Grande Fortuna: Moto-Contínuo ou Máquina de Movimento Perpétuo

Blog Cidadania & Cultura

Gestão da Patrimônio jun 2015Private Banking jun 2015Fundos jun 2015 Um moto-contínuo ou a máquina de movimento perpétuo são classes de máquinas hipotéticas as quais reutilizariam indefinidamente a energia gerada por seu próprio movimento. Tanto teoricamente, quanto experimentalmente, as propostas de moto-contínuos são universalmente vistas com descrença pelos físicos. Um moto-contínuo, além de violar as lei da termodinâmica, violaria também a chamada Lei Áurea da Mecânica, segundo a qual o trabalho aplicado é igual ou maior que o trabalho realizado.

No entanto, no Brasil, a “indústria (sic) de Fundos” cresce por moto-contínuo! A política de juros elevadíssimos adotada pela casta dos sábios-tecnocratas, aliados aos sábios-economistas-chefes, permite aqui esse milagre econômico: o trabalho aplicado é igual ou maior que o trabalho realizado!

No primeiro semestre de 2015, os ativos de todos Fundos somaram quase três trilhões de reais: R$ 2.909.692,3 milhões. Mas a captação líquida no ano foi de apenas R$ 19,08 bilhões, ou seja, os ativos totais…

Ver o post original 2.237 mais palavras

Vamos dar nomes aos bois (2) revisado

Dar nome aos bois? Nomeá-los um a um? Bem que merecem. É melhor não fazê-lo. Eles são poderosos. Têm o poder de decidir sobre o nosso presente, desconsiderar nossos votos e esquecer que perderam eleições democráticas e de distorcer a mentira transformando-a em verdade inquestionável.

A este dom eles chamam de justiça ou neutralidade.

Nós sabemos seus nomes. Todos sabem.

Seja o Ministro do Supremo Tribunal da Injustiça, o “impoluto” membro do Superior Tribunal Aético Eleitoral Seletivo, arrogantes e tiranos cavalheiros que julgam que seus votos valem mais do que os votos dos demais, a Bancada BBBB – do Boi, da Bíblia, da Bala, dos Bancos, os execráveis presidentes de casas legislativas ou os pálidos vermes donos da comunicação (neutra-mentira) oligopolizada que sugam o sangue da pátria, não é necessário nomeá-los.

Todos sabemos quem são.

E sabemos que o poema do Neruda lhes serve como carapuça, adaptada com perfeição, com chifres e tudo.

Paulo Martins

Serão nomeados – Pablo Neruda

Enquanto escrevo, minha mão esquerda me

reprova.

Me diz: por que os nomeias, que são, que valem?

Por que não os deixaste em seu anônimo lodo

de inverno, nesse lodo em que urinam os cavalos?

E minha mão direita lhe responde: “Nasci

para bater nas portas, para brandir os golpes,

para acender as últimas retiradas sombras

nas quais se alimenta a aranha venenosa”.

Serão nomeados. Não me entregaste, Pátria,

o doce privilégio de nomear-te

apenas em teus alhelíes e tua espuma,

não me deste palavras, Pátria, para chamar-te apenas

com nomes de ouro, de pólen, de

fragrância,

para esparzir semeando as gotas de orvalho

que caem de tua negra cabeleira imperiosa:

me deste com o leite e a carne as sílabas

que nomearão também os pálidos vermes que viajam no teu ventre,

os que acossam o teu sangue, saqueando-te a vida

As grandes fortunas, a CPMF e a batalha da comunicação, por Miguel do Rosário

Quando eu falo que o maior problema do governo é a comunicação, imagino as pessoas torcendo o nariz. Uma logo pensa em rebater: não, não é! É a política! Outro se indigna: claro que não, o principal problema é a corrupção!

O próprio governo parece não saber o que é comunicação, o que significa que também esqueceu como fazer política.

Comunicação não pode ser confundida com a sua prima ordinária, a propaganda, nem com sua tia esnobe, as relações públicas.

Pensada no sentido mais pleno, mais profundo, a comunicação é alma que dá vida às línguas, à política, à arte.

A comunicação tem o poder de transformar o mundo.

Hoje os maiores lucros do planeta estão em mãos de empresas de comunicação, tanto as ligadas às novas tecnologias (Google, Facebook, Apple), quanto àquelas do setor de telefonia e celular (Nokia, Motorolla, etc).

O setor de entretenimento, uma das áreas mais nobres da comunicação, já se tornou a atividade econômica mais importante dos Estados Unidos, e o seu segundo maior gerador de divisas.

No setor militar da potência número 1 do planeta, a área de comunicação é uma das mais estratégicas e que mais recebe novos investimentos.

A CIA foi engolida pela NSA, a agência secreta americana especializada em espionar o mundo inteiro usando tecnologias de comunicação.

O grande capital mantém a sua hegemonia ideológica no mundo através dos meios de comunicação, que formam hoje uma vasta rede internacional.

Lembro-me quando o editor da Época, Diego Escosteguy, publicou uma mentira sobre Lula na revista, e foi rapidamente desmentido pelos fatos, ele procurou se apegar ao fato de sua mentira ter sido reproduzida ad infinitum por dezenas, quiçá centenas, de órgãos de imprensa mundo afora.

São todos submetidos ao mesmo padrão editorial, determinado pela matriz.

Se a ordem, por exemplo, é disseminar clichês mentirosos sobre a Venezuela e o Irã, é incrível como todos se engajam com disciplina.

A mentira da Época repercutiu lá fora, e com isso, voltou para dentro do país com força para se tornar uma verdade. Mais tarde, tornou-se efetivamente uma verdade: o ministério público do Distrito Federal abriu um inquérito sobre Lula.

Vamos trabalhar um caso concreto, aqui no Brasil.

O Cafezinho apoia o imposto sobre grandes fortunas e a volta da CPMF, dois tributos que estão na pauta do debate público.

A CPMF foi derrubada essencialmente pela Globo, que publicou inúmeros editoriais e matérias manipuladoras e mentirosas, várias das quais foram inclusive lidas por senadores na tribuna. Desde sua derrubada até hoje, a ausência do imposto retirou centenas de bilhões de reais da saúde pública.

Seguramente, a aprovação do governo e a popularidade da presidenta estariam bem melhores hoje se a CPMF houvesse sido mantida.

Muitos casos de corrupção, além disso, teriam sido combatidos na raiz, visto que a CPMF permitia um monitoramento minucioso, por parte das autoridades, da circulação de dinheiro entre os agentes econômicos.

Ficamos ainda mais contentes em saber a CPMF será destinada, em boa parte, diretamente aos municípios.

Isso daria a autonomia financeira que as cidades mais precisam – paralelamente, claro, ao aumento na transparência no uso desses recursos, para que não sejam escoados no ralo dos gastos inúteis, ou desviado para o bolso de políticos e empresários.

Felicitamos, portanto, a presidente e o governo por decidir abraçar essas duas ideias, a CPMF e o imposto sobre grandes fortunas.

Ambas são medidas racionalmente impecáveis, tanto do ponto-de-vista fiscal e como do social.

Concordamos, no entanto, com o presidente do senado, Renan Calheiros, que afirmou que a iniciativa sobre a CPMF pode ser um tiro no pé.

Eu diria que ambas podem ser.

Não no pé de Renan, claro. Ao contrário, a discussão pela volta da CPMF serviu de bola para Renan cortar.

Ele tem a chance de aparecer na capa do site do Senado, e em toda a parte, como um heroi da economia.

CPMF, CIS e a manipulação

Na semana passada publiquei um texto de Boaventura Souza Santos intitulado “Para ler em 2050”. No excelente artigo ele avança 35 anos e analisa, olhando para hoje, as mazelas do nosso tempo. Uma das mazelas citadas no texto é a manipulação da opinião para transformar em interesse público o que é, na verdade, interesse privado.

Esta é a frase pinçada do texto:

A opinião pública passou a ser igual à privada de quem tinha poder para a publicitar.

Acesse aqui o texto completo do artigo do Boaventura: http://wp.me/p5ihlY-M1

Vamos ao assunto desde post.

O anúncio da criação de uma contribuição interfederativa, temporária, destinada exclusivamente aos gastos com a saúde, a ser repartida entre os entes federativos e a viger por quatro anos, mereceu verdadeiro bombardeio do oligopólio de comunicação Organizações Globo.

Considero a CIS – Contribuição Interfederativa da Saúde excelente ideia. Estados e Municípios estão com suas finanças em situação caótica e o SUS – Sistema Único de Saúde, em situação de penúria na grande maioria dos Municípios.

Por motivos exclusivamente particulares os donos do oligopólio Organizações Globo, em vez de apresentar os prós e contras do projeto para permitir um debate amplo e honesto sobre o assunto, no interesse do bem-comum, distorce a comunicação e manipula a notícia para atender aos seus interesses particulares travestidos de interesse público.

Na edição de ontem o Jornal Nacional direcionou seu canhão contra a CIS – Contribuição Interfederativa da Saúde. Entrevistou verdadeiros “especialistas” no assunto para falar contra a proposta. As sumidades do mundo acadêmico e econômico-financeiro consultadas foram: Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Paulo Skaff e, se a memória não me falha, o sempre “sábio”, Álvaro Dias.

A chamada do âncora William Bonner para a matéria foi escandalosa.

Pretendo escrever outros posts sobre o assunto para apresentar os prós e contras e esclarecer, tanto quanto possível, o funcionamento deste novo tributo.

Não tenho dúvidas: a campanha contra a Contribuição da Saúde será forte, simplista e emburrecedora, a exemplo do que ocorreu na implantação do programa Mais Médicos.

Infelizmente.

Como sempre.

Paulo Martins

O novo normal e o cemitério das nações

Por Saul Leblon, no site Carta Maior:

(também publicado pelo Miro, em seu blog).

A ideia de que o Brasil não tem mais jeito é poderosa, conta com avalistas de peso.
Interesses antipopulares, em qualquer época, acalentam esse horizonte sem ponto de fuga, onde se possa acuar qualquer iniciativa que desafie a lógica conservadora.

Essa por exemplo: dar a Moro o que é de Moro; e devolver à sociedade brasileira a prerrogativa de organizar o seu desenvolvimento, recapacitar suas empreiteiras, resgatar projetos estratégicos, descongestionar o futuro, o investimento, o emprego e a renda.

‘Não, não, não , isso não pode, é pênalti’, apita o bandeirinha José Serra.

Do camarote cativo que lhe concede o jornalismo isento, o tucano crocita como se fora ave de outra cepa.

Não há esperança, insiste, os dedos longos estendidos como bisturis a lancetar o futuro.

‘No governo Jango, o Brasil ao menos estava dividido’, recorda, testemunha ocular daquele golpe.

‘Hoje a rejeição é total’, constata agora do outro lado da mesa, onde passou a ocupar o papel de embaixador da Chevron nesse tratado de Viena em gestação, no qual preconiza transformar poços do pré-sal em reparações de guerra servidas aos mercados.

Quando? Assim que a saturação do ‘consenso’ virar outra coisa.

Talvez aquela que os editoriais de março de 1964 exprimiam em garrafais exclamativas, do tipo ’Basta!’; ‘Fora!’

Serra viveu aquilo; ele sabe que consensos são construções transitórias.

Não raro postiças.

Caso da rendição incondicional que se exige hoje da sociedade, em agendas que magnificam os desafios da nação para desmantelá-la.

Os imperativos de ontem, assim como os ajustes e hoje, viram fumaça porém quando o futuro ganha a largueza de uma outra lógica, que redefine a correlação de forças e a alocação dos recursos, pavimenta pactos e linhas de passagem para destravar o desenvolvimento.

O economicismo veta (‘não, não há saída antes de piorar’).

Mas o economicismo é a soberba da razão e não o motor da história.

Política é economia concentrada.

Os exclamativos alardeados em 1964 demonizavam os conflitos do desenvolvimento como ameaças à democracia.

Dados coletados pelo Ibope então mas não divulgados (e hoje armazenados na Unicamp), mostravam uma realidade distinta da ira consensual sentenciada pelas aves de agouro da época.

Nos dias 20 e 30 de março de 1964, quando a democracia já era tangida ao matadouro pelos seus paladinos, pesquisadores constatavam nas ruas que 59% dos brasileiros apoiavam as medidas anunciadas pelo Presidente João Goulart para enfrentar a crise.

Uma parte delas seria oficializada na famosa sexta-feira, 13 de março.

Em comício na Central do Brasil, ‘Jango’ assinaria então vários decretos que expropriavam terras às margens das rodovias para a reforma agrária, nacionalizavam refinarias, sinalizavam a reforma urbana, fiscal e educacional.

Tudo o que era demonizado pelo jogral golpista como se fora a voz da sociedade era apoiado pela parcela majoritária da população.

Estamos falando de 1964 ou de 2015?

Dos dois.

Um aparato midiático interliga os calendários com a mesma determinação de ocultar elementos da encruzilhada econômica, exacerbar adversidades, manipular o debate e interditar as reformas requeridas nas transições de ciclo de desenvolvimento.

Foi assim que se modelou a opinião pública para o golpe em 64, mesmo contra o discernimento majoritário da população sobre as ‘reformas de base’.

O martelete da corrupção e do comunismo imobilizou esse discernimento.

Em grande medida foi assim também que se logrou convencer o governo reeleito em 2014 de que nada mais restava do que renunciar ao seu programa para adotar o do adversário.

Caso contrário, um meteoro atingiria o país para desintegrá-lo.

Um pouco como a fatalidade crocitada por Serra, que não informa o que nos reserva o day after de seu vaticínio.

Mas há pistas.

Siga o dinheiro.

Ou as entrevistas do ex-presidente do BC, no governo Fernando Henrique Cardoso, Armínio Fraga

Cogitado para comandar a economia em qualquer governo conservador, sua receita –reiterada no Valor, na semana passada, é tão peremptória quanto os imperativos de 64.

O país precisa de uma faxina econômica – ‘como a que fizemos em 1999’, diz ele.

O que eles fizeram em 1999?

Lançaram as fundações daquilo que debitam agora exclusivamente à lista de pecados de Lula e Dilma.

Valorizaram a moeda artificialmente para criar a pretensa bonança do Real forte, com base em importações baratas.

Essa foi a pré-compra da reeleição.

Perto disso, os R$ 200 mil do deputado Ronivon foi troco de pinga.

A desindustrialização alçou voo aí para não mais aterrissar.

A decolagem abriu um buraco nas contas externas equivalente a 4,3% do PIB no ano seguinte ao da reeleição.

A purga veio na forma de uma maxidesvalorização que se pretendia ‘controlada´ em 8%.

Isso era o que se dizia em 1º de janeiro de 1999.

No dia 29 ela já havia batido em 60% (fatiando assim o poder de compra da famílias assalariadas).

A taxa de juro foi calibrada então para segurar o rebote dos preços desprovidos da âncora dos importados.

Armínio deu ao mercado financeiro local e global uma Selic real (acima da inflação) de 22% . Hoje está perto de 8% e Serra, distraído, diz que isso é uma calamidade.

É mesmo, mas o passado a relativiza.

O salário mínimo (ajustado p/ efeito de comparação aos preços de 2011) despencaria de R$ 414 reais em 1990 para R$ 287 reais após a purga.

Juros em alta, dívida pública em escalada sideral, salários pelo ralo.

Foi isso que ‘fizemos’ em 1999.

O país só escapou do precipício porque havia um vento à favor no mercado mundial.

O dólar forte levaria os EUA às compras; a fome chinesa por commodities ganhava corpo; os saldos comerciais incentivariam a América Latina a importar manufaturados do Brasil.

Esse mundo acabou.

E o que começou será fortemente modelado por aquilo que a China anuncia como sendo o seu ‘novo normal’.

A saber: esgotamento do ciclo puxado por taxas de investimento de 45% do PIB (Brasil, 17,5%) e menor demanda por matérias primas.

Não só.

A transição chinesa vem se fundir à longa convalescença da desordem neoliberal inaugurada em 2008 e sem prazo para acabar.

Os impactos já são palpáveis.

A anemia do comércio mundial emparedou as economias emergentes, tirou o canal de recuperação da Europa e rebateu nas vendas da China.

