Não se iludam: nem os passageiros da primeira classe vão se salvar

Um tresloucado tenente reformado como capitão, indigno de vestir a farda, humilhou os generais lambe-carpete de palácio.

Na essência, nada me surpreendeu. Já vimos este filme antes, com outros atores nos papéis principais: Hitler, Mussolini, Pinochet, Franco, Salazar, Marcos, Massera, Videla, Garrastazu … Todos do mesmo nível de Bolsonaro. Mas, na comparação geral, acho que o time do Brasil como um todo supera os times formados por estes carniceiros.

O único que tem o emprego garantido, Mourão, não falou nada, porque é cúmplice. Mourão estava curtindo o esporro que Bolsonaro estava dando nos outros.

Eu já sabia que eles eram toscos, que eles estavam montando falanges armadas e que eles não estavam nem aí para as mortes que já registramos e para as que vamos registrar.

Eu já sabia.

Mas, mesmo assim, acordei envergonhado de dividir cidadania brasileira com esses monstros morais.

Eles pensam que são os donos do Brasil. Misturam público e privado e falam como se tivessem recebido, por meio do voto de 27% (menos que um terço) da população do país, um mandato para aniquilar os demais 73%.

Na infame reunião ministerial, um grupo de meia-dúzia de genocidas, cada um na sua especialidade criminal – Weintraub, Guedes, Damares, Salles, Pedro Guimarães, Ernesto Araújo – , tendo Bolsonaro como chefe detalhou, em meio a palavrões e ofensas, o plano de extermínio dos demais brasileiros, que eles consideram seus inimigos e indignos de viver.

Expuseram seus planos de destruição e aniquilação dos seus inimigos, a devastação do meio ambiente e a criação de uma falange armada para uma guerra que pretendem fomentar.

Babaram sua gosma odiosa nas gravatas, esbugalharam os olhos e deixaram evidentes aos olhos da Nação e do mundo que o poder no Brasil está nas mãos de um grupo de desequilibrados e de despreparados intelectual e emocionalmente.

Não tem chance dessa zorra levar o Brasil para um porto que seja seguro. Este titanic está destinado a bater no iceberg e nem os passageiros da primeira classe vão se salvar.

Nem os passageiros da primeira classe vão se salvar.

Gerações marcadas, Brecht

Bem antes de sobre nós aparecerem os bombardeiros

Eram já inabitáveis

Nossas cidades. Canalização nenhuma

Nos livrava da imundície.

Bem antes de cairmos em batalhas sem sentido

Ainda andando por cidades ainda intactas

Nossas mulheres

Eram já viúvas

E nossos filhos órfãos.

Bem antes de nos lançarem em covas aqueles também marcados

Éramos sem alegria. Aquilo que a cal

Nos corroeu

Já não eram rostos.

A marcha dos camisas pardas

Editorial de O Estado de São Paulo. A Marcha dos Camisas Pardas. 09/05/20

A marcha dos camisas pardas
Um grupo de brucutus apoiadores de Jair Bolsonaro armou acampamento para organizar invasão ao Congresso e ao STF
Notas e Informações, O Estado de S.Paulo

09 de maio de 2020 | 03h00

Um grupo de brucutus apoiadores do presidente Jair Bolsonaro – chamados “300 do Brasil” – armou acampamento no entorno da Praça dos Três Poderes para organizar uma invasão ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Os camisas pardas do bolsonarismo, que agora vestem verde e amarelo e roupas camufladas, programam uma marcha sobre Brasília neste fim de semana. “Nós temos um comboio organizado para chegar a Brasília até o final desta semana. Pelo menos uns 300 caminhões, muitos militares da reserva, muitos civis, homens e mulheres, talvez até crianças, para virem para cá e darmos cabo dessa patifaria”, ameaçou Paulo Felipe, um dos líderes da milícia acampada, em vídeo divulgado em uma rede social.

A palavra “patifaria” não foi escolhida ao acaso. Resulta de uma irresponsável incitação. No dia 19 de abril, dirigindo-se a apoiares reunidos em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro exortou a súcia que pedia o fechamento das instituições democráticas a “lutar” com ele. “Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. Acabou a patifaria!”, bradou Bolsonaro, como se estivesse prestes a descer da Sierra Maestra, e não de uma caminhonete transformada em palanque.

