Aloísio Nunes: de quadro do PCB a Bobo da Corte

Publicado em Brasil2

Por Regis Frati

É grande o número de amigos do passado que hoje se escandalizam com a postura repugnante adotada por Aloysio Nunes Ferreira nos últimos anos. Sou um deles, me entristeço muito com o outrora amigo sempre educado, solicito e gentil, que me acolheu solidariamente em sua casa em Paris e de quando eu, como responsável do coletivo brasileiro, o recebi na escola do PCUS em Moscou, para o seu curso “de comunismo científico”.

Aquele Aloysio era um companheiro bem humorado, bem preparado e sério, analista sensato e profundo, um quadro político que até havia aprendido a ser tolerante, depois de seu fracassado passado na “luta armada” da ALN.

Aloysio na França foi redator de bons textos e um dos principais editores da Voz Operária, nosso jornal clandestino, sob o pseudônimo de Nicanor Fagundes, depois, com a sua volta ao Brasil no pós Anistia, foi muito ajudado pelo velho PCB para o deslanche de sua carreira parlamentar, partido em que militou ainda um tempo, contribuiu com o Voz da Unidade e participou do Comitê Estadual, até que se desligou e optou por “ganhar a vida” no esquema dos cargos de Quércia, depois virou vice-governador e secretário de negócios metropolitanos (CPTU e Metro) de Fleury, em seguida candidato a prefeito de São Paulo, pelo PMDB em uma campanha arqui milionária (eu e Luiz Fernando Emediato fizemos um bom pedaço dela, lembra meu querido amigo Emediato?).

Em seguida, ao perder logo no primeiro turno para Maluf e Suplicy, abandona também o seu padrinho no PMDB, se elege Deputado Federal e se bandeia para o lado dos então inimigos Serra e FHC, seus novos aliados do anti Quercismo e de Covas, se elege novamente deputado federal (sempre mal votado) e em 2010 senador por acaso e sorte, com a morte de Tuma e Quércia e os votos herdados deles na véspera das eleições.

Aí se permite transitar de um vice imposto pelo PSDB de SP na chapa de Aécio, para seu mais novo “cão de guarda”, um típico pitbull desconectado da arte de fazer política de alto nível.

Derrotado, segue firme seu rumo de neo-aecista e hoje é só um “pau mandado” do que há de mais nefasto na elite econômica e política brasileira.

Frustrado por não ter sido escolhido Ministro da Justiça do golpista Temer, acaba se tornando “líder” do governo, indicado por Aécio, mas não conseguiu se impor diante das raposas Eliseu Padilha, Gedel Vieira e até o defenestrado Romero Jucá.

Como “líder” é um perfeito Bobo da Corte, pois não é nada, não lidera ninguém, não fede e nem cheira. Como um dos tucanos mais denunciados (acho que só perde para Aécio e Serra) por “captação” de recursos suspeitos e de caixa dois, hoje o seu maior temor (ou insegurança, como diz o amigo Josè Salles), é de que não prevaleça a operação abafa articulada por Gilmar Mendes, e que todos os cagalhões da CBPO e da delação de Marcelo Odebrechet e de outras empreiteiras venham à tona.

Aloysio, hipocritamente, cospe no prato que por muito tempo comeu e se lambuzou e deve torcer para que a impunidade possa continuar prevalecendo para ele e todos os seus amiguinhos dessa nova fase e rica “empreitada”, mas deve também se preocupar um pouco, pois um dia desses uma delação pode escapar do controle de Gilmar e “a casa caia”, como caiu na cabeça daquele outro vestal desse mesmo Senado, o desmoralizado e corrupto ex-senador Demóstenes Torres, lembram dele?

Regis Frati é ex-dirigente do Partido Comunista Brasileiro e analista político de primeira grandeza.

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