A resposta de Pequim adicionou lava vulcânica à fervura com uma desvalorização cambial que pode contagiar o mundo.

Só na semana passada, o rublo sofreu uma depreciação de 5,3%; o peso colombiano, de 4,1%, o peso mexicano, 3,2% e a lira turca, quase 3%.

Em contrapartida, o dólar valorizado derrubou as exportações norte-americanas em quase 3% no 1ºsemestre.

E as importações não escaparam de uma retração de 2,2% evidenciando (ademais do fator petróleo) o calcanhar de Aquiles que impede Obama de ser um Roosevelt : a corrosão estrutural do poder de compra das famílias assalariadas e da classe média antes afluente.

O maior mercado capitalista do planeta arfa com os pulmões do consumo comprometidos.

Obama paga a fatura de quatro décadas de ventos neoliberais em que a pujança econômica se dissociou da oferta de empregos de qualidade, realocados com a indústria para o desfrute dos custos asiáticos.

No momento em que o dínamo chinês patina, o mundo percebe as estreitas interações do metabolismo capitalista, agora desprovido de qualquer ponto de apoio dinâmico.

Tudo o que é sólido se desmancha no ar.

Na semana passada, a indústria chinesa crescia ao ritmo mais baixo desde 2009; a dos EUA, no mais baixo dos últimos dois anos.

A correia sino-americana que puxava o mundo travou.

Entre 15% e 20% do faturamento global das múltis dos EUA ocorrem na China (e Japão). Se essa endogamia entra em litígio, o que sobra?

O ‘novo normal’.

A China cresce menos, o comércio global encolhe, os EUA patinam , a Europa desidrata, o mundo emergente regride e a guerra cambial se impõe.

Pergunta aos Armínios e Levys:

–Esse miserável mundo novo recomenda a adoção de uma ajuste baseado em arrocho fiscal, esfarelamento do poder de compra interno, desemprego, juros recessivos e retração do investimento público?

Como ‘fizemos’ em 1999?

E se não der certo agora no mundo contraído de 2015?

Como de fato já não deu o lacto purga de Levy. Esse que acentuou a recessão, elevou a inflação, derrubou a receita fiscal e vitaminou o déficit público que se pretendia reduzir.

Arroche-se ainda mais –‘como fizemos em 1999’, insiste o perseverante Armínio no seu parlatório no Valor.

Até?

Até emergir o milagre da contração expansiva. Essa fé ortodoxa na ressurreição que sanciona catástrofes sociais e humanas em nome de um equilíbrio endógeno que o capitalismo simplesmente não pode satisfazer.

Há oito anos a população grega espera pelo milagre. Seu metabolismo econômico e social em carne viva suporta a salmoura de ajustes sucessivos.

Igual terapêutica prescreve-se agora para uma economia brasileira pecadora, ‘envenenada’ pela criação ‘voluntarista’ –dizem FHC, Armínio, Aécio e assemelhados…– de 20 milhões de empregos em 12 anos, ademais das pressões de um mercado de massa de 100 milhões de pessoas.

Esse Brasil não cabe no orçamento.

É o que sibila o cerco à Constituição de 1988.

O recado que unifica as redações mostra que o tanquinho de areia de Kim Catupiry é coisa séria: despesas obrigatórias consagradas pela Carta Cidadã proclamada pelo digno brasileiro Ulysses Guimarães estão na alça de mira de uma curetagem conservadora

Com que finalidade?

‘Transformar direitos universais em serviços pagos’, adverte a professora Marilena Chauí em suas aulas públicas.

Ou para dizer a mesma coisa em uma chave política: abortar exemplarmente a ousadia de se construir uma democracia social na sétima maior economia do planeta e principal referência da luta pelo desenvolvimento, depois da China.

Passados seis meses da festejada terapia, impôs-se ao governo, felizmente, a constatação de que o aperto no crédito e no investimento –com corte de gastos e elevação de juros, jogou a economia num buraco mais fundo do que já se encontrava.

O fracasso favorece a retificação de curso?

Em parte sim.

Mas o país só se libertará da lógica conservadora, de fato, se as fileiras progressistas conseguirem superar sectarismos e hesitações para promover uma verdadeira repactuação democrática do futuro brasileiro.

Não se trata de um jogo do tipo o vencedor leva tudo.

É uma negociação.

Implica desenhar linhas de passagem ordenadas por metas, concessões, salvaguardas e escalonamentos de perdas e ganhos.

As opções são duas: crise permanente à moda grega; ou o desassombro de politizar as escolhas do desenvolvimento.

A pá de cal jogada por Serra não é uma fatalidade, mas um ingrediente do acirramento da luta de classes.

Na margem do rio em que ele se encontra interessa dizer, à moda Thatcher, ‘there is no alternative’.

Há. Mas precisa ser pavimentada com a construção dos sujeitos dotados de força e consentimento para renegociar alternativas.

Erra o tucano ao não conceder à Presidenta Dilma uma base de apoio histórica.

Ela existe, objetivamente; mas aguarda a agenda que lhe dará a identidade subjetiva que a ação política requer.

O colapso da receita ortodoxa abre a oportunidade para esse resgate.

Precisa ser acionado, porém, antes que o país, seu povo e o desenvolvimento sejam mastigados pelo miserável mundo novo esboçado no novo normal do capitalismo.

Passa da hora de uma agenda que fale ao futuro de toda a sociedade.
Que dê a Moro o que é de Moro.

E à democracia a prerrogativa de contrapor o investimento à ruína.

Devolver à sociedade o comando do seu destino era como Celso Furtado definia a essência do desenvolvimento.

É preciso ir à essência para escapar aos coveiros que recusam ao Brasil outro destino que não o cemitério das nações.

Guernica – Pablo Picasso – Quadro Animado – Sensacional

Diálogos Essenciais

Curiosos? Vejam o quadro, abaixo e, a seguir, clique no vídeo.

Para quem não conhece, pesquise na internet sobre esta obra importantíssima de Picasso.

Copiado do blog: 7dasartes.blogspot.com.br

Copiado do blog: artefontedeconhecimento.blogspot.com.br

Vale a pena acessar os blogs acima para visualizar diversas obras de arte importantes.

Paulo Martins – dialogosessenciais.com

Ver o post original

Para ler em 2050, por Boaventura de Sousa Santos

Porque teimamos, depois de tudo?

Porque estamos a reaprender a alimentar-nos da utopia, erva daninha que a época passada mais radicalmente tentou erradicar, recorrendo para isso aos mais potentes e destrutivos herbicidas mentais.

Por Boaventura de Sousa Santos

Publicado em Carta Maior

Para ler em 2050
É estranho que uma época que começou como só tendo futuro tenha terminado como só tendo passado.

“Quando um dia se puder caracterizar a época em que vivemos, o espanto maior será que se viveu tudo sem antes nem depois, substituindo a causalidade pela simultaneidade, a história pela notícia, a memória pelo silêncio, o futuro pelo passado, o problema pela solução.

Assim, as atrocidades puderam ser atribuídas às vítimas, os agressores foram condecorados pela sua coragem na luta contra as agressões, os ladrões foram juízes, os grandes decisores políticos puderam ter uma qualidade moral minúscula quando comparada com a enormidade das consequências das suas decisões.

Foi uma época de excessos vividos como carências; a velocidade foi sempre menor do que devia ser; a destruição foi sempre justificada pela urgência em construir. O ouro foi o fundamento de tudo, mas estava fundado numa nuvem. Todos foram empreendedores até prova em contrário, mas a prova em contrário foi proibida pelas provas a favor. Houve inadaptados, mas a inadaptação mal se distinguia da adaptação, tantos foram os campos de concentração da heterodoxia dispersos pela cidade, pelos bares, pelas discotecas, pela droga, pelo facebook.

A opinião pública passou a ser igual à privada de quem tinha poder para a publicitar. O insulto tornou-se o meio mais eficaz de um ignorante ser intelectualmente igual a um sábio.

Desenvolveu-se o modo de as embalagens inventarem os seus próprios produtos e de não haver produtos para além delas. Por isso, as paisagens converteram-se em pacotes turísticos e as fontes e nascentes tomaram a forma de garrafa. Mudaram os nomes às coisas para as coisas se esquecerem do que eram. Assim, desigualdade passou a chamar-se mérito; miséria, austeridade; hipocrisia, direitos humanos; guerra civil descontrolada, intervenção humanitária; guerra civil mitigada, democracia. A própria guerra passou a chamar-se paz para poder ser infinita. Também a Guernika passou a ser apenas um quadro de Picasso para não estorvar o futuro do eterno presente. Foi uma época que começou com uma catástrofe mas que em breve conseguiu transformar catástrofes em entretenimento. Quando uma catástrofe a sério sobreveio, parecia apenas uma nova série.

Todas as épocas vivem com tensões, mas esta época passou a funcionar em permanente desequilíbrio, quer ao nível coletivo, quer ao nível individual. As virtudes foram cultivadas como vícios e os vícios como virtudes. O enaltecimento das virtudes ou da qualidade moral de alguém deixou de residir em qualquer critério de mérito próprio para passar a ser o simples reflexo do aviltamento, da degradação ou da negação das qualidades ou virtudes de outrem. Acreditava-se que a escuridão iluminava a luz, e não o contrário.

Operavam três poderes em simultâneo, nenhum deles democrático: capitalismo, colonialismo e patriarcado; servidos por vários sub-poderes, religiosos, mediáticos, geracionais, étnico-culturais, regionais. Curiosamente, não sendo nenhum democrático, eram o sustentáculo da democracia-realmente-existente. Eram tão fortes que era difícil falar de qualquer deles sem incorrer na ira da censura, na diabolização da heterodoxia, na estigmatização da diferença.

O capitalismo, que assentava nas trocas desiguais entre seres humanos supostamente iguais, disfarçava-se tão bem de realidade que o próprio nome caiu em desuso. Os direitos dos trabalhadores eram considerados pouco mais que pretextos para não trabalhar. O colonialismo, que assentava na discriminação contra seres humanos que apenas eram iguais de modo diferente, tinha de ser aceite como algo tão natural como a preferência estética. As supostas vítimas de racismo e de xenofobia eram sempre provocadores antes de serem vítimas. Por sua vez, o patriarcado, que assentava na dominação das mulheres e na estigmatização das orientações não heterossexuais, tinha de ser aceite como algo tão natural como uma preferência moral sufragada por quase todos. Às mulheres, homossexuais e transsexuais haveria que impor limites se elas e eles não soubessem manter-se nos seus limites.

Nunca as leis gerais e universais foram tão impunemente violadas e selectivamente aplicadas, com tanto respeito aparente pela legalidade. O primado do direito vivia em ameno convívio com o primado da ilegalidade. Era normal desconstituir as Constituições em nome delas.

O extremismo mais radical foi o imobilismo e a estagnação. A voracidade das imagens e dos sons criava turbilhões estáticos. Viveram obcecados pelo tempo e pela falta de tempo. Foi uma época que conheceu a esperança mas a certa altura achou-a muito exigente e cansativa. Preferiu, em geral, a resignação. Os inconformados com tal desistência tiveram de emigrar. Foram três os destinos que tomaram: iam para fora, onde a remuneração económica da resignação era melhor e por isso se confundia com a esperança; iam para dentro, onde a esperança vivia nas ruas da indignação ou morria na violência doméstica, no crime comum, na raiva silenciada das casas, das salas de espera das urgências hospitalares, das prisões, e dos ansiolíticos e anti-depressivos; o terceiro grupo ficava entre dentro e fora, em espera, onde a esperança e a falta dela alternavam como as luzes nos semáforos. Pareceu estar tudo à beira da explosão, mas nunca explodiu porque foi explodindo, e quem sofria com a explosões ou estava morto, ou era pobre, subdesenvolvido, velho, atrasado, ignorante, preguiçoso, inútil, louco – em qualquer caso, descartável. Era a grande maioria, mas uma insidiosa ilusão de óptica tornava-a invisível. Foi tão grande o medo da esperança que a esperança acabou por ter medo de si própria e entregou os seus adeptos à confusão.

Com o tempo, o povo transformou-se no maior problema, pelo simples facto de haver gente a mais. A grande questão passou a ser o que fazer de tanta gente que em nada contribuía para o bem estar dos que o mereciam. A racionalidade foi tão levada a sério que se preparou meticulosamente uma solução final para os que menos produziam, por exemplo, os velhos. Para não violar os códigos ambientais, sempre que não foi possível eliminá-los, foram biodegradados. O êxito desta solução fez com que depois fosse aplicada a outras populações descartáveis, tais como os imigrantes, jovens das periferias, toxicodependentes, etc.

A simultaneidade dos deuses com os humanos foi uma das conquistas mais fáceis da época. Para tal bastou comercializá-los e vendê-los nos três mercados celestiais existentes, o do futuro para além da morte, o da caridade, e o da guerra. Surgiram muitas religiões, cada uma delas parecida com os defeitos atribuídos às religiões rivais, mas todas coincidiam em serem o que mais diziam não ser: mercado de emoções. As religiões eram mercados e os mercados eram religiões.

É estranho que uma época que começou como só tendo futuro (todas as catástrofes e atrocidades anteriores eram a prova da possibilidade de um novo futuro sem catástrofes nem atrocidades) tenha terminado como só tendo passado. Quando começou a ser excessivamente doloroso pensar o futuro, o único tempo disponível era tempo passado. Como nunca nenhum grande acontecimento histórico foi previsto, também esta época terminou de modo que colheu todos de surpresa. Apesar de ser geralmente aceite que o bem comum não podia deixar de assentar no luxuoso bem estar de poucos e no miserável mal-estar das grandes maiorias, havia quem não estivesse de acordo com tal normalidade e se rebelasse.

Os inconformados dividiam-se em três estratégias: tentar melhorar o que havia, tentar romper com o que havia, tentar não depender do que havia. Visto hoje, a tanta distância, era obvio que as três estratégias deviam ser utilizadas articuladamente, ao modo da divisão de tarefas em qualquer trabalho complexo, uma espécie de divisão do trabalho do inconformismo e da rebeldia. Mas, na época, tal não foi possível, porque os rebeldes não viam que, sendo produto da sociedade contra a qual lutavam, teriam de começar por se rebelar contra si próprios, transformando-se eles próprios antes de quererem transformar a sociedade. A sua cegueira fazia-os dividir-se a respeito do que os deveria unir e unir-se a respeito do que os devia dividir. Por isso, aconteceu o que aconteceu. O quão terrível foi está bem inscrito no modo como vamos tentando curar as feridas da carne e do espirito ao mesmo tempo que reinventamos uma e outro.

Porque teimamos, depois de tudo? Porque estamos a reaprender a alimentar-nos da erva daninha que a época passada mais radicalmente tentou erradicar, recorrendo para isso aos mais potentes e destrutivos herbicidas mentais – a utopia.”

Os sete mandamentos do jornalismo investigativo: lançamento do livro

Foi lançado o último livro de J. Carlos de Assis intitulado “Os sete mandamentos do jornalismo investigativo”, da Editora Textonovo, SP.

O autor apresenta o livro como um exercício crítico do tipo de jornalismo pretensamente investigativo praticado atualmente no Brasil.

Segundo J. Carlos de Assis “temos um dos jornalismos mais irresponsáveis do mundo, caracterizado pelo ‘disse que’sem maior compromisso com investigação, e que faz da injúria, calúnia e difamação um instrumento camuflado de notícia”.

Paulo Martins

 

Manipulações, rebanhos e antídotos, por Eduardo Hoornaert

Publicado originalmente no blog do Leonardo Boff.

.Os explicadores do Brasil.
15/08/2015
Eduardo Hoornaert é um conhecido historiador da Igreja e da história do Brasil na perspectiva das vítimas. É belga e vive no Brasil praticamente toda a sua vida, trabalhando e pesquisando no Nordeste. Interessa-se especialmente pela cultura popular e por sua sabedoria. Publicamos aqui este texto que nos ajuda a refletir e nos tornar críticos face às pressões político-ideológicas dominantes no atual momento. LBoff


No momento pipocam por toda parte explicações da situação atual no Brasil, principalmente na Internet, mas também na rádio, na TV e nos jornais. Enumero algumas:

– O Brasil está em crise. Nos grandes meios de comunicação, essa afirmação é hoje um postulado. Mas não se explica o que se entende por ‘crise’. Em 1939, quando eu tinha 9 anos, o país em que nasci estava em ‘crise’: as pessoas estocavam alimentos e todos sentiam que a guerra se aproximava. Isso era crise. Neste momento, no Brasil, os preços aumentam, o consumo diminui, mas será que isso é crise? O fato de alguns deixarem de viajar a Orlando com a família porque o dólar está alto é sinal de crise? É o que se diz na TV. Minha impressão é que os grandes meios de comunicação têm interesse em falar em ‘crise’.

