mais fortes e poderosos eliminassem os mais fracos transformou-se, na visão dos mais fortes, em conhecimento e sentimento descartáveis.

A civilização, necessária à convivência em equilíbrio dos seres humanos em uma sociedade cada vez mais integrada e interdependente, foi jogada no lixão ideológico dessa extrema direita bárbara.

Seria a crítica política fundamentada em valores éticos e civilizatórios comparável ao ódio – não precisamos qualificá-lo. Ódio é ódio – que a extrema direita dedica a tudo que é humano?

Claro que não. Por isso, fiz questão de responder ao comentarista que comparou o Véio da Havan a Marielle, como se fossem iguais. Leia abaixo:

Senhor comentarista, se você não vê diferença entre Marielle, uma pessoa que dedicou e perdeu sua vida na luta pelos direitos humanos, sem interesses financeiros e/ou escusos e o Idoso da Havan, uma pessoa que só pensa nos seus interesses financeiros e/ou escusos, financia a divulgação de mentiras contra adversários políticos e financiou ilegalmente campanhas políticas baseadas em fake news (o que é crime aqui e em qualquer país sério), entre outras atrocidades que ele fala e pratica,
deve ser porque o senhor o apoia ou é igual a ele.

E está minha manifestação não é ódio do bem nem elogio ao senhor.

Este meu comentário é uma manifestação política em resposta a um comentário absurdo, disfarçado de preocupação honesta. Ele é, na verdade, uma espécie de lamento, um sentimento que todos temos ao ver que a empatia com as pessoas – e no caso da Marielle e do Anderson, com pessoas que foram brutalmente fuziladas – e o que restava de humano, a humanidade, foram parar em um lixão ideológico que está destruindo o Brasil.

Destaque

Brasil: seguindo a matriz

Não tem a mínima chance de dar certo com Guedes e Bolsonaro, se o certo for um futuro para as pessoas no Brasil com acesso à Saúde, Educação, emprego digno, paz social, equilíbrio econômico e meio ambiente limpo, ou seja, vida digna para todos, sem distinção de cor, sexo e classe social.

Eles estão implementando uma política econômica contracionista, austericida, que desvia recursos da maioria da população e os transfere para o Estado e para um grupo pequeno de empresários oligopolistas.

Na ditadura, que começou em 1964 e desabou podre em 1985, cheia de cupins, gafanhotos, tortura, assassinatos e corrupção, um daqueles generais que eram nomeados presidentes pelos seus amigos de farda declarou, perplexo, que: “a Economia vai bem, mas o povo vai mal”.

Esse general nunca aprendeu uma regra básica, simples: se o povo vai mal, o Estado e o mercado (que é o que eles chamam de Economia) não podem ir bem. Guedes e Bolsonaro repetem exatamente o mesmo erro dos generais da ditadura: estão alheios à realidade que os cerca. Fingem não ouvir os apelos e insistem em ideias ultrapassadas que levaram outros países ao caos social e econômico.

Alguns generais ainda hoje, em pleno ano de 2020, demonstram um descolamento da realidade e dos fatos que assustam qualquer cidadão minimamente preocupado com o futuro do Brasil. Um desconhecia o que era o SUS, mesmo tendo sido nomeado ministro da Saúde e outro, que exerce a função de vice-presidente, elogiou o mais produtivo e sanguinário dos torturadores da ditadura de 1964 no Brasil.

Vai demorar um pouco para as pessoas sentirem na pele que suas vidas prioraram.

Quando acordarem, corremos o risco de parte desse povo, contaminada pelas notícias falsas e tomada pelo ódio, se torne ainda mais radical e comece a assassinar, à luz do dia, aqueles que ela considera seus inimigos, pois está armada e organizada em falanges e milícias.

Nos Estados Unidos foram descobertos pelo FBI, e presos, treze integrantes de uma milícia paramilitar neonazista que planejava sequestrar a governadora democrata de Michigan Gretchen Whitmer e outras autoridades do estado antes das eleições presidenciais de novembro próximo. O plano envolvia, ainda, um “julgamento por traição” contra a governadora democrata, nos moldes do grupo Estado Islâmico.

Eles não estão brincando. Nós não podemos fingir não ver.

Fontes da notícia: G1, nbcnews, CNN, BBC.