Segundo o portal Congresso em Foco, outro que está por trás da gravíssima ameaça de assalto ao Congresso e à Corte Suprema é Marcelo Stachin, um dos líderes da campanha de formação da Aliança pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro pretende criar para chamar de seu. Ainda não se sabe quando, e se, a Aliança pelo Brasil cumprirá os requisitos legais e será autorizada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Fato é que a agremiação está muito mais próxima de um movimento golpista do que de um partido político.

Nos regimes democráticos, em especial em democracias representativas como é o caso do Brasil, os partidos políticos são as organizações por meio das quais os cidadãos participam da vida pública para contribuir na construção daquilo que em ciência política se convencionou chamar de “vontade do Estado”. Como se afigura, a Aliança pelo Brasil pretende o exato oposto, qual seja, eliminar qualquer possibilidade de diálogo para a formação daquela vontade. Assumindo a ação direta, como a criminosa intentona em Brasília, assemelha-se à tropa de segurança do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, criada em 1920 e precursora da temida Sturmabteilung (SA), a Seção de Assalto de triste memória. Quem duvida que veja as imagens das agressões dos camisas pardas a enfermeiras e jornalistas.

Na essência do movimento de formação da Aliança pelo Brasil, defendido e liderado por alguns dos que estão acampados em Brasília a ameaçar o Congresso e o STF, estão todos os elementos que identificam um movimento golpista, e não um partido político: a evocação a um passado mítico e glorioso; a propaganda (não raro disseminando informações falsas ou distorcendo fatos); o anti-intelectualismo; a vitimização de Jair Bolsonaro, tratado como um bom homem cercado de “patifes” por todos os lados, o “sistema”; o apelo a uma noção de “pátria” por meio da apropriação dos símbolos nacionais; e, por fim, a ação pela desarticulação da União e da sociedade. O que pode ser mais desagregador do que um movimento que ameaça partir para a ação violenta com o objetivo de fechar a Casa de representação do povo e a mais alta instância do Poder Judiciário? Não por acaso, o STF tem despertado especial revolta entre os camisas pardas do bolsonarismo. Classificada pelo tal Paulo Felipe como uma “casa maldita, composta por onze gângsteres”, a Corte Suprema tem se erguido em defesa da Constituição contra os avanços autoritários do presidente Jair Bolsonaro.

Um ato golpista desse jaez, cujos desdobramentos são imprevisíveis, é repugnante por si só e merece imediata condenação por todas as forças amantes da lei e da liberdade no País, em especial as Forças Armadas, citadas nominalmente tanto pelo presidente como por alguns dos líderes da ação golpista. É ainda mais acintoso porque toma justamente o local que representa a essência desta República para urdir um ataque aos Poderes Legislativo e Judiciário. Terá esse episódio mais uma vez o apoio explícito do chefe do Poder Executivo?

Aldir Blanc

ALDIR BLANC “Peço desculpas aos que têm me procurado hoje. Não tenho condições de falar. Aldir foi mais do que um amigo pra mim. Ele se confunde com a minha própria vida. A cada show, cada canção, em cada cidade, era ele que falava em mim. Mesmo quando estivemos afastados, ele esteve comigo. E quando nos reaproximamos foi como se tivéssemos apenas nos despedido na madrugada anterior. Desde então, voltamos a nos falar ininterruptamente. Ele com aquele humor divino. Sempre apaixonado pelos netos. Ele médico, eu hipocondríaco. Fomos amigos novos e antigos. Mas sobretudo eternos. Não existe João sem Aldir. Felizmente nossas canções estão aí para nos sobreviver. E como sempre ele falará em mim, estará vivo em mim, a cada vez que eu cantá-las. Hoje é um dos dias mais difíceis da minha vida. Meu coração está com Mari, companheira de Aldir, com seus filhos e netos. Perco o maior amigo, mas ganho, nesse mvar de tristeza, uma razão pra viver: quero cantar nossas canções até onde eu tiver forças. Uma pessoa só morre quando morre a testemunha. E eu estou aqui pra fazer o espírito do Aldir viver. Eu e todos os brasileiros e brasileiras tocados por seu gênio.”

João Bosco – 04/05/2020