– Vivemos numa democracia. O termo ‘democracia’ virou uma palavra sagrada, intocável. Mas o que dizer de um país de 200 milhões de habitantes, em cima dos quais os porta-vozes de uma só família, os filhos de um bem-sucedido jornalista do Rio de Janeiro que criou uma rede de meios de comunicação, pronunciam a cada dia oráculos que passam por verdades eternas, praticamente nunca contestadas? Isso é democracia? Há muitos outros exemplos que mostram que a palavra ‘democracia’ não corresponde ao que está efetivamente acontecendo.

– A economia é uma ciência. A indicação, pela presidenta Dilma, de Joaquim Levy como ministro da Economia, é interpretada por muitos como escolha de alguém formado em ‘ciência econômica’. Dá se a impressão que Levy domina uma ciência que o comum dos mortais não consegue entender, mas que deve ter seus segredos. Faz aproximadamente 250 anos, desde Adam Smith (1776), que os economistas procuram erguer suas ‘artes’ ao patamar de ciência. A história desmente essa pretensão e apresenta muitos casos em que a economia provou ser, não uma ciência, mas uma ‘arte de fazer’.

– O Brasil está dividido entre inteligentes e ignorantes. Essa é uma análise extremamente grosseira, mas hoje vejo que ela é adotada por quem se autoproclama ‘filósofo’, ‘analista político’, ‘jornalista qualificado’. No final do ano passado, os ignorantes colocaram Dilma no poder, mas ‘depois de ver como ela governa’, compreendem que os inteligentes têm razão. Daí os números extremamente baixos da popularidade da presidenta. Mas, como se sabe de que modo Dilma governa? Isso passa necessariamente pela mediação dos grandes meios de comunicação, e assim voltamos ao acima exposto acerca da concentração da comunicação pública no Brasil nas mãos de um número extremamente reduzido de pessoas.

– O ciclo PT passou. Alguém disse isso e muitos o repetem. A explicação tem uma aura de verdade inconteste que dispensa análise empírica. Como foi dito por uma pessoa inteligente, deve ser verdade. Se você duvidar, é petista ignorante.

– Lula é populista. Essa frase também tem ares de inteligência. Mas o que se entende por ‘populista’? Assisti recentemente a um programa na televisão, em que se disse que populista é quem simpatiza os governos ‘populistas’ de Venezuela, Bolívia e Ecuador (as repúblicas bolivarianas). Isso, disse o interlocutor, não tem futuro, pois esses governos não têm dinheiro. Melhor aliar-se aos Estados Unidos e à Europa, onde há dinheiro. Então entendi o que é populista: é o contrário de dinheirista.

– Temos de combater o terrorismo. Divulgado aos quatro ventos pelo presidente americano Bush na manhã do dia 11 de novembro de 2001 (data do ataque às torres gêmeas em Nova Iorque) depois de receber um telefonema de seu conselheiro Kissinger que falou em ‘war on terror’ (guerra contra o terror), o terrorismo é um dos termos que caracterizam as sociedades em que vivemos. A civilização está sendo ameaçada por terroristas, assim como no passado esteve ameaçada por comunistas. Mas, se um drone americano mata pessoas inocentes no Afeganistão, isso é terrorismo? Não, ninguém diz isso. Matar inocentes no Afeganistão é combater o terrorismo, assim como apoiar golpes militares na América Latina, nos anos 1960-70, era combater o comunismo. Dias passados, a Câmara Federal aprovou uma lei que de certa forma aplica ao Brasil o pacote antiterrorista fabricado nos Estados Unidos. Essa lei parte da ideia que o terrorismo pode estender seus tentáculos sobre o país, o que deve ser evitado a qualquer custo. Temos de ficar de sobreaviso, pois a conspiração terrorista pode eclodir onde menos se espera. Quem não concordar com ideias divulgadas pelos grandes meios de comunicação, por exemplo, é potencialmente ‘terrorista’.

A lista de frases que hoje pretendem explicar o Brasil não se esgota com esses poucos exemplos. Mas as que apresentei brevemente acima bastam para que enxerguemos a saída diante do poder avassalador dessas e de outras frases que costumamos ouvir diariamente nos grandes meios de comunicação. Penso que, mais que nunca, é preciso usar o cérebro. A coisa mais preciosa que a natureza pode nos oferecer é um cérebro que funcione bem, ou seja, que nos faça pensar de forma independente. O cultivo de uma inteligência independente constitui a tarefa mais importante da vida.

Como o cérebro está diretamente ligado aos órgãos de observação (visão, audição) e trabalha os dados provenientes desses órgãos, tudo depende da capacidade de elaborar corretamente o que nos vem por meio da observação. Quando assistimos à TV, por exemplo, o cérebro não fica totalmente passivo mas interage com as imagens e as palavras.

Diante do bombardeio diário de imagens e mensagens, um cérebro sadio se posiciona de forma independente. Isso se chama reflexão. Esse cérebro forma um ‘critério’, ou seja, um pensamento crítico acerca do que ouvimos e vimos na tela. O critério correto é resultado de uma luta permanente pelo domínio sobre nossa própria mente. Arriscamos ‘perder a cabeça’ quando não reagimos diante da maré montante de palavras e imagens diariamente despejadas sobre nós. Pois se trata realmente de uma maré, que ameaça inundar tudo, se não construímos um dique seguro para conter seu avanço. Esse dique é nossa inteligência. Se não preservamos nossa inteligência independente, corremos o perigo de virar um rebanho empurrado por um louco.

A marcha do dia 16 de agosto. Para terminar, umas palavras acerca da marcha do dia 16 de agosto, em grande parte preparada pelo movimento ‘Vem Pra Rua’ (VPR), que se articula de forma bem organizada por meio da Internet. Há quem pensa que essa marcha apresenta uma alternativa para o Brasil. Mas é preciso saber que o movimento VPR se articula em torno de um núcleo duro de apenas cinco pessoas, um verdadeiro ‘comando’ muito bem organizado, com disciplina e sem crítica interna (como acaba de revelar o Jornal ‘Valor’). Se alguma mensagem corre pela Internet que não esteja de acordo com o que esse núcleo decide, ela é eliminada do circuito organizado pela VPR.

Estamos diante de um movimento que não tem nada de novo, a não ser a técnica de comunicação e o charme de pessoas bem-sucedidas na vida, que têm entre 40 e 50 anos e participam do dito núcleo central u colaboram com ele. Esse núcleo duro decide atacar Dilma e Lula (talvez Renan Calheiros), mas não Eduardo Cunha. Você participa da marcha, grita palavras de ordem e pensa agir com liberdade, mas na realidade está enquadrado dentro de um movimento que ‘outros’ (Globo, Veja, etc.) já começaram a interpretar antes mesmo que aconteça a marcha do dia 16 de agosto. É essa interpretação ‘pré-fabricada’ que constitui a ração a ser digerida pelo grande público a partir do dia 16 de agosto.

Impeachment não é recall

O Conversa Afiada reproduz da Carta Maior afiado artigo do Antonio Lassance:

Impeachment não é recall

Ainda que em baixa nas pesquisas, a presidenta foi eleita pelo voto dos brasileiros. Um impeachment não pode se fundar na ‘teoria do domínio do boato’.

Antonio Lassance (*)

A IRRESPONSABILIDADE DE QUEM ACUSA

Quais as chances reais de impeachment da presidenta? O principal trunfo de Dilma Rousseff na atual conjuntura é o fato de que levar um presidente a ser afastado pelo Congresso não é uma tarefa trivial.

Os fundamentos devem ser claros e relacionados diretamente a atos praticados pelo próprio presidente da República, como foi no caso de Collor, denunciado pelo próprio irmão, pelo motorista e por uma operação de lavagem de dinheiro, que ganhou o apelido de Operação Uruguai, feita em nome do próprio Collor para justificar reformas na famosa Casa da Dinda. As pessoas que repetem que “Collor caiu por muito menos” e atribuem o impeachment ao reles Fiat Elba, ou têm a memória curta ou estão afetadas pelo mal do julgamento seletivo.

Para afastar um presidente por crime de responsabilidade é também preciso um mínimo de responsabilidade de quem acusa, e não o uso inconsequente do que o grande jornalista, Mauro Santayana, bem classificou de “teoria do domínio do boato”. Não se afasta um presidente da República com base em suposições.

De todo modo, é verdade quando dizem que o processo de impeachment é fundamentalmente político, e não penal. A começar, é preciso o apoio de uma supermaioria de deputados (dois em cada três) para a instauração de processo pela Câmara. É estranho como alguns dos que reclamam da política como o palco do vale-tudo se regozijam agora ao repetir, feito papagaios, que “o processo é político e não penal”. Quando lhes interessa, a política como vale-tudo é o melhor dos mundos.

No entanto, embora o governo esteja muito fragilizado, conseguir um apoio mínimo é algo que ainda está ao seu alcance. O preço que os demais partidos cobram é o de reduzir o peso do PT, com ou sem o pretexto do corte de ministérios. Manter parlamentares insatisfeitos na base custa mais caro ao Executivo. Eles deixam de ver o governo como uma zona de conforto e querem apenas um condomínio de partidos em pé de igualdade, guardadas suas devidas proporções. Ao invés de clamar por liderança, a base quer autonomia. Exige que uma parte relevante da agenda do país nasça e se resolva no Legislativo, e não no Executivo.

Até o momento, o governo dá todos os sinais de que está disposto a fazer o que for preciso para sobreviver. O quadro, nu e cru, é este: o governo considera que sobreviver já é uma grande vitória.

Conta a favor de Dilma que o principal adversário de seu governo,o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vive seu pior momento. O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, reconduzido ao cargo para mais um mandato, prepara a denúncia que levará Cunha ao cadafalso do Supremo Tribunal Federal.

Seja ou não finalmente decapitado da política pelo STF, o fato é que a formalização da denúncia deixará o presidente da Câmara em situação vexatória que até alguns aliados avaliam como  insustentável. Alguns deputados do PMDB ligados a Cunha, até então, já procuraram o vice, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, para anunciar que preferem ser vinculados ao PMDB do Senado.

Contra a presidenta está o voto secreto dos deputados na hora de autorizar ou rejeitar o processo. Ninguém saberá, ao fim e ao cabo, quais honraram a palavra e quais se mantiveram contrários ao afastamento.

A rigor, quem afasta um presidente não é a Câmara, mas o Senado, quando este instaura o processo, se previamente autorizado pelos deputados. Na prática, porém, se a Câmara o autoriza, o Senado não tem mais nada a fazer a não ser automaticamente afastar o presidente.

AS PEDALADAS DO TCU

A questão que mais fragiliza a presidenta no atual momento sequer é o presidente da Câmara, mas o julgamento, pelo TCU, das contas de seu mandato.

O risco é de condenação pelas chamadas “pedaladas” fiscais, o uso de expedientes contábeis que, ao contrário da praxe do Tribunal na apreciação das contas de governos anteriores, agora podem vir a ser reprovados.

Pior do que a condenação seria se ela ocorresse por unanimidade ou por uma goleada germânica do tipo 7 x 1, lembrando-se que o TCU tem nove membros, e o presidente do Tribunal só precisa votar em caso de empate – portanto, 8 votos.

O adiamento da decisão do TCU, com a perspectiva de que isso ocorra em fases e pelo menos até setembro, permitiu ao governo não apenas ganhar tempo como reagir em um momento mais favorável. A aprovação das contas, hoje, tem possibilidade reduzida. Mesmo que a culpa das “pedaladas”, no julgamento do Tribunal, recaia sobre os, à época, ministro da Fazenda e o secretário do Tesouro – Guido Mantega e Arno Augustin, respectivamente -, uma goleada emblemática pela reprovação e condenação de ambos, ainda assim, é um grande problema para Dilma.

Há fortes razões para se crer que o julgamento não será por unanimidade (nem favorável, nem desfavoravelmente) e que mais de um ministro pode, com veemência, apontar o casuísmo e o risco institucional sistêmico que acarretaria um julgamento nessa linha, para vários governos (estaduais e prefeituras), sem que antes se sinalize claramente que o Tribunal pretende firmar uma mudança de entendimento sobre o assunto. No fundo, o que alguns ministros do TCU querem contra Dilma não deixa de ser uma pedalada que contraria a forma como o órgão sempre agiu.

IMPEACHMENT NÃO É RECALL

A palavra final sobre o impeachment é dos parlamentares. Casuísmo ou não do TCU, se vier a condenação das contas, caberá àqueles que são leais ao governo o antipático encargo de “limpar a barra” e contrariar seu órgão de controle de uma forma igualmente inédita, para esse tipo de caso.

Seria um desgaste que, em um período de crise e de ataques constantes à chefe do Executivo, amplificados pela imprensa e por manifestações até em mesas de restaurantes,  muitos parlamentares não estão verdadeiramente dispostos a assumir. Os congressistas precisariam pelo menos de argumentos enfáticos vindos de dentro do próprio TCU para se escudarem minimamente.

Neste exato momento, não se sabe ao certo com quem Dilma pode contar. Cautela e dissimulação são armas usadas contra Dilma, inclusive, para parecer que são boas notícias. Podem, ao final, revelar-se mais uma cortina de fumaça para criar confusão nas hostes governistas do que um sinal de fraqueza dos defensores do impeachment ou, menos ainda, um indicador seguro de que o jogo virou.

O vice-presidente Michel Temer, experiente e habilidoso, jura que não conspira contra Dilma. Talvez porque nem precise. As forças que se inclinam pelo impeachment agem sem precisar de Temer, que sabe que o desfecho desse processo pode, de uma só vez, fazer a Presidência da República cair em seu colo e tirar de circulação seu principal adversário no PMDB – Cunha, aquele que ousou tentar transformar o partido, de um cartel, em monopólio.

Ainda que em baixa nas pesquisas, a atual presidenta foi eleita pelo voto majoritário dos brasileiros. Impeachment não é recall. Se o Congresso quer instituir o recall, ótimo. Mas que isso valha para todos – vereadores e prefeitos; deputados estaduais e governadores; deputados federais e senadores; juízes de tribunais superiores e ministros dos tribunais de contas – e não apenas para uma senhora chamada Dilma Vana Rousseff.

(*) Antonio Lassance é cientista político.

A mentira multiplicada por dez

Quem pode fazer o discurso supostamente ético e as acusações de estelionato eleitoral que estão sendo feitas e, ao mesmo tempo, mentir tão descaradamente sobre o número de pessoas presentes ao protesto em São Paulo?

É esse pessoal que vai renovar os métodos políticos e mandar no país tão logo consigam cancelar o resultado das urnas e tomar o poder?

Imaginemos as primeiras medições de crescimento do PIB no governo do Vem Pra Rua: se o resultado der 1% eles vão estimar em 10%, para utilizarmos a  proporção de 1 para 10, que é, grosso  modo, a proporção entre a medição do Instituto da Datafolha e as estimativas dos cinco grupos que organizaram a tentativa de enterro do voto exibida hoje. 

Quanto às estimativas da PM do Alckmin e dos governos dos estados oposicionistas, melhor não comentar.

Voltando à matemática dos grupos organizadores … ou melhor, à credibilidade destes grupos.

Pelos comentários na redes sociais e na mídia-empresa logo após a derrota nas urnas em outubro de 2014, presume-se que eles – o pessoal do VPR e do MBL –  achem que seus votos valem, em relação aos votos dos demais cidadãos, 10 vezes mais. Só assim 100 mil pessoas vira 1 milhão.

Divulgar estas estimativas sem qualquer avaliação minimamente sensata é uma ofensa à inteligência dos leitores e telespectadores.

