Não chegaremos à Índia queimando caravelas e sua tripulação

Resposta a um comentarista de duas frases prontas que, sem parar para pensar, acha que é possível alcançar a prosperidade econômica de um país arruinando a vida das pessoas e concentrando a renda nas mãos de meia-dúzia de sócios.

Ele não percebe que a Economia é a soma da prosperidade das pessoas e não, somente, de uns poucos agentes econômicos com capacidade para comprar 8/10 horas de tempo de vida de uma pessoa e colocá-la para multiplicar sua (dele) riqueza.

O comentarista tem, obviamente, um nome. Mas, infelizmente, são tantos com a mesma visão estreita e distorcida, que vamos chamá-los de Bozo Neto, representando esse fanático médio, que invadiu as redes sociais, armado com um teclado e a cabeça colonizada por meia-dúzia de chavões e frases vazias.

Leia a seguir.

Paulo Martins

Bozo Neto, você precisa entender que é impossível chegar à prosperidade dos 212 milhões de brasileiros quando se desenvolve uma política econômica que direciona as rendas e os lucros para os 12 milhões do topo da pirâmide econômica/social, concentrando ainda mais a renda e o capital social, negligenciando os 200 milhões de pessoas restantes.

Nenhum capitalismo resiste a uma distribuição de renda tão perversa e desestimulante aos novos negócios. Isto já é consenso no mundo desenvolvido e civilizado.

Um sistema econômico que coloca de um lado uma minoria que é incentivada a produzir bens e serviços e, do outro, consumidores maltrapilhos sem renda para consumir, não pode funcionar.

Em um país uberizado, de pessoas com fonte de renda precarizada, lutando para sobreviver, os fabricantes não conseguem escala de produção para reduzir seus custos de produção pelos ganhos de escala e pela otimização dos seus processos e, portanto, não conseguem entregar produtos com qualidade a custo competitivo.

Sem investimento nas universidades públicas e nos centros de pesquisa e inovação, não teremos tecnologia para enfrentar os concorrentes nem dos países de economia emergente.

Sem um forte investimento em educação (e saúde), teremos u’a mão de obra de baixíssima produtividade.

Na ditadura de 1964 um desses generais que tiraram o serviço militar na presidência da República declarou, se achando o cara mais inteligente do mundo:

“A economia vai bem, mas o povo vai mal”.

É a mesma visão míope de Paulo Guedes e seus cúmplices. Como explicar para esses economistas de porta de cadeia que é impossível a economia ou as finança públicas irem bem se o povo – o verdadeiro destinatário do funcionamento benéfico de um sistema econômico – vai mal?

Como explicar para os fanáticos do Bolsonarismo, com sua visão robotizada baseada em tudo que é incorreto – política/econômica/socialmente – que destruindo as caravelas e os tripulantes não vamos descobrir o caminho marítimo para as Índias?

Eu já sei. A experiência adquirida com as diversas tentativas frustadas nos dizem que é impossível conseguir sucesso nessa empreitada.

Acho que vou deixar que cada um bata com a caravela da sua vida nas pedras ou se choque com um iceberg para que ele entenda, sozinho, pelo exemplo, que não se entrega a direção de um Titanic nas mãos de um capitão que nunca pilotou nem uma piroga.

Quem sabe não acordarão nas águas geladas da Antártida, pelo choque de temperatura?