ELEGIA 1938

ELEGIA 1938

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

In: ANDRADE, C. D. Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Resposta a um terraplanista econômico, social e político

Fulano, mesmas respostas e mesmos argumentos do PT. Se valem aqui, deviam valer lá. A grande diferença é um PGR que advoga pró-Queiroz, para livrar a famiglia.

Vocês foram abduzidos e só o tempo irá esfregar a realidade na cara do brasileiro. Muitos sofrerão. Do modo mais cruel: desempregado e passando fome. Alguns continuarão devotos e fiéis, como os seguidores da Pastora Flor de Lis, que estão fazendo um movimento para perdoá-la. Qual religioso que não faz suruba familiar e suingue, não é mesmo? Qual religioso que, para não separar e ofender a Deus, prefere matar o cônjuge?

O empoderamento do anti-civilizatório, a crise de civilização, a falta de empatia com a dor do próximo e o endeusamento do incorreto – política e socialmente – são as pragas do Século XXI.

O Brasil embarcou em uma mentira coletiva, em uma canoa furada. As pessoas recebem sua ração diária de fake news e saem babando ódio e acham que têm solução fácil para os problemas do país.

Acham que basta acabar com a corrupissão e a economia vai deslanchar. Acham que basta acabar com a participação do Estado na economia que a fada madrinha vai bater sua varinha mágica trazer a confiança e os empresários sangue-sugas e sonegadores (política, social e economicamente incorretos) vão ver Deus e, como uma benção, vão investir, “dar” empregos intermitentes ou por conta própria ou sem direitos trabalhistas e o Brasil vai crescer com a velocidade dos delírios do Paulo Guedes.

Ouviram falar, nas aulas de Macroeconomia capitalista, no multiplicador dos gastos públicos, na receita de Lord Keynes e no New Deal norte-americano mas, desonestamente, chamam isso tudo de “Comunismo”. Com o seu terraplanismo macroeconômico pretendem alcançar o crescimento econômico do capitalismo matando os dois principais motores da demanda agregada: Consumo (público e privado) e Investimento público.
Na área política, o governo Bolsonaro está “combatendo” a corrupissão aliando-se aos corrupitos:

  1. já detonou a Lava-Jato e já podou as garras de Dallagnol. Aras, estrategicamente nomeado, fez o trabalho.
  2. Aliou-se ao Centrão de Roberto Jeferson, Waldemar Costa Neto e todos os bichos mais escrotos do Congresso estão na mesma Arca da famiglia Bolsonaro. Até o Temer. Todos cooptados com presidência de órgãos públicos, comissões do Congresso ou com verbas públicas orçamentárias e extra-orçamentárias. Essa corrupissão pode, é para o bem do país. Só não dizem qual país: o país em que nasceram ou o país o qual realmente amam.

Obrigado por deixar a bola quicando. Obrigado pelo espaço.