É, também, uma indicação da inteligência ou do grau de malignidade dos jornalistas que escrevem, editam, aprovam e publicam estas “notícias”.

Repetir dia e noite estes números nas manchetes de jornais, telejornais e revistas é pura desfaçatez. 

Salvei no meu disco rígido algumas imagens impressionantes das manifestações de hoje.

Assim como as fotos, os discursos e os depoimentos dos sobreviventes ajudaram a escrever a história do holocausto praticado pelos nazistas na Alemanha, as fotos absurdas, os textos nas redes sociais e as manifestações de estupidez política de hoje servirão  para, no futuro, lançar luz sobre o tempo tenebroso que está em gestação.

Vocês teriam, mesmo, coragem de entregar o país para esse pessoal que participa das manifestações?

Você teria mesmo coragem de entregar o país para esta hidra de 7 cabeças que pensa controlar as manifestações? 

Não esqueça: segundo a mitologia uma das 7 cabeças é imortal.

image

Boa sorte. Vamos precisar.

Leia, abaixo, a matéria do site G1, da Globo.

“A manifestação contra o governo federal, que aconteceu neste domingo (16) na Avenida Paulista, região central de São Paulo, fechou a via durante a tarde.

A Polícia Militar diz que cerca de 350 mil pessoas estiveram no protesto e o horário de maior concentração foi por volta das 16h.

O Instituto Datafolha calculou o público em 135 mil pessoas ao longo do dia.

Cinco grupos organizadores estimaram o publico entre 900 mil e 1,5 milhão de pessoas. Um desses grupos, o Vem Pra Rua, estimou em 1 milhão.

Na manifestação de março, a PM estimou o público na Avenida Paulista em 1 milhão de pessoas. Em abril, o número de participantes, segundo a corporação, foi de 275 mil pessoas”.

Agenda do ódio e os atos de domingo

por Matheus Pichonelli — publicado 14/08/2015 13h03, última modificação 14/08/2015 15h38

Carta Capital
O fortalecimento das instituições democráticas se faz com a ampliação de direitos, da transparência e da participação popular. Essas bandeiras estarão em cartaz no domingo?

Existem, basicamente, duas formas de analisar o impasse do momento político atual. A primeira leitura, mais otimista, parte da ideia de que as manifestações contra as tarifas de ônibus em São Paulo destamparam, a partir de 2013, uma onda de insatisfação coletiva em relação ao valor e a qualidade do serviço público nas grandes cidades do País.

Essa mobilização colocou em outro patamar a pauta de reivindicações sociais e escancarou os limites de um ciclo de desenvolvimento econômico baseado na distribuição de renda e da inclusão social a partir do consumo. Esse período de expansão colocou geladeira, estofados, aparelhos de TV e celular em muitos lares brasileiros, mas as pessoas eram ainda tratadas como gado quando entravam no ônibus, nos hospitais e nas escolas ou quando circulavam a pé por cidades mal iluminadas e serpenteadas por muros, fortificações e cercas eletrificadas.

A nomeação do mal-estar passou pela associação entre a precariedade do serviço público, incapaz de atender as demandas de uma sociedade cada vez mais exigente, veloz e conectada, ao peso da estrutura política.

Pouco depois dos primeiros protestos daquele ano, em entrevista a CartaCapital, o cientista político Marco Aurélio Nogueira, autor de As Ruas e a Democracia, recorreu ao conceito de modernidade líquida do filósofo Zygmunt Bauman para fazer o seguinte diagnóstico:

“A sociedade no Brasil dos últimos 30 anos foi se tornando líquida, mais ágil, mais rápida, mais diferenciada, muito conectada – hoje somos pessoas de rede, rapidamente seremos 200 milhões de pessoas conectadas no Brasil, já temos mais aparelhos de celular do que gente. É a demonstração de que está tudo conectado. Isso tudo é vida liquida em sentido metafórico, mas a política ficou no plano sólido. Os governos, os partidos, a classe política não acompanharam as mudanças sociais. Não se ajustaram. Parte da nossa insatisfação com a Justiça, por exemplo, é que ela é lentíssima, e nós somos rapidíssimos”.

Existem, basicamente, duas formas de analisar o impasse do momento político atual. A primeira leitura, mais otimista, parte da ideia de que as manifestações contra as tarifas de ônibus em São Paulo destamparam, a partir de 2013, uma onda de insatisfação coletiva em relação ao valor e a qualidade do serviço público nas grandes cidades do País.

Essa mobilização colocou em outro patamar a pauta de reivindicações sociais e escancarou os limites de um ciclo de desenvolvimento econômico baseado na distribuição de renda e da inclusão social a partir do consumo. Esse período de expansão colocou geladeira, estofados, aparelhos de TV e celular em muitos lares brasileiros, mas as pessoas eram ainda tratadas como gado quando entravam no ônibus, nos hospitais e nas escolas ou quando circulavam a pé por cidades mal iluminadas e serpenteadas por muros, fortificações e cercas eletrificadas.

A nomeação do mal-estar passou pela associação entre a precariedade do serviço público, incapaz de atender as demandas de uma sociedade cada vez mais exigente, veloz e conectada, ao peso da estrutura política.

Pouco depois dos primeiros protestos daquele ano, em entrevista a CartaCapital, o cientista político Marco Aurélio Nogueira, autor de As Ruas e a Democracia, recorreu ao conceito de modernidade líquida do filósofo Zygmunt Bauman para fazer o seguinte diagnóstico:

“A sociedade no Brasil dos últimos 30 anos foi se tornando líquida, mais ágil, mais rápida, mais diferenciada, muito conectada – hoje somos pessoas de rede, rapidamente seremos 200 milhões de pessoas conectadas no Brasil, já temos mais aparelhos de celular do que gente. É a demonstração de que está tudo conectado. Isso tudo é vida liquida em sentido metafórico, mas a política ficou no plano sólido. Os governos, os partidos, a classe política não acompanharam as mudanças sociais. Não se ajustaram. Parte da nossa insatisfação com a Justiça, por exemplo, é que ela é lentíssima, e nós somos rapidíssimos”.

Desde a eclosão dos protestos, que logo ganharam outras bandeiras (menos corrupção, mais transparência, menos chicotadas da polícia), é possível dizer que esta inquietação se transformou em demanda política e sacudiu as bases do sistema de representação. O resultado mais visível desta sacudida foi a promulgação, pela presidenta Dilma Rousseff, da chamada Lei Anticorrupção, que abriu as comportas do sistema jurídico para a prisão e responsabilização de peixes graúdos do outro lado da história (os corruptores), e não apenas os lambaris das grandes empresas.

No limite, a Operação Lava Jato, que prendeu donos e presidentes das megaconstrutoras do País, recuperou milhões de reais desviados e apreendeu Ferraris e Lamborghinis enquanto investigava a cúpula e o submundo político, poderia (e pode) significar, pelo didatismo, um outro salto nas relações entre representantes e representados. Essa nova relação seria pautada pelas demandas por mais transparência, mais critério com os gastos públicos (a começar pelos bancos de fomento), mais interesse e participação nas decisões políticas.

No limite do limite, essa mudança poderia determinar se um governante daria ou não de ombros para a gritaria contra obras desnecessárias para a Copa do Mundo, caso dos elefantes brancos que um dia foram chamados de estádios e hoje ligam o nada a lugar-nenhum em metade das cidades-sede do Mundial. Quem quisesse se (re) eleger deveria ouvir com atenção os deles e delas de qualquer protesto de rua.

Dois anos depois dos primeiros protestos, entretanto, o que existe hoje é uma bifurcação entre esse salto e uma realidade menos passível ao otimismo. Eis o desafio de quem hoje protesta com as cores e a bandeira do Brasil (não necessariamente em ônibus menos sucateados): lidar com contradições evidentes do próprio movimento.

Antes de ir às ruas no domingo, o manifestante poderia se perguntar, por exemplo, em que momento as palavras de ordem de coros e cartazes exigem a abertura das fendas para a participação popular no processo político – o que opera nos dias úteis da semana. Ou de que maneira essa participação será ampliada caso o objetivo último dos manifestantes seja um dia atendido: a queda da presidenta Dilma Rousseff, reeleita pelo voto popular há menos de um ano. Ou como reforçar o discurso em defesa da democracia com slogans, em si, imperativos (“fora”, “vai pra Cuba”, “morte aos…”).

Mais: será que o partido que elegeu a presidenta é de fato o partido que governa? Se sim, o que explica o acordão selado durante a semana entre a presidenta-alvo dos protestos e as lideranças do PMDB? Quem costurou o acordo, ela ou o vice Michel Temer? Ou: por que partidos igualmente investigados na Lava Jato, como o PP de Jair Bolsonaro, são preservados? Se a bandeira é o fim da corrupção, qual o sentido se estender os braços ou preservar dos discursos a figura de líderes como Eduardo Cunha, igualmente suspeito e investigado?

Para responder as perguntas é preciso, muitas vezes, invocar o óbvio, e este parece estar em desuso. José Celso Martinez Correa, também em entrevista a CartaCapital, chama a atenção para uma coincidência histórica hoje presente pelas ruas: se há algo em comum entre o momento atual e os movimentos fascistas do início do século passado é a aglutinação do ódio em torno de uma única figura.

Esta aglutinação não permite identificar nuances nem aprofundar soluções (por exemplo, em relação ao sistema de financiamento de campanha, mas não só). E confunde participação popular com vontade das maiorias, hoje unidas em torno de um mal maior incorporado por um partido e governo.

O resultado do reducionismo é a agressividade, e este já desemboca em outros campos: agressões contra imigrantes supostamente protegidos pelo governo para “roubar” empregos nativos, o atentado contra o Instituto Lula, as ameaças contra quem cobre as manifestações antigoverno, a agressão contra leitores de revistas que os contestam. Fala-se em eliminar o câncer para a construção de um país mais democrático, mas aos poucos as ações materializam uma linguagem permeada de mensagens violentas e naturalizadas.

Não por acaso, a expressão “pegar em armas” já começa a surgir em discursos de defesa e ataque (outra linguagem figurada), e fica difícil dizer quando perdemos a vergonha de expor nossa inclinação bélica. Pois basta ler os comentários de portais ou o discurso de lideranças mais desmioladas para encontrar o apelo à violência como solução (não, o ex-presidente Lula não ajuda em nada, pelo contrário, instiga o ódio, quando pega o microfone para falar em “nós contra eles”).

Recentemente um dos jovens que agora querem mudar o mundo já declarou, para quem quisesse ouvir, que só um tiro na cabeça do partido inimigo resolveria a questão. É sentido figurado, mas não para quem já sofre as consequências, na pele, de uma linguagem já suficientemente violenta.

A verdade é que estamos hoje mais agressivos. Mais impacientes. Mais passíveis a soluções autoritárias e aparentemente fáceis. É quando a razão começa a se dissipar.

Em vez de ampliar os canais de participação, transparência e cobranças, a gritaria hoje intensifica a tensão política, enfraquece os alvos escolhidos seletivamente e, diante da instabilidade, possibilita que setores mais organizados tomem conta da agenda pública para emplacar suas condições de governabilidade.

É o que acontece quando líderes do PMDB no Senado, muitos deles empresários ou representantes do empresariado, negociam a rendição do governo Dilma com um pacto em torno dos próprios interesses: avançar sobre terras indígenas, privatizar parte do sistema público de saúde, atropelar normas ambientais, regular a terceirização, extinguir o Mercosul, entre outros pontos.

A chamada agenda positiva para sair da crise, resultado de erros incontestáveis do(s) governo(s), mas também do oportunismo político da oposição e da base aliada/rebelada, é hoje um flerte com o retrocesso.

Enquanto parte da população vai às ruas convicta de que o mal tem fronteiras bem definidas e demarcadas, e que basta arrancá-lo para o país fluir, o sucateamento de direitos sociais torna-se barganha para tirar a crise da agenda e manter tudo como está, inclusive o sistema de financiamento de campanha e a super-representação, no Congresso, dos mesmos grupos econômicos.

O fortalecimento do sistema político e das instituições democráticas se faz com a ampliação de direitos, da transparência e da participação popular. O desafio é encontrar qualquer dessas bandeiras nos cartazes de domingo. Quando terceirizamos essas demandas a salvadores da pátria (todos os que não representam o que não toleramos), a única agenda viável é a do ódio. Já sabemos, ou deveríamos saber, para onde ele nos leva.

Debate sobre o filme Um Sonho Intenso

Um Sonho Intenso fala do sonho de transformação do Brasil em país desenvolvido.

Este sonho me levou para a Faculdade de Economia da Universidade Fluminense em 1971. Naquela época a Economia era uma área pouco conhecida no Brasil. Passados quase 45 anos, o sonho continua tão intenso quanto naquela época.  O que mudou desde aquela época é que muita gente acha, hoje, que sabe qual é o objeto de estudo da Ciência Econômica e, o que é pior, acha que entende de Economia.

Jovens que não cursaram nem um ano na Faculdade de Economia abandonam a Universidade e argumentam que sabiam mais Economia do que os seus professores. Humildes os rapazes. Militam em movimentos que lutam para anular o recente resultado das urnas e publicam textos primários sobre Economia e Política. Deviam estudar mais.

Repetem, como papagaios, frases prontas. Trazem fórmulas importadas, para aplicar em qualquer país, em qualquer situação.

Recomendo a todos que assistam filmes como este. Assistam debates. Leiam sem preconceitos.

Para assistir o debate sobre o filme Um Sonho Intenso, clique no link abaixo:

https://youtu.be/21fCKYmX1N0

Paulo Martins

A bondade combatente, por Pablo Neruda

Nestes tempos de midiotices e de intolerância egoísta,

nestes tempos de manifestações de fascismo explícito e de

ambições incontroladas.

Neste domingo tenebroso onde será festejado o enterro da democracia,
só me resta apelar, mais uma vez para Pablo Neruda. Passo-lhe a palavra.

Paulo Martins

Mas não tive a bondade morta nas ruas.

Rechacei o seu aqueduto purulento

e não toquei o seu mar contaminado.

Extraí o bem como um metal, cavando

além dos olhos que mordiam,

e entre as cicatrizes foi crescendo

meu coração nascido nas espadas.

Não saí desbocado, descarregando

terra ou punhal entre os homens.

Não era

meu ofício o da ferida ou o veneno.

Não sujeitei o inerme em ataduras

que lhe atravessassem chicotes gelados,

não fui à praça procurar inimigos

espreitando com a mão mascarada:

não fiz mais que crescer com as minhas raízes,

e o chão que estendeu o meu arvoredo

decifrou os vermes que jaziam.

Veio morder-me Segunda-feira e lhe dei algumas folhas

Veio insultar-me Terça-feira e fiquei dormindo.

Chegou logo Quarta-feira com dentes iracundos.

Eu a deixei passar construindo raízes.

E quando Quinta-feira veio com uma venenosa

lança negra de urtigas e de escamas

eu a esperei em meio à minha poesia

e em plena lua lhe parti um cacho de uva.

Venham aqui estrelar-se nesta espada.

Venham se desfazer em meus domínios.

Venham em amarelos regimentos,

ou na congregação dos sulfurosos.

Morderão sombra e sangue de sinos

sob as sete léguas do meu canto.

Manifesto de respeito à democracia e ao voto

Diálogos Essenciais apoia o manifesto dos juristas que pedem respeito às instituições, à democracia e ao voto.

Publicado originalmente na Rede Brasil Atual e reproduzido pelo Conversa Afiada.

Em manifesto, juristas pedem respeito às instituições, à democracia e ao voto

Documento com cerca de 400 assinaturas da área do Direito é resposta a carta de conservadores

Inúmeros professores da histórica Faculdade de Direito do Largo São Francisco assinaram manifesto
São Paulo – Em documento divulgado ontem (11), por ocasião do Dia do Advogado, um grupo de cerca de 400 pessoas, entre juristas e operadores do Direito, divulgou um manifesto “pela manutenção da legalidade democrática e o respeito ao voto em nosso país”.

O documento vem como resposta a um manifesto divulgado também ontem por um grupo de juristas que pedem a renúncia da presidenta Dilma Rousseff, supostamente redigido pelo ex-ministro do Superior Tribunal Militar (STM) Flavio Flores da Cunha Bierrenbach.

O manifesto divulgado pelo grupo progressista, no evento promovido por movimentos sociais, partidos políticos, coletivos e centrais sindicais na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, foi assinado por juristas como Pierpaolo Cruz Bottini, Fábio Konder Comparato, Jorge Luiz Souto Maior, Pedro Estevam Serrano e Pedro Vieira Abramovay.

Aula pública no Largo São Francisco marca defesa do Estado de direito


Leia a íntegra do manifesto:

“Hoje, no dia do advogado, figura indispensável ao Estado de Direito, esse grupo de juristas abaixo assinados, vem se manifestar.


Em um momento como o que vivemos nos dias atuais, é preciso ter especial atenção com o respeito às instituições, à democracia e, especialmente, ao voto de cada cidadã e cidadão brasileiro. Respeitar o voto é respeitar a soberania popular, fundamento último da democracia brasileira e consagrada no art. 1o da nossa Constituição Federal.

Independente de posição político-partidária ou até mesmo de concordância com as políticas do atual governo, é preciso deixar claro que a tentativa de retirar a Presidente da República de seu cargo sem quaisquer elementos jurídicos para tal é um desrespeito inegável a ordem vigente e a soberania das urnas, contra o qual nos manifestamos frontalmente.

São em momentos críticos como o atual que deve prevalecer o respeito às instituições e é por isso que assinamos esse manifesto a favor da legalidade democrática.”

Assinam este manifesto:

Fábio Konder Comparato – Professor Aposentado da Faculdade de Direito da USP
Cristiano Paixão – Professor da Faculdade de Direito da UnB
Sérgio Salomão Shecaira – Professor da Faculdade de Direito da USP
José Geraldo de Sousa Júnior – Ex-reitor e Professor da UnB
Diogo R. Coutinho – Professor da Faculdade de Direito da USP
Samuel Barbosa – Professor da Faculdade de Direito da USP
Gilberto Bercovici – Professor da Faculdade de Direito da USP
Marcelo Cattoni – Professor da Faculdade de Direito da UFMG
José Carlos Moreira da Silva Filho – Professor da Faculdade de Direito da PUCRS e Vice-Presidente da Comissão de Anistia

Pierpaolo Cruz Bottini – Professor da Faculdade de Direito da USP

Susana Henriques da Costa – Professora da Faculdade de Direito da USP

José Geraldo de Sousa Júnior – Ex-reitor da UnB
Alessandro Molon – Deputado Federal
Jorge Luiz Souto Maior – Professor da Faculdade de Direito da USP
Alamiro Velludo Salvador Netto – Professor da Faculdade de Direito da USP
Otávio Pinto e Silva – Professor da Faculdade de Direito da USP
Ari Marcelo Solon – Professor da Faculdade de Direito da USP
Gisele Cittadino – Professora de Direito da PUC-Rio
Pedro Estevam Serrano – Professor da Faculdade de Direito da PUC/SP
Paulo Teixeira – Deputado Federal
Wadih Damous – Deputado Federal e Ex-Presidente da OAB/RJ
Emilio Peluso Neder Meyer – Professor da Faculdade de Direito da UFMG
Marcelo Semer – Ex-presidente da AJD e ex-presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto
Marcio Sotelo Felippe – Ex-Procurador Geral do Estado de São Paulo
Renato De Vitto – Defensor Público e Diretor Geral do DEPEN
Eleonora Bordini Coca – Desembargadora do Trabalho
Pedro Vieira Abramovay – Ex-Secretario Nacional de Justiça e Ex-Presidente do C.A. XI de Agosto
Luciana de Oliveira Ramos – Professora da FGV Direito SP
Ricardo Leite Ribeiro – Doutorando em direito pela USP
Fernando Antonio dos Santos Matos – Advogado e Defensor dos Direitos Humanos
Fernando Rugitsky – Professor da FEA/USP e mestre em Direito Econômico pela FDUSP
Dennys Antonialli – Doutorando em Direito Constitucional pela USP
Ivanilda Figueiredo – Professora de Direito do UNICEUB
Bruna Angotti – Professora Universitária, Coordenadora do Núcleo de Pesquisas do IBCCRIM
Ademir Picanço de Figueiredo – Servidor Público Federal. Ex Presidente do C.A. XI de Agosto (2003)
Thiago Tozatti Carrijo – Servidor público
Alessandra de Abreu Minadakis Barbosa – Procuradora Federal da AGU
Julia Gitahy da Paixão – Doutoranda em Direito na University of Ottawa
Maria Emilia Accioli Nobre Bretan – Doutora em Direito pela USP e Consultora em Direitos Humanos e Desenvolvimento Internacional

Fernanda Prates – Advogada; Doutora em Criminologia pela Universidade de Montréal
Silas Cardoso de Souza – Mestre em Direito Econômico – USP
Angela Nied – Professora assistente de IED na Facamp
Ludmila Cerqueira Correia – Professora da Universidade Federal da Paraíba
Francisco Brito Cruz – Mestre em Sociologia Jurídica (FDUSP) e advogado
Marcelo Chilvarquer – Mestrando na Faculdade de Direito da USP e ex-Presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto
Cláudio Ladeira de Oliveira – Professor de Direito Constitucional da Universidade Federal de Santa Catarina
José Carlos Callegari – Mestre em Direito pela USP
Isaac Reis – Professor adjunto da UFSB
Odir Züge Junior – Doutor em Direito pela USP

Maria Eduarda Ribeiro Cintra – Mestranda da Faculdade de Direito da UNB. Vice Presidenta da Associação de Ex-alunos da Faculdade de Direito da UNB

Giane Ambrósio Alvares – Advogada
Carlos David Carneiro – Mestre em Teoria e Filosofia do Direito pela UERJ
Claudineu de Melo – Professor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Farley Menezes – Advogado
Raphael de Moura Cintra – Advogado
Bruno Salles Pereira Ribeiro – Mestre em Direito pela USP e Coordenador da Biblioteca do IBCCRIM
Rafael Pedron Vicente – Cidadão
Fabio de Sá e Silva – Research fellow, Ph.D. em Direito e Políticas Públicas pela Northeastern University
Alexandre Rebêlo Ferreira – Ex-presidente do C.A. XI de Agosto
Raphael Assef Lavez – Mestrando em Direito pela USP
Rafael de Sá Menezes – Defensor Público do Estado de São Paulo, Mestre em Direito pela USP
João Paulo Santos – Advogado da União e Mestre em Direito pela UnB
Yuri Carajelescov – Professor de Direito e Procurador da ALESP
Daniel Carajelescov – Procurador do Estado de São Paulo
Caio Blanco Reis dos Santos – Advogado
Luísa Heráclio Panico – Advogada
Paulo Klautau – Procurador do Estado do Pará e Professor de Direito CEFUPA
Renan Bernardi Kalil – Procurador do Trabalho e Mestre em Direito pela USP
Isabela Del Monde – Advogada

Geraldo Vilar Correia Lima Filho – Defensor Público Federal. Ex-Presidente do Diretório Acadêmico Demócrito de Souza Filho -UFPE

Aton Fon Filho – Advogado
Veridiana Alimonti – Advogada e mestre em Direito pela USP

Ana Paula de O. C. Meirelles Lewin – Defensora Pública, Coordenadora do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher, Bacharel em Direito pela USP

Magnus Henry da Silva Marques – Advogado, mestrando em Direito na Universidade de Brasília
Mariana Giorgetti Valente – Doutoranda em Direito – USP
Jonnas Vasconcelos – Doutorando em Direito pela USP
Gustavo Ferraz Sales Carneiro – Advogado pela UnB e Mestre em Políticas Públicas pela Hertie School of Governance
Renata Santa Cruz Coelho – Advogada
Marcia Barreta Fernandes Semer – Procuradora do Estado de São Paulo
Eduardo Ribeiro Mendes Martins – Advogado da União

Maria Carolina Bissoto – advogada, Especialista em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas

Diogo de Sant’ana – Doutor em Direito Econômico pela USP
Antonio Daniel N. Ramos – Analista Judiciário Federal
Edson Luis Baldan – Professor Doutor PUC SP
Flávia Annenberg – Mestra em Direito – USP
Ágata Bobbio Ferraz – Advogada e mestre em Direito pela USP
Humberto Barrionuevo Fabretti Professor Doutor da Faculdade de Direito Mackenzie e Advogado Criminalista
Roberto Vianna do Rego Barros – Advogado
Alexandre Douglas Zaidan de Carvalho – Doutorando em Direito pela UnB e Procurador Federal
Rogério Podkolinski Pasqua – Advogado

Rodrigo Romeiro – Especialista em Políticas Públicas do Estado de São Paulo. Ex-Presidente do C.A. XVI de Abril da Puc Campinas.

Gabriel Rapoport Furtado – Advogado
Marco Aurelio Purini Belem – Advogado
Ivo Corrêa – Advogado
Rafael Bianchini Abreu Paiva – Mestre em Direito Comercial pela USP
Daniel de Menezes Pereira – Mestre em Direito pela USP e Advogado
Rafael Schincariol – Doutor em Direito – USP
Maurício Santo Matar – Advogado Público
Marina Ganzarolli – Advogada e mestranda em Direito pela USP

Guilherme Alberto Almeida de Almeida – Bacharel em direito pela USP e mestre em administração pública pela Columbia University

Eduardo Spanó Junqueira de Paiva – Mestrando em Administração Pública pela Universidade de Columbia e Bacharel em Direito pela USP
Vinicius da Silva Cerqueira – Advogado e Mestre em Direito pela USP

Rodrigo Melo Mesquita – Advogado. Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB. Representante da OAB Nacional no Conselho Nacional de Juventude e Vice-Presidente da Comissão Nacional de Apoio ao Advogado em Início de Carreira

Maria Clara Oliveira Ribeiro Troncoso – Advogada
Caio Augusto Teixeira Ribeiro – Advogado – Salvador/BA
Laura Rodrigues Benda – Juíza do Trabalho do TRT da 2a Região
Rachelle Balbinot – Advogada
Alessandro Martins Prado – Docente Direito UEMS
Antonio Carlos Souza de Carvalho – Chefe de Gabinete da Fundação Paulistana de Educação, Cultura e Tecnologia
Katya Kozicki – Professora da Faculdade de Direito da UFPR e da PUCPR
Vívian Legname Barbour – Advogada e mestranda na FAU/USP
Stéphanie Samaha – Advogada
Wellington Pantaleao – advogado, militante dos direitos humanos
André Tredezini – Ex-presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto
Anna Carolina Venturini – Mestra em Direito pela USP e Doutoranda em Ciência Política pelo IESP-UERJ
Beatriz Ribeiro de Moraes – Procuradora do municipio de são paulo

Felipe da Silva Freitas – Mestre em Direito pela Universidade de Brasil e pesquisador associado da Universidade Estadual de Feira de Santana/BA

Felipe de Melo Barbosa – Advogado
Jose Luis Bolzan de Morais – Professor do PPGD/UNISINOS e Advogado Público
Brisa Ferrão – Advogada
Leila Paiva – Advogada, Militante de Direitos Humanos e Mestranda em Direito na UCB.

Guilherme Silva Rossi – Secretário de Comissões do Parlamento do MERCOSUL – Advogado pela USP e mestrando em sociologia

Luciano de Almeida Pereira – Advogado e Professor Universitário – PUC, IBET e FAM
Leila Paiva – Advogada, Militante de Direitos Humanos e Mestranda em Direito na UCB.
Rodrigo Bedoni – Defensor Público do Estado de São Paulo
André Esposito Roston – Auditor-fiscal do trabalho

Carlos Frederico Ramos de Jesus – Mestre e Doutorando pela Faculdade de Direito da USP. Advogado da Caixa Econômica Federal.

Maria Luiza Flores da Cunha Bierrenbach – Procuradora do Estado de S Paulo, aposentada
Sergio Tuthill Stanicia – Doutorando em Direito Civil na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
Shandor Torok Moreira – Professor e procurador do estado de Mato Grosso do Sul
Alvaro Larrabure Costa Corrêa – Advogado
Lidia Hatsumi Yoshikawa – Mestre em Direito
Natália Albuquerque Dino – Servidora pública federal
Maria Eloiza Ferreira De La Torre – Advogada
Igor Beltrão Castro de Assis – Advogado
Marília Monteiro – Mestranda em Políticas Públicas na Hertie School of Governance e advogada pela FGV-Rio
Sabrina Marques – Mestre em Direito do Estado PUC/SP
Marcelo Seiça Taborda – Advogado
Luis Henrique Domingues – Analista Judiciário Federal
Alexandre de Salles Gonçalves – Advogado de Curitiba/PR
Lucia Del Picchia – Mestre e doutora em direito econômico pela USP. Procuradora do Município de São Paulo
Daniel Astone – Pesquisador em Direito
Alessandra Sgreccia – Procuradora Federal
Dayanna Soares de Carvalho – Advogada
Rubens José Gama Júnior – Advogado
Marcelo Branco Gómez – Advogado
Marcus Vinicius Xavier de Oliviera – Professor do Departamento de Direito/UFRO-Advogado
Vladimir Sampaio Soares de Lima – Advogado
Milton Lamenha de Siqueira – Juiz de Direito
Andrea Kelly Ahumada – Advogada
Luís Otávio Daloma da Silva – Advogado
Maria Betânia Nunes Pereira – Advogada
Marina Hamud Morato de Andrade – Defensora Pública
Ana Giselle Parente Rebouças – Advogada
Juliana Costa Hashimoto Bertin – Advogada
Giselle Flügel Mathias Barreto – Advogada
Lucio Mota do Nascimento – Defensor Público do Estado de São Paulo
Estela Aranha – Advogada
Frederico de Lima Santana – Advogado
Holanda Karla Mendes do Bomfim – Advogada
André de Paiva Toledo – Professor de Direito da Escola Superior Dom Helder Câmara
Gerivaldo Neiva – Juiz de Direito (BA)
André Pegas – Advogado
Melba Lorena Silva Rosa – Advogada
Filipe Augusto Jose Diwan – Advogado
Humberto de Toledo Câmara Neder – Delegado de Polícia do Estado de São Paulo
Eduardo Alecsander Xavier de Medeiros – Procurador do Distrito Federal
Luana Araujo – Advogada
Gerson dos Santos Sicca – Auditor Substituto de Conselheiro do TCE/SC
Marita de Lourdes Vargas – Advogada
Ivan de Franco – Mestre em Direito pela FGV
Breno Ferreira Martins Vasconcelos – Advogado
Gustavo Fontana Pedrollo – Procurador Federal (AGU), Mestre em Direito Público pela UFSC.
Sandra Maria de Oliveira Spanó advogada
Thalita Verônica Gonçalves e Silva – Defensora Publica
Flavia D’Urso – Defensora Pública de SP, doutora em Filosofia Política, PUC/SP

Claudio Carvalho – Professor de Direito Ambiental,Urbano e Agrário. Coordenador do Grupo de Pesquisa em Direito Ambiental,Urbano, Agrário e Movimentos Sociais. Integrante do Núcleo de Assessoria Jurídica Alternativa – NAJA. PROEX/UESB – Vitória da Conquista/Bahia

Flavio Marques Prol – Doutorando em Direito na USP
Ricardo Sartori – Advogado
Rodrigo Augusto Camargo D’Amico – Advogado
Eneida Vinhaes Bello Dultra – Advogada Popular e Doutoranda – UnB
Alexandre Bizzotto – Juiz de Direito do TJGO, Mestre e Doutor em Direito
Carlos Couto Muniz – Bacharel em direito e auditor fiscal
Rui Andrade – Advogado de Laje/BA
Ricardo Fagundes Gouvea – Defensor Público do Estado de São Paulo
Carolina Gabas Stuchi – Doutora em Direito do Estado pela USP
João Vicente Augusto Neves – Advogado
Maria da Piedade “Dadinha” Peixoto Santos – Advogada e servidora da UNESP (aposentada)
Sara Mercês – Advogada Militante (OAB/ BA.14.999)
Dilson Franca – Advogado
José Berlange Andrade – Juiz de Direito aposentado e Professor Universitário
Roberta Corrêa Vargas – Advogada
Ricardo de Mattos Pereira Filho – Advogado
Uirá Menezes de Azevêdo – Professor de Teoria e Filosofia do Direito (UNEB/BA)
Gildo Ribeiro da Silva – Advogado
João Roberto de Oliveira Moro – Advogado e Mestre em Políticas Públicas na América Latina pela Universidade de Oxford

Apio Vinagre Nascimento – Advogado –
Lauro de Freitas/BahiaRubens Takashi Tsubone – Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho, Professor da Universidade Candido Mendes e Advogado

Ana Carolina Paulon Capozzi – Advogada e antiga aluna da USP
Renata de Assis Moura – Advogada
Filipe C M Vendrame – Mestrando em Direitos Humanos e Democratização política pela EIUC – Itália
Vivian Mendes – Membra Executiva Estadual do PT-SP e Assessora Especial da Prefeitura de São Paulo
Ademir Oliveira Matos – Advogado
Edgar Belisário da Silva – Advogado, Consultor tributário /fiscal da Fiscodata Legislação On Line Ltda.
Ricardo Montero Alvarez – Ex-ombudsman do C A XI de Agosto
Caroline Godói – Advogada
Otavio Alexandre Freire da Silva – Advogado – Salvador/BA
João Éder Furlan – Advogado e Mestrando em Ciência Jurídica pela UENP/PR
Cristiano Maronna – Advogado
Daniel Feitosa de Menezes – Procurador do Estado do Ceará e advogado
Fábio Cantizani Gomes – Mestre em Direito pela Unesp, Professor de Direito Constitucional
Marcel Andreata de Miranda – Juiz de Direito – TJRS
Pedro Augusto Zanon Paglione – Advogado
Guilherme Salvador Banzato Facco – Advogado
Maria das Graças Perera de Mello – Advogada
Saulo Ramos Furquim – Mestre em Ciências Jurídico-Criminais pela Universidade de Coimbra
Cesar Arantes Thomazine Corrêa – Servidor público federal
Andréa Silva de Oliveira – Advogada, Master en Derechos Fundamentales por la UC3M de Madrid
Carlos Francisco Marcondes Junior – Advogado em São Paulo, graduado pela USP.
Carla Moradei Tardelli – Advogada e Psicóloga
Franco Omar Herrará Alviz – Advogado trabalhista
André Ferreira – Advogado do Depto. Jurídico XI de Agosto
Camilla de Vilhena Bemergui – Auditora Fiscal do Trabalho, Mestre em Direito do Trabalho FDUSP
Erik Chiconelli Gomes – Mestrando em História Econômica – FFLCH-USP; graduando em Direito, FDUSP. Sociólogo.
Mario Sergio Gochi – Advogado

Cássio Luiz Barbosa de Paula Teixeira – Analista de Promotoria do Ministério Público do Estado de São Paulo

Douglas Rodrigues da Silva – Bacharel em direito pela Faculdade de Direito de Curitiba e analista do Ministério Público Federal

Mario Sergio Gochi – Advogado
Daniel de Faria Galvão – Advogado trabalhista. Ex-professor convidado da Faculdade de Direito da UFOP
Josevaldo Duarte Gueiros – Advogado Trabalhista
André Azevedo – Advogado e Mestrando em Direito Constitucional (UFMG)
Fernando Martins Nabinger – Advogado
Rogerio Dultra dos Santos – Professor Adjunto IV da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense
Julia Almeida Shimizu – Advogada
Alexandro Tadeu do Livramento – Advogado
Caio Pereira Lima – Advogado
Eduardo Augusto da Silva Dias – Defensor Público (AM)
Mario Sergio Gochi – Advogado
Márcia Maia – Advogada
Cassandra Maria Arcoverde e Assunção – Advogada
Laerty Morelin Bernardino – Mestrando em Justiça & Exclusão pela UENP
Tania Maria de Souza Rego – Advogada
Tarso Cabral Violin – Advogado em Curitiba e Professor de Direito Administrativo
Elisângela Cristina Soares – Advogada
Roberto Hilsdorf Rocha – Advogado, especialista em Direitos Humanos – USP
João Bernardo Kappen – Advogado Criminal
Leandro Matias – Advogado e Economista
Natane Franciella de Oliveira – Mestranda em Direito – UFES
Luis Antônio Saldanha de Oliveira – Advogado
Claudio Olimpio Lemos de Carvalho – Juiz do Trabalho TRT 1ª Região
Marcelle Serbeto Medina da Silva – Servidora Pública Federal
Osvaldo Hulle – Advogado
Marlon Aurélio Tapajós Araújo – Procurador do Estado do Pará
Diego dos Santos Araújo – Advogado
Vagner Fontes Cardoso – Advogado
Pedro Muller Bezerra Vasconcellos – Mestrando em Direito – Universidade de São Paulo
Haroldo Caetano – Promotor de Justiça do Estado de Goiás
Adriano Andrade – Administrador e representante do fórum Advogado Contra o Proibicionismo – ACP
Gustavo Lacerda Franco – Mestrando em Direito Comercial – USP
Carolina Pereira Tokarski – Mestra em Direito pela UnB.
Fellipe da Silva Santos – Advogado
Paulo de Carvalho Yamamoto – Mestrando em Direito do Trabalho pela Faculdade de Direito da USP e advogado
Ana Carolina Pires de Campos – Advogada
Ricardo Juozepavicius Gonçalves – Advogado e mestrando em Direito pela USP
Bruno Macedo Amorim – Graduando de Direito do Centro Universitário Ages – Paripiranga – Bahia
Leandro de Souza Cruz – Advogado de Sete Lagoas/MG
Marcio Constantino Cassettari Mimessi – Advogado
Gabriela Japiassú Viana – Procuradora do Estado de São Paulo
Renato da Cunha Rosa – Bancário e bacharel em Direito
Ivan de Carvalho Junqueira – Especialista em Direitos Humanos e Segurança Pública
Bruno Pegorari – Mestrando em Direito pela USP
Antonio Carlos Segatto – Professor de Direito da Universidade Estadual de Maringá-PR
Nilo Beiro – Advogado
Vera Regina Silva Bandeira – Advogada de Passo Fundo/RS
Amauri Vieira Barbosa – Juiz do trabalho
Jeronimo Luiz Placido de Mesquita – Secretário da Comissão de Direitos Humanos da OAB-BA
Pedro Igor Mantoan – Advogado
Nathália de Campos Valadares – Advogada e pós graduanda pela PUCMINAS
Talita Nascimento – Advogada formada pela USP, ex presidenta do Centro Acadêmico XI de Agosto.
Nadja Lima Menezes – Procuradora do Banco Central
Renato Rossi Filho – Graduando em Direito na UNESP
Luís Antônio Cunha Ribeiro Mestre em Direito – PUC-Rio, Doutor em Fillosofia-UFRJ, Professor da UFF
Eduardo surian matias – Advogado – Campinas
Raphael Camarão Trevizan – Defensor Público do Acre
Rejane Luthemaier – Advogada de Porto Alegre (RS)
Lenin Araujo – Analista de Sistemas
Marcio Camargo Cunha Filho – Doutorando em Direito pela Universidade de Brasilia
Pablo Castellon – Advogado
José Nuzzi Neto – Procurador de Autarquia
Sílvio Santoro Júnior – Advogado
Fredson Oliveira Carneiro – Advogado popular, mestrando em Direitos Humanos pela Universidade de Brasília
Gil Vicente Oliveira – Advogado
Leonardo de Carvalho Milani – Advogado
Wallace Martins – Advogado e professor da UCAM
Sandro José Celeste – Advogado e Professor de História

Dennys Aron Távora Arantes – Advogado, Procurador do Município de São Paulo e ex-presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto

José Antonio Miguel – Professor convidado PUCPR, mestrando em Ciência Jurídica pela UENP
Luís Antônio Albiero – Advogado em Americana e Capivari (SP)
Luiz Gustavo Campbell Moreira – Advogado
Arlei Costa Gonçalves – Advogado, especializando em direito do trabalho, servidor público no estado do Pará
Victor Martins Pimenta – Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania na Universidade de Brasília
Marcos Vinícius Souza de Oliveira – Advogado
Sílvio Luiz Estrela da Silva – Advogado
Julio Yamamoto – Advogado
Alan Wellington Soares dos Santos – Advogado
Selma R. P. de Souza – Advogada
Gabriel Campos Raymundo – Advogado
Christina Alkmim – Advogada
Carlos Procópio – Professor do Instituto Federal de São Paulo
Anderson Monteiro de Carvalho – Advogado
Andressa Pereira da Silva – Advogada
Ronaldo T. Pagotto – Advogado
Luís Fernando Falcone Garcia – Oficial de Registro Civil
Osmira Freire de Carvalho – Auditora Fiscal do Estado, Especializada em Processo Administrativo Fiscal
Angela Regina Marinho Rocha – Bacharel em Direito
Rita Mattar – Bacharel em Direito pela USP
Emanuel Fonseca Lima – Procurador do Estado de São Paulo. Mestrando em Direito pela USP
Dirlei Figueiró Fortes – Advogado
Juliana Menezes Teixeira de Castro – Advogada /RJ
Dirlei Figueiró Fortes – Advogado
Maria Celeste Cirqueira Córdova – Advogada
Daniela Cristien S. M. Coelho – Advogada
Raísa Machado – Advogada

Tomas Pereira de Almeida Silva – Membro do conselho do Núcleo de Direitos Humanos do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL.

Maria Vitoria Queija Alvar – Professora universitária e advogada
Tânia Andrade – Advogada em Brasília/DF
Samuel Martins dos Santos – Professor de Direito Constitucional do CESUSC/SC.
Rubens Leite Filho – Advogado
Maria Arruda – Arquiteta
Danilo Rossi Luz – Advogado
Maria Aparecida Violante – Professora
Milton Jordão – Advogado
Paulo Sérgio Ferreira de Barros Filho – Advogado
Douglas Pereira de Almeida – Servidor Público Federal
Alexandre Simões De Mello – Advogado em São Paulo
Ricardo Lodi Ribeiro – Professor Adjunto de Direito Financeiro da UERJ
Felipe F. Rocha – Advogado e Economista
Rivadavio Guassú – Advogado
Felipe F. Rocha – Advogado e Economista
Diego Pereira – Mestrando em Direitos Humanos na UnB
Priscila Pamela dos Santos – Advogada criminalista, pós graduanda em Direito Penal Econômico pela FGV
Isabella Marcondes Commans – Advogada
Luiz Gustavo Cardoso – Analista Judiciário
Nicholai Mattuella – Estudante da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo
Iraildes Santos de Santana – Bacharela em Direito

Fernanda Salgueiro Borges – Doutoranda em Direito Internacional Publico Universite Aix Marseille III. Mestre em Direito Politico e Economico. Advogada.

Elisabete Bello de Campos – Advogada
Andrea Roma – Advogada
Monique Ferreira – Advogada
Patrick Barcellos Peixe – Advogado
Fernanda Galvão Amaral – Advogada
Bruno Freitas Vallone – Advogado e ex-aluno da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo

Antonio Rodrigo Machado – Advogado Administrativista em Brasília e Membro do Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura

Caroline Muratian de Britto – Servidora Pública do TJSP
Manuel Caleiro – Advogado e Doutorando em Direito pela PUCPR
João Vitor Guimarães – Advogado
Pedro Augusto Simões da Conceição – Mestrando em Direito Penal pela USP. Advogado

Érica Meireles de Oliveira – Estudante de Direito da USP, componente da gestão do Centro Acadêmico XI de Agosto e Servidora na Defensoria Pública do estado de SP

Mauricio Quirino – Aposentado
Geyson Gonçalves – Advogado. Mestre e Doutorando pela UFSC. Professor da Facudade CESUSC/SC.
Carolina Candeia Galvão – Advogada

Edson Joaquim Raimundo de Araujo Júnior – Técnico Jurídico pela ETEC/SP, Estudante de Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie e Deputado Federal Jovem na VI edição do Parlamento Jovem Brasileiro realizado na Câmara dos Deputados

Bruno Domingues – Advogado e Servidor Público
André Luis Castro de Carvalho – Advogado
Diego Moreiras – Advogado
Karen Flesch – Analista Previdenciária
Bruno Marques Teixeira – Advogado
Dilton Tapajós – Advogado
Alexandre de Salles Gonçalves Advogado – Curitiba/PR

Os vermes do bosque, por Pablo Neruda

No Senado, vassalos com seus projetos de entrega do pré-sal;

na Câmara, traição.

Delatores sujos,

pedantes donos de revista-esgoto.

Vendedores de capas,

insetos que vivem de feridas.

Eclosão dos ovos das serpentes,

proliferação dos vermes dos bosques.

Assim está a tua realidade, pátria.

Paulo Martins

Com a palavra, Neruda:

Algo do bosque antigo caiu, foi a tormenta

talvez, purificando crescimentos e camadas,

e nos troncos caídos fermentaram os fungos,

as lesmas cruzaram seus fios nauseabundos,

e a madeira morta que caiu das alturas

encheu-se de buracos e de larvas espantosas.

Assim está o teu costado, pátria, a desditada

governação de insetos que povoam tuas feridas,

os grossos traficantes que mastigam arame,

os que desde Palacio negociam com o ouro,

os vermes que juntam micros e pescarias,

os que te roem algo cobertos pelo manto

do traidor que dança sua zamba excitada,

o jornalista que encarcera seus companheiros,

o sujo delator que faz governo,

o pedante que se apodera duma revista pedante

com o ouro roubado dos yaganes,

o almirante tonto como um tomate, o gringo

que cospe a seus vassalos uma bolsa com dólares.

Bomba atômica de Hiroshima: 70 anos de um crime

Em 06 de agosto de 1945 os EUA jogou em Hiroshima uma bomba atômica que causou a morte instântanea de 78.000 pessoas, em grande parte mulheres e crianças. 

Nos anos seguintes, foram contabilizadas mais de 200 mil mortes. 

Trata-se de um crime monstruoso, pela quantidade e pela desumanidade. Muitos, simplesmente, viraram pó. Outros sofreram ferimentos e sequelas horríveis.

Faz 70 anos que a bomba foi lançada, mas não podemos deixar cair no esquecimento.

Em 30/04/1945 Hitler cometeu suicídio. Em 07/05/1945 a Alemanha rendeu-se incondicionalmente.

O Japão já estava derrotado, queria negociar uma rendição, mas não havia se rendido incondicionalmente.

O objetivo das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki era obter tal rendição incondicional.

O próprio general norte-americano Eisenhower opunha-se ao lançamento da bomba, pois o Japão já estava derrotado.

Portanto, jogar bombas atômicas em derrotados, especialmente em mulheres e crianças, por motivo torpe, além de ser crime de guerra, é crime de lesa-humanidade.

Sabemos que a história é escrita pelos vencedores. Assim, embora todos mostrem suas condolências pelas mortes, evitam condenar os seus autores.

Basta uma simples lavagem cerebral, uma simples manipulação da opinião pública, e os autores escapam da condenação pública.

Não podemos, jamais, esquecer. Para que o horror não se repita nunca mais.

Assista um clip, com poema de Vinicius de Moraes, cantada pela banda Secos e Molhados. Clique abaixo:

http://youtu.be/GqG0LGN84SA

Paulo Martins – dialogosessenciais.com

A nova marcha dos insensatos e a sua primeira vítima, por Mauro Santayana

Se analisarmos o texto, as preocupações e a densidade e coerência dos argumentos do autor, vamos concluir de imediato que se trata de um Jornalista da escola antiga. Mauro Santayana nasceu em agosto de 1932.

Não pertence à escola de jornalismo que pariu Sardenbergs, Mervais, Augustos, Escosteguis e tantos outros ‘miquinhos amestrados’, bem pagos, que praticam o ‘novo normal” no jornalismo nacional.

Da escola dos grandes jornalistas sobraram poucos. Santayana está neste time: sempre coerente, cidadão e nacionalista.

Discordei de algumas posições suas no passado e não endosso tudo o que ele escreve. Mas defendo necessidade de lermos e ouvirmos os verdadeiros Jornalistas, dignos dessa profissão hoje tão vilipendiada pelos profissionais contratados pelos grandes grupos da mídia-empresa oligopolista.

Leia com atenção, até o fim. Vale a pena. Dê o necessário desconto, aqui e ali, pois se trata de um desabafo de um velho Jornalista apaixonado pelo seu país.

Paulo Martins – dialogosessenciais.com

Por Mauro Santayana

Publicado na Carta Maior

Muitos que vão sair às ruas contra Dilma acreditam piamente que o PT estaria, jogando pela janela, a ‘maravilhosa’ herança de FHC. Conheça os dados.

image

Esperam-se, para o próximo dia 16 de agosto — mês do suicídio de Vargas e de tantas desgraças que já se abateram sobre o Brasil — novas manifestações pelo impeachment da Presidente da República, por parte de pessoas que acusam o governo de ser corrupto e comunista e de estar quebrando o país.

Se esses brasileiros, antes de ficar repetindo sempre os mesmos comentários dos portais e redes sociais, procurassem fontes internacionais em que o mercado financeiro normalmente confia para tomar suas decisões, como o FMI – Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, veriam que a história é bem diferente, e que se o PIB e a renda per capita caíram, e a dívida pública líquida praticamente dobrou, foi no governo Fernando Henrique Cardoso.

Segundo o Banco Mundial, o PIB do Brasil, que era de 534 bilhões de dólares, em 1994, caiu para 504 bilhões de dólares, quando Fernando Henrique Cardoso deixou o governo, oito anos depois.

            image

Para subir, extraordinariamente, destes 504 bilhões de dólares, em 2002, para 2 trilhões, 346 bilhões de dólares, em 2014, último dado oficial levantado pelo Banco Mundial, crescendo mais de 400% em dólares, em apenas 11 anos, depois que o PT chegou ao poder.

E isso, apesar de o senhor Fernando Henrique Cardoso ter vendido mais de 100 bilhões de dólares em empresas brasileiras, muitas delas estratégicas, como a Telebras, a Vale do Rio Doce e parte da Petrobras, com financiamento do BNDES e uso de “moedas podres”, com o pretexto de sanear as finanças e aumentar o crescimento do país.

Com a renda per capita ocorreu a mesma coisa. No lugar de crescer em oito anos, a renda per capita da população brasileira, também segundo o Banco Mundial — caiu de 3.426 dólares, em 1994, no início do governo, para 2.810 dólares, no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002. E aumentou, também, em mais de 400%, de 2.810 dólares, para 11.208 dólares, também segundo o World Bank, depois que o PT chegou ao poder.

O salário mínimo, que em 1994, no final do governo Itamar Franco, valia 108 dólares, caiu 23%, para 81 dólares, no final do governo FHC e aumentou em três vezes, para mais de 250 dólares, agora.

As reservas monetárias internacionais — o dinheiro que o país possui em moeda forte — que eram de 31,746 bilhões de dólares, no final do governo Itamar Franco, cresceram em apenas algumas centenas de milhões de dólares por ano, para37.832 bilhões de dólares — nos oito anos do governo FHC.

Nessa época, elas eram de fato, negativas, já que o Brasil, para chegar a esse montante, teve que fazer uma dívida de 40 bilhões de dólares com o FMI.

Depois, elas se multiplicaram para 358,816 bilhões de dólares em 2013, e para 370,803 bilhões de dólares, em dados de ontem (Bacen), transformando o Brasil de devedor em credor do FMI, depois do pagamento total da dívida com essa instituição em 2005, e de emprestarmos dinheiro para o Fundo Monetário Internacional, quando do pacote de ajuda à Grécia em 2008.

E, também, no terceiro maior credor individual externo dos EUA, segundo consta, para quem quiser conferir, do próprio site oficial do tesouro norte-americano — (usa treasury).

O IED – Investimento Estrangeiro Direto, que foi de 16,590 bilhões de dólares, em 2002, no último ano do Governo Fernando Henrique Cardoso, também subiu mais de quase 400%, para 80,842 bilhões de dólares, em 2013, depois que o PT chegou ao poder, ainda segundo dados do Banco Mundial: passando de aproximadamente 175 bilhões de dólares nos anos FHC (mais ou menos 100 bilhões em venda de empresas nacionais) para 440 bilhões de dólares entre 2002 e 2014.

A dívida pública líquida (o que o país deve, fora o que tem guardado no banco), que, apesar das privatizações, dobrou no Governo Fernando Henrique, para quase 60%, caiu para 35%, agora, 11 anos depois do PT chegar ao poder.

Quanto à questão fiscal, não custa nada lembrar que a média de déficit público, sem desvalorização cambial, dos anos FHC, foi de 5,53%, e com desvalorização cambial, de 6,59%, bem maior que os 3,13% da média dos anos que se seguiram à sua saída do poder; e que o superavit primário entre 1995 e 2002 foi de 1,5%, muito menor que os 2,98% da média de 2003 e 2013 — segundo Ipeadata e o Banco Central.

E, ao contrário do que muita gente pensa, o Brasil ocupa, hoje, apenas o quinquagésimo lugar do mundo, em dívida pública, em situação muito melhor do que os EUA, o Japão, a Zona do Euro, ou países como a Alemanha, a França, a Grã Bretanha — cujos jornais adoram ficar nos ditando regras e “conselhos” — ou o Canadá (economichelp).

Também ao contrário do que muita gente pensa, a carga tributária no Brasil caiu ligeiramente, segundo Banco Mundial, de 2002, no final do governo FHC, para o último dado disponível, de dez anos depois, e não está entre a primeiras do mundo, assim como a dívida externa, que caiu mais de 10 pontos percentuais nos últimos dez anos, e é a segunda mais baixa, depois da China, entre os países do G20 (quandl).

Não dá, para, em perfeito juízo, acreditar que os advogados, economistas, empresários, jornalistas, empreendedores, funcionários públicos, majoritariamente formados na universidade, que bateram panelas contra Dilma em suas varandas, no início do ano, acreditem mais nos boatos das redes sociais, do que no FMI e no Banco Mundial, organizações que podem ser taxadas de tudo, menos de terem sido “aparelhadas” pelo governo brasileiro e seus seguidores.

Considerando-se estas informações, que estão, há muito tempo, publicamente disponíveis na internet, o grande mistério da economia brasileira, nos últimos 12 anos, é saber em que dados tantos jornalistas, economistas, e “analistas”, ouvidos a todo momento, por jornais, emissoras de rádio e televisão, se basearam, antes e agora, para tirar, como se extrai um coelho da cartola — ou da “cachola” — o absurdo paradigma, que vêm defendendo há anos, de que o Governo Fernando Henrique foi um tremendo sucesso econômico, e de que deixou “de presente” para a administração seguinte, um país econômica e financeiramente bem sucedido.

Nefasto paradigma, este, que abriu caminho, pela repetição, para outra teoria tão frágil quanto mentirosa, na qual acreditam piamente muitos dos cidadãos que vão sair às ruas no próximo dia seis (em verdade, dia dezesseis, correção de dialogosessenciais.com): a de que o PT estaria, agora, jogando pela janela, essa — supostamente maravilhosa – “herança” de Fernando Henrique Cardoso.

O pior cego é o que não quer ver, o pior surdo, o que não quer ouvir.

Está certo que não podemos ficar apenas olhando para o passado, que temos de enfrentar os desafios do presente, fruto de uma crise que é internacional, e que é constantemente alimentada e realimentada por medidas de caráter jurídico que afetam a credibilidade e a estabilidade de empresas e por uma intensa campanha antinacional, que fazem com que estejamos crescendo pouco, neste ano, embora haja diversos países ditos “desenvolvidos” que estejam muito mais endividados e crescendo menos ainda do que nós.

Assim como também é verdade que esse governo não é perfeito, e que se cometeram vários erros na economia, que poderiam ter sido evitados, principalmente nos últimos anos, como desonerações desnecessárias e um tremendo incentivo ao consumo que prejudicou — entre outras razões, também pelo aumento da importação de supérfluos e de viagens ao exterior — a balança comercial.

Mas, pelo amor de Deus, não venham nos impingir nenhuma dessas duas fantasias, que estão empurrando muita gente a sair às ruas para se manifestar: nem Fernando Henrique salvou o Brasil, nem o PT está quebrando um país que em 2002, era a décima-quarta maior economia do mundo, e que hoje já ocupa o sétimo lugar.

Muitos brasileiros também vão sair às ruas, mais esta vez, por acreditar — assim como fazem com relação à afirmação de que o PT quebrou o país — que o governo Dilma é comunista e que ele quer implantar uma ditadura esquerdista no Brasil.

Quais são os pressupostos e características de um país democrático, ao menos do ponto de vista de quem “acredita” e defende o capitalismo?

a) a liberdade de expressão — o que não é verdade para a maioria dos países ocidentais – dominados por grandes grupos de mídia pertencentes a meia dúzia de famílias, mas que, do ponto de vista formal, existe plenamente por aqui;

b) a liberdade de empreender, ou de livre iniciativa, por meio da qual um indivíduo qualquer pode abrir ou encerrar uma empresa de qualquer tipo, quando quiser;

c) a liberdade de investimento, inclusive para capitais estrangeiros;

d) um sistema financeiro particular independente e forte;

e) apoio do governo à atividade comercial e produtiva;

f) a independência dos poderes;

g) um sistema que permita a participação da população no processo político, na expressão da vontade da maioria, por meio de eleições livres e periódicas, para a escolha, a intervalos regulares e definidos, de representantes para o Executivo e o Legislativo, nos municípios, Estados e União.

Todas essas premissas e direitos estão presentes e vigentes no Brasil.

Não é o fato de ter como símbolo uma estrela solitária ou vestir uma roupa vermelha — hábito que deveria ter sido abandonado pelo PT há muito tempo, justamente para não justificar o discurso adversário de que o PT não é um partido “brasileiro” ou “patriótico” — que transformam alguém em comunista — e aí estão botafoguenses e colorados que não me deixam mentir, assim como o Papai Noel, que se saísse inadvertidamente às ruas, no dia 6, (dia 16, correção de dialogosessenciais.com) provavelmente seria espancado brutalmente, depois de ter o conteúdo de seu saco de brinquedos revistado e provavelmente “apreendido” à procura de dinheiro de corrupção.

Da mesma forma que usar uma bandeira do Brasil não transforma, automaticamente, ninguém em patriota, como mostrou a foto do Rocco Ritchie, o filho da Madonna, no Instagram, e os pavilhões nacionais pendurados na entrada do prédio da Bolsa de Nova Iorque, quando da venda de ações de empresas estratégicas brasileiras, na época da privataria.

Qualquer pessoa de bom senso prefere um brasileiro vestido de vermelho — mesmo que seja flamenguista ou sãopaulino, que não são, por acaso, times do meu coração — do que um que vai para a rua, vestido de verde e amarelo, para defender a privatização e a entrega, para os EUA, de empresas como a Petrobras.

O PT é um partido tão comunista, que o lucro dos bancos, que foi de aproximadamente 40 bilhões de dólares no governo Fernando Henrique Cardoso, aumentou para 280 bilhões de dólares nos oito anos do governo Lula.

É claro que isso ocorreu também por causa do crescimento da economia, que foi de mais de 400% nos últimos 12 anos, mas só o fato de não aumentar a taxação sobre os ganhos dos mais ricos e dos bancos — que, aliás, teria pouquíssima chance de passar no Congresso Nacional — já mostra como é exagerado o medo que alguns sentem do “marxismo” do Partido dos Trabalhadores.

O PT é um partido tão comunista, que grandes bancos privados deram mais dinheiro para a campanha de Dilma e do PT do que para os seus adversários nas eleições de 2014.

Será que os maiores bancos do país teriam feito isso, se dessem ouvidos aos radicais que povoam a internet, que juram, de pés juntos, que Dilma era assaltante de banco na década de 1970, ou se desconfiassem que ela é uma perigosa terrorista, que está em vias de dar um golpe comunista no Brasil?

O PT é um partido tão comunista que nenhum governo apoiou, como ele, o capitalismo e a livre iniciativa em nosso país.

Foi o governo do PT que criou o Construcard, que já emprestou mais de 20 bilhões de reais em financiamento, para compra de material de construção, beneficiando milhares de famílias e trabalhadores como pedreiros, pintores, construtores; que criou o Cartão BNDES, que atende, com juros subsidiados, milhares de pequenas e médias empresas e quase um milhão de empreendedores; que aumentou, por mais de quatro, a disponibilidade de financiamento para crédito imobiliário — no governo FHC foram financiados 1,5 milhão de unidades, nos do PT mais de 7 milhões — e o crédito para o agronegócio (no último Plano Safra de Fernando Henrique, em 2002, foram aplicados 21 bilhões de reais, em 2014/2015, 180 bilhões de reais, 700% a mais) e a agricultura familiar (só o governo Dilma financiou mais de 50 bilhões de reais contra 12 bilhões dos oito anos de FHC).

Aumentando a relação crédito-PIB, que era de 23%, em dezembro de 2002, para 55%, em dezembro de 2014, gerando renda e empregos e fazendo o dinheiro circular.

As pessoas reclamam, na internet, porque o governo federal financiou, por meio do BNDES, empresas brasileiras como a Braskem, a Vale e a JBS.

Mas, estranhamente, não fazem a mesma coisa para protestar pelo fato do governo do PT, altamente “comunista”, ter emprestado — equivocadamente a nosso ver — bilhões de reais para multinacionais estrangeiras, como a Fiat e a Telefónica (Vivo), ao mesmo tempo em que centenas de milhões de euros, seguem para a Europa, como andorinhas, todos os anos, em remessa de lucro, para nunca mais voltar.

A questão militar

Outro mito sobre o suposto comunismo do PT, é que Dilma e Lula, por revanchismo, sejam contra as Forças Armadas, quando suas administrações, à frente do país, começaram e estão tocando o maior programa militar e de defesa da história brasileira.

Lula nunca pegou em armas contra a ditadura. No início de sua carreira como líder de sindicato, tinha medo “desse negócio de comunismo” — como já declarou uma vez — surgiu e subiu como uma liderança focada na defesa de empregos, aumentos salariais e melhoria das condições de classe de seus companheiros de trabalho, operários da indústria automobilística de São Paulo, e há quem diga que teria sido indiretamente fortalecido pelo próprio regime militar para impedir o crescimento político dos comunistas em São Paulo.

Dilma, sim, foi militante de esquerda na juventude, embora nunca tenha pego em armas, a ponto de não ter sido acusada disso sequer pela Justiça Militar.

Mas se, por esta razão, ela é comunista, seria possível acusar desse mesmo “crime” também José Serra, Aloísio Nunes Ferreira, e muitos outros que antes eram contra a ditadura e estão, hoje, contra o PT.

Se o PT tivesse alguma coisa contra a Marinha, ele teria financiado, por meio do PROSUB, a construção do estaleiro e da Base de Submarinos de Itaguaí, e investido 7 bilhões de dólares no desenvolvimento conjunto com a França, de vários submersíveis convencionais e do primeiro submarino nuclear brasileiro, cujo projeto se encontra hoje ameaçado, porque suas duas figuras-chave, o Presidente do Grupo Odebrecht, e o Vice-Almirante Othon Pinheiro da Silva, figuras públicas, com endereço conhecido, estão desnecessária e arbitrariamente detidos, no âmbito da “Operação Lava-Jato”?

Teria, da mesma forma, o governo do PT, comprado novas fragatas na Inglaterra, voltado a fabricar navios patrulha em nossos estaleiros, até para exportação para países africanos, investido na remotorização totalmente nacional de mísseis tipo Exocet, na modernização do navio aeródromo (porta-aviões) São Paulo, na compra de um novo navio científico oceanográfico na China, na participação e no comando por marinheiros brasileiros das Forças de Paz da ONU no Líbano ?

Se fosse comunista, o governo do PT estaria, para a Aeronáutica, investindo bilhões de dólares no desenvolvimento conjunto com a Suécia, de mais de 30 novos caças-bombardeio Gripen NG-BR, que serão fabricados dentro do país, com a participação de empresas brasileiras e da SAAB, com licença de exportação para outras nações, depois de uma novela de mais de duas décadas sem avanço nem solução, que começou no governo FHC ?

Se fosse comunista — e contra as forças armadas — teria o governo do PT encomendado à Aeronáutica e à Embraer, com investimento de um bilhão de reais, do governo federal, o projeto do novo avião cargueiro militar multipropósito KC-390, desenvolvido com a cooperação da Argentina, do Chile, de Portugal e da República Tcheca, capaz de carregar até blindados, que já começou a voar neste ano — a maior aeronave já fabricada no Brasil?

Teria comprado, para os Grupos de Artilharia Aérea de Auto-defesa da FAB, novas baterias de mísseis IGLA-S; ou feito um acordo com a África do Sul, para o desenvolvimento conjunto — em um projeto que também participa a Odebrecht — com a DENEL Sul-africana, do novo míssil ar-ar A-Darter, que ocupará os nossos novos caças Gripen NG BR?

Se fosse um governo comunista, o governo do PT teria financiado o desenvolvimento, para o Exército, do novo Sistema Astros 2020, e recuperado financeiramente a AVIBRAS ?

Se fosse um governo comunista, que odiasse o Exército, o governo do PT teria financiado e encomendado a engenheiros dessa força, o desenvolvimento e a fabricação, com uma empresa privada, de 2.050 blindados da nova família de tanques Guarani, que estão sendo construídos na cidade de Sete Lagoas, em Minas Gerais?

Ou o desenvolvimento e a fabricação da nova família de radares SABER, e, pelo IME e a IMBEL, para as três armas, da nova família de Fuzis de Assalto IA-2, com capacidade para disparar 600 tiros por minuto, a primeira totalmente projetada no Brasil?

Ou encomendado e investido na compra de helicópteros russos e na nacionalização de novos helicópteros de guerra da Helibras e mantido nossas tropas — em benefício da experiência e do prestígio de nossas forças armadas — no Haiti e no Líbano?

Em 2012, o novo Comandante do Exército, General Eduardo Villas Bôas, então Comandante Militar da Amazônia, respondeu da seguinte forma a uma pergunta, em entrevista à Folha de São Paulo:

Lucas Reis:

“Em 2005, o então Comandante do Exército, general Albuquerque, disse “o homem tem direito a tomar café, almoçar e jantar, mas isso não está acontecendo (no Exército). A realidade atual mudou?

General Eduardo Villas Bôas:

“Mudou muito. O problema é que o passivo do Exército era muito grande, foram décadas de carência. Desde 2005, estamos recebendo muito material, e agora é que estamos chegando a um nível de normalidade e começamos a ter visibilidade. Não discutimos mais se vai faltar comida, combustível, não temos mais essas preocupações.”

Deve ter sido, também, por isso, que o General Villas Bôas, já desmentiu, como Comandante do Exército, neste ano, qualquer possibilidade de “intervenção militar” no país, como se pode ver aqui (O recado das armas).

A questão externa

A outra razão que contribui para que o governo do PT seja tachado de comunista, e muita gente saia às ruas, no domingo, é a política externa, e a lenda do “bolivarianismo” que teria adotado em suas relações com o continente sul-americano.

Não é possível, em pleno século XXI, que os brasileiros não percebam que, em matéria de política externa e economia, ou o Brasil se alia estrategicamente com os BRICS (Rússia, Índia, China e África do Sul), potências ascendentes como ele; e estende sua influência sobre suas áreas naturais de projeção, a África e a América Latina — incluídos países como Cuba e Venezuela, porque não temos como ficar escolhendo por simpatia ou tipo de regime — ou só nos restará nos inserir, de forma subalterna, no projeto de dominação europeu e anglo-americano?

Ou nos transformarmos, como o México, em uma nação de escravos, como se pode ver aqui (O México e a América do Sul) que monta peças alheias, para mercados alheios, pelo módico preço de 12 reais por dia o salário mínimo?

Jogando, assim, no lixo, nossa condição de quinto maior país do mundo em território e população e sétima maior economia, e nos transformando, definitivamente, em mais uma colônia-capacho dos norte-americanos?

Ou alguém acha que os Estados Unidos e a União Europeia vão abrir, graciosamente, seus territórios e áreas sob seu controle, à nossa influência, política e econômica, quando eles já competem, descaradamente, conosco, nos países que estão em nossas fronteiras?

Do ponto de vista dessa direita maluca, que acusa o governo Dilma de financiar, para uma empresa brasileira, a compra de máquinas, insumos e serviços no Brasil, para fazer um porto em Cuba — a mesma empresa brasileira está fazendo o novo aeroporto de Miami, mas ninguém toca no assunto, como se pode ver aqui (A Odebrecht e o BNDES) — muito mais grave, então, deve ter sido a decisão tomada pelo Regime Militar no Governo do General Ernesto Geisel.

Naquele momento, em 1975, no bojo da política de aproximação com a África inaugurada, no Governo Médici, pelo embaixador Mario Gibson Barbosa, o Brasil dos generais foi a primeira nação do mundo a reconhecer a independência de Angola.

Isso, quando estava no poder a guerrilha esquerdista do MPLA – Movimento Popular para a Libertação de Angola, comandado por Agostinho Neto, e já havia no país observadores militares cubanos, que, com uma tropa de 25.000 homens, lutariam e expulsariam, mais tarde, no final da década de 1980, o exército racista sul-africano, militarmente apoiado por mercenários norte-americanos, do território angolano depois da vitoriosa batalha de Cuito-Cuanavale.

Ao negar-se a meter-se em assuntos de outros países, como Cuba e Venezuela, em áreas como a dos “direitos humanos”, Dilma não faz mais do fez o Regime Militar brasileiro, com uma política externa pautada primeiro, pelo “interesse nacional”, ou do “Brasil Potência”, que estava voltada, como a do governo do PT, prioritariamente para a América do Sul, a África e a aproximação com os países árabes, que foi fundamental para que vencêssemos a crise do petróleo.

Também naquela época, o Brasil recusou-se a assinar qualquer tipo de Tratado de Não Proliferação Nuclear, preservando nosso direito a desenvolver armamento atômico, possibilidade essa que nos foi retirada definitivamente, com a assinatura de um acordo desse tipo no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Se houvesse, hoje, um Golpe Militar no Brasil, a primeira consequência seria um boicote econômico por parte do BRICS e de toda a América Latina, reunida na UNASUL e na CELAC, com a perda da China, nosso maior parceiro comercial, da Rússia, que é um importantíssimo mercado para o agronegócio brasileiro, da Índia, que nos compra até mesmo aviões radares da Embraer, e da Àfrica do Sul, com quem estamos também intimamente ligados na área de defesa.

O mesmo ocorreria com relação à Europa e aos EUA, de quem receberíamos apenas apoio extra-oficial, e isso se houvesse um radical do partido republicano na Casa Branca.

Os neo-anticomunistas brasileiros reclamam todos os dias de Cuba, um país com quem os EUA acabam de reatar relações diplomáticas, visitado por três milhões de turistas ocidentais todos os anos, em que qualquer visitante entra livremente e no qual opositores como Yoani Sanchez atacam, também, livremente, o governo, ganhando dinheiro com isso, sem ser incomodados.

Mas não deixam de comprar, hipocritamente, celulares e gadgets fabricados em Shenzen ou em Xangai, por empresas que contam, entre seus acionistas, com o próprio Partido Comunista.

Serão os “comunistas” chineses — para a neo-extrema-direita nacional — melhores que os “comunistas” cubanos ?

A questão política

A atividade política, no Brasil, sempre funcionou na base do “jeitinho” e da “negociação”.

Mesmo quando interrompido o processo democrático, com a instalação de ditaduras — o que ocorreu algumas vezes em nossa história — a política sempre foi feita por meio da troca de favores entre membros dos Três Poderes, e, principalmente, de membros do Executivo e do Legislativo, já que, sem aprovação — mesmo que aparente — do Congresso, ninguém consegue administrar este país nem mudar a lei a seu favor, como foi feito com a aprovação da reeleição para prefeitos, governadores e Presidentes da República, obtida pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Toda estrutura coletiva, seja ela uma jaula de zoológico, ou o Parlamento da Grã Bretanha, funciona na base da negociação.

Fora disso, só existe o recurso à violência, ou à bala, que coloca qualquer machão, por mais alto, feio e forte seja, na mesma posição de vulnerabilidade de qualquer outro ser humano.

O “toma-lá-dá-cá” nos acompanha há milhares de anos e qualquer um pode perceber isto, se parar para observar um grupo de primatas.

Ai daquele, entre os macacos, que se recusa a catar carrapatos nas costas alheias, a dividir o alimento, ou a participar das tarefas de caça, coleta ou vigilância.

Em seu longo e sábio aprendizado com a natureza, já entenderam eles, uma lição que, parece, há muito, esquecemos: a de que a sobrevivência do grupo depende da colaboração e do comportamento de cada um.

O problema ocorre quando nesse jogo, a cooperação e a solidariedade, são substituídas pelo egoísmo e o interesse de um indivíduo ou de um determinado grupo, e a negociação, dentro das regras usuais, é trocada por pura pilantragem ou o mero uso da ameaça e da pressão.

O corrupto, entre os primatas, é aquele que quer receber mais cafuné do que faz nos outros, o que rouba e esconde comida, quem, ao ver alguma coisa no solo da floresta ou da savana, olha para um lado e para o outro, e ao ter certeza de que não está sendo observado, engole, quase engasgando, o que foi encontrado.

O fascista é aquele que faz a mesma coisa, mas que se apropria do que pertence aos outros, pela imposição extremada do medo e da violência mais injusta.

Se não há futuro para os egoístas nos grupos de primatas, também não o há para os fascistas.

Uns e outros terminam sendo derrotados e expulsos, de bandos de chimpanzés, babuínos e gorilas, ou da sociedade humana, a dos “macacos nus”, quando contra eles se une a maioria.

Já que a negociação é inerente à natureza humana, e que ela é sempre melhor do que a força, o que é preciso fazer para diminuir a corrupção, que não acabará nem com golpe nem por decreto?

Mudar o que for possível, para que, no processo de negociação, haja maior transparência, menos espaço para corruptos e corruptores, e um pouco mais de interesse pelo bem comum do que pelo de grupos e corporações, como ocorre hoje no Congresso.

O caminho para isso não é o impeachment, nem golpe, mas uma Reforma Política, que mude as coisas de fato e o faça permanentemente, e não apenas até as próximas eleições, quando, certamente, partidos e candidatos procurarão empresas para financiar suas campanhas, se elas estiverem dispostas ainda a financiá-los, como se pode ver aqui (A memória, os elefantes e o financiamento empresarial de campanha) — e espertalhões da índole de um Paulo Roberto Costa, de um Pedro Barusco, de um Alberto Youssef, voltarão a meter a mão em fortunas, não para fazer “política” mas em benefício próprio, e as mandarão para bancos como o HSBC e paraísos fiscais como os citados no livro “A Privataria Tucana”.

O que é preciso saber, é se essa Reforma Política será efetivamente feita, já que é fundamental e inadiável, ou se a Nação continuará suspensa, com toda a sua atenção atrelada a um processo criminal, que tem beneficiado principalmente bandidos identificados até agora, que, em sua maioria, devido a distorcidas “delações”, que não se sustentam, na maioria dos casos, em mais provas que a sua palavra, sairão dessa impunes, para gastar o dinheiro, que, quase certamente, colocaram fora do alcance da lei, da compra de bens e de contas bancárias.

Pessoas falam e agem, e sairão no dia seis (dezesseis) de agosto às ruas também por causa disso, como se o Brasil tivesse sido descoberto ontem e o caso de corrupção da Petrobras, não fosse mais um de uma longa série de escândalos, a maioria deles sequer investigados antes de 2002.

Se a intenção é passar o país a limpo e punir de forma exemplar toda essa bandalheira, era preciso obedecer à fila e à ordem de chegada, e ao menos reabrir, mesmo que fosse simultaneamente, mas com a mesma atenção e “empenho”, casos como o do Banestado — que envolveu cerca de 60 bilhões — do Mensalão Mineiro, o do Trensalão de São Paulo, para que estes, que nunca mereceram o mesmo tratamento da nossa justiça nem da sociedade, fossem investigados e punidos, em nome da verdade e da isonomia, na grande faxina “moral” que se pretende estar fazendo agora.

Ora, em um país livre e democrático — no qual, estranhamente, o governo está sendo acusado de promover uma ditadura — qualquer um tem o direito de ir às ruas para protestar contra o que quiser, mesmo que o esteja fazendo por falta de informação, por estar sendo descaradamente enganado e manipulado, ou por pensar e agir mais com o ódio e com o fígado do que com a cabeça e a razão.

Esse tipo de circunstância facilita, infelizmente, a possibilidade de ocorrência dos mais variados — e perigosos — incidentes, e o seu aproveitamento por quem gostaria, dentro e fora do país, de ver o circo pegar fogo.

Para os que estão indo às ruas por achar que vivem sob uma ditadura comunista, é sempre bom lembrar que em nome do anticomunismo, se instalaram — de Hitler a Pinochet — alguns dos mais terríveis e brutais regimes da História.

E que nos discursos e livros do líder nazista podem ser encontradas, sobre o comunismo as mesmas teses, e as mesmas acusações falsas e esfarrapadas que se encontram hoje disseminadas na internet brasileira, e que seus seguidores também pregavam matar a pau judeus, socialistas e comunistas, como fazem muitos fascistas hoje na internet, com relação aos petistas.

A questão não é a de defender ou não o comunismo — que, aliás, como “bicho-papão” institucional, só sobrevive, hoje, em estado “puro”, na Coréia do Norte — mas evitar que, em nome da crescente e absurda paranoia anticomunista, se destrua, em nosso país, a democracia.

Esperemos que os protestos do dia 16 de agosto transcorram pacificamente — considerando-se a forma como estão sendo convocados e os apelos ao uso da violência que já estão sendo feitos por alguns grupos nas redes sociais — e que não sejam utilizados por inimigos internos e externos, por meio de algum “incidente”, para antagonizar e dividir ainda mais os brasileiros, e nem tragam como consequência, no limite, a morte de ninguém, além da Verdade — que já se transformou, há muito tempo, na primeira e mais emblemática vítima desse tipo de manifestação.

Há muitos anos, deixamos de nos filiar a organizações políticas, até por termos consciência de que não há melhor partido que o da Pátria, o da Democracia e o da Liberdade.

O rápido fortalecimento da radicalização direitista no Brasil — apesar dos alertas que tem sido feitos, nos últimos três ou quatro anos, por muitos observadores — só beneficia a um grupo: à própria extrema direita, cada vez mais descontrolada, odienta e divorciada da realidade.

Na longa travessia, pelo tempo e pelo mundo, que nos coube fazer nas últimas décadas, entre tudo o que aprendemos nas mais variadas circunstâncias políticas e históricas, aqui e fora do país, está uma lição que reverbera, de Weimar a Auschwitz, profunda como um corte:

Com a extrema-direita não se brinca, não se alivia, não se tergiversa, não se compactua.

Quem não perceber isso — e esse erro — por omissão ou interesse — tem sido cometido tanto por gente do governo quanto da oposição — ou está sendo ingênuo está sendo fraco, ou irresponsável, ou mal intencionado.

 Mauro Santayana é um jornalista autodidata brasileiro. Prêmio Esso de Reportagem de 1971, fundou, na década do 1950, O Diário do Rio Doce, e trabalhou, no Brasil e no exterior, para jornais e publicações como Diário de Minas, Binômio, Última Hora, Manchete, Folha de S. Paulo, Correio Brasiliense, Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil onde mantêm uma coluna de comentários políticos.Cobriu, como correspondente, a invasão da Checoslováquia, em 1968, pelas forças do Pacto de Varsóvia, a Guerra Civil irlandesa e a Guerra do Saara Ocidental, e entrevistou homens e mulheres que marcaram a história do Século XX, como Willy Brandt, Garrincha, Dolores Ibarruri, Jorge Luis Borges, Lula e Juan Domingo Perón. Amigo e colaborador de Tancredo Neves, contribuiu para a articulação da sua eleição para a Presidência da República, que permitiu o redemocratização do Brasil. Foi secretário-executivo da Comissão de Estudos Constitucionais e Adido Cultural do Brasil em